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OLIMPÍADAS, O STANDARD E PORTUGAL 31/01/2011

 

Umas quantas notas ainda a quente após conhecer os resultados das Olimpíadas:

- Os resultados obtidos pelos pombos portugueses nas Olimpíadas da Polónia podem, dadas as circunstâncias, considerar-se aceitáveis. Evidentemente que já foram muito melhores, tanto em Standard como em Sport, mas convém ter em atenção que nos últimos anos os países de leste, tal como era de esperar, vem aumentando de modo significativo as suas presenças nos melhores lugares das tabelas classificativas, reocupando as posições que foram deles antes das convulsões políticas e da guerra com que estiveram “ocupados” nas últimas duas décadas (isto não se vê só na Columbofilia).

- No Standard caímos de 1º lugar em 2005 para 11º em 2011. Em relação ao evento que organizamos na cidade Invicta fomos ultrapassados por 5 países de leste, pelos nossos tradicionais adversários “ocidentais” Alemanha, Reino Unido e Holanda, e ainda por duas “surpresas”, a Itália e a Austria.

- Não tive ainda acesso a fotos e outras referências dos pombos que dominaram o Standard Olímpico em Poznan. Sei, pelo passado, que em Portugal abundarão opiniões com tendência para colocar reticências nos resultados – não só Standard como também Sport – declarados pelas federações de leste. Se até o fazemos de nós próprios – e pelos vistos com alguma razão – é só esticar a desconfiança até aos outros, mesmo sem termos nada em que nos basear, a não ser a nossa famosa intuição.

- Como a Alemanha é, sem sombra de dúvidas, a super-potência do Standard – 2º lugar no Porto 2005, 3º em Ostende 2007, 1º em Dortmund 2009 e 1º em Pozdan 2011 – é o seu modelo que devemos seguir caso queiramos recolocar Portugal na rota do Standard Internacional. Porquê ? Porque além dos resultados obtidos a columbofilia Alemã é muito respeitada pelos portugueses, e não me recordo de ter presenciado qualquer manifestação de desconfiança relativamente aos "mapas" apresentados pelos alemães. Além disso, é um país muito visitado pelos columbófilos portugueses – veja-se o fenómeno Kassel, por exemplo – o que torna teoricamente mais acessível o intercâmbio de pombos e experiências com os alemães do que com os eslovenos, polacos ou checos. Mesmo sem conhecer suficientemente a realidade no terreno arrisco alvitrar que o Standard holandês e mesmo inglês – com quem temos também perdido nas últimas edições -  serão muito próximos, quer em pombos quer em modelos organizativos, do que se pratica na Alemanha. Holanda e Grã-Bretanha são também países de quem nada “consta” em desabono, relativamente à autenticidade das classificações. Em suma, se o Standard praticado na Alemanha, na Holanda e na Grã-Bretanha, além de mundialmente ganhadores são credíveis para os portugueses, jamais aceitarei que não possamos ter também em Portugal uma coisa muito aproximada. É preciso é haver em cada distrito duas dúzias de entusiastas, e não apenas um ou dois como é agora o caso.

- Sou absolutamente contra a opinião de que Portugal não deveria ter apresentado selecção nestas Olimpíadas. É preciso ter em conta o que aconteceu, e o que aconteceu foi, ao que tudo indica - mas ainda não está decidido e transitado em julgado - uma fraude nos resultados praticada por um concorrente. Uma ausência nossa nas Olimpíadas seria, apenas e só, a admissão por parte da FPC e perante a columbofilia de todo o Mundo, de que em Portugal todos os resultados são fraudulentos. Se o fizessem, os responsáveis pela nossa federação, deixariam de ter condições para olharem, olhos nos olhos, todos os columbófilos menos um. Penso que o país columbófilo não iria perdoar isso.

- Nenhum dirigente responsável deve assumir uma decisão de aplicar um castigo quando o suspeito ainda não foi formalmente acusado da prática de uma infracção, e por isso, nem tem ainda fixado o castigo pela entidade jurisdicional competente. Impedir o concorrente (ainda) suspeito de fraude de enviar às Olimpíadas um pombo que reúne as condições legais seria castigar antes da decisão, e por isso, embora um tanto ou quanto contrariado, aceito a convocação. O que não aceito é o concorrente suspeito ter concordado em enviar o pombo. Aí aparenta mesmo que nem ele próprio sabe da gravidade daquilo que lhe é atribuído.

- O modelo competitivo que por cá praticamos é extremamente limitador de bons resultados nas Olimpíadas, principalmente no Sport. Não vale a pena explicar pois todos nós estamos fartos de saber o porquê: a competição entre columbófilos é que domina o panorama desportivo, enquanto que, por outras paragens, primeiro está a competição entre pombos. Talvez por isso, digo eu, somos tentados a idealizar formas de nos adaptarmos às regras internacionais. Os clubes Standard, ou lá o que é isso que muitos falam e poucos conhecem, são o exemplo da criatividade lusitana, com vista à nossa adaptação aos regulamentos internacionais do Standard. De algum modo faz-me lembrar as Associações a regulamentarem concursos de meio-camião nos seus distritais porque, nos campeonatos nacionais, está instituído que numa prova não podem participar mais de 5000 pombos. Mas o que é necessário saber-se é: importa mais praticar o modelo que durante meses a fio nos proporciona diversão e se mostra adaptado às nossas “manias” ou, por causa das Olimpíadas, alterar toda a estrutura competitiva de modo a proporcionar aos pombos portugueses melhores condições de nelas participarem ?

- Qualquer columbófilo que se preze sabe que, num espaço de poucas horas, um pombo pode apresentar-se muito diferente a quem o avalia e manipula. Qualquer pessoa que se preze, e algumas pessoas mais do que outras porque andaram mais tempo a gastar o dinheiro do Estado a frequentar o ensino, devem saber que, ao falar de algo com o intuito de criticar, é de bom tom informar-se minimamente quando se não conhece o suficiente acerca do tema que queremos usar para mexer com alguém. Lançar suspeitas sobre pessoas é, por princípio, uma atitude reveladora de cidadania de baixo nível, independentemente da forma mais ou menos cuidada como se faz o lançamento. E quando esse cuidado existe e é visível que se deve mais a proteger o lançador do que a poupar as personagens visadas, junta-se a cobardia intelectual à falta de cidadania. Os que procuram ser polidos quando afrontam, nem sempre são melhores pessoas do que aqueles que pura e simplesmente ofendem de modo grosseiro... porque Deus não deixou só os pobres no grupo dos bem-aventurados. Parece que lá deixou também os ignorantes.

 

Luis Silva, 31/Jan/2011