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BARCELONAS, MARATONAS E OUTRAS PARANGONAS - 1 15/08/2011

O BARCELONA

Gosto muito de praticar Columbofilia, e especialmente, de enviar pombos às provas de longa distância.

Pertenço a um distrito que, naquilo que à geografia diz respeito, tem razoáveis, para não dizer mesmo decisivas limitações à organização deste tipo de concursos. A associação distrital a que pertenço fez, ao longo dos 35 anos que já levo de praticante, várias tentativas para criar condições de adaptação de pombos e columbófilos à linha de voo até Barcelona, a única que permite ao distrito voar até, e mesmo além dos 800 quilómetros. A estas, devem juntar-se outras, também em razoável quantidade, que foram levada a cabo por distritos vizinhos, com o mesmo resultado. Recorrendo a documentação que possuo, e que permite recuar até notícias dos anos 60, verifico que os “desastres” nela relatados predizem afinal o que viria a ser a minha própria experiência, ou seja, não é aconselhável que, para efeitos do calendário oficial obrigatório, os pombos das associações consideradas do norte, saiam da sua linha de voo tradicional -  Sul com rotação para Sudeste.

Definitivamente está pois comprometida a primeira medida, e na minha opinião a mais importante, que pode ser adoptada por quem decide, no sentido de proporcionar aos pombos as melhores condições de participarem numa corrida de grande fundo, e que é a existência de um calendário de provas que, desde a velocidade, se vai esticando até aos concursos de maior distância. Existindo estas condições, penso que ao fim de três ou quatro anos os concorrentes terão usufruído da principal ferramenta que, a seguir à qualidade dos pombos, lhes permite formar uma verdadeira equipa de “papadores de léguas”.

Tendo, por várias ocasiões ficado demonstrado que o benefício – satisfação de um gosto de uma minoria onde me incluo – é claramente inferior ao custo, este que é representado pela perda de incontáveis quantidades de pombos, pombos esses que pertenciam aos que queriam, mas sobretudo aos que até nem queriam participar na “aventura”, não valerá a pena insistir. Ponto final, até porque, desde que me lembro, sempre entendi que respeitar as minorias não implica impor aos restantes a vontade das ditas. O olha para o que eu digo e não para o que faço não é, por outro lado, um dos meus lemas favoritos, e por isso, acho que tenho vindo a adaptar-me muito bem às regras escolhidas pelas maiorias, sempre que, como várias vezes acontece, destas não faço parte quando opino.

É verdade que essa coisa da democracia já teve melhores dias mas, pelos menos enquanto o dia 25 de Abril for feriado em Portugal, conviria não esquecer os valores que alegadamente lhe estão adjacentes, a começar por essa tal democracia, que é a mesma que uns quantos gostam de invocar mas “só quando lhes cheira”.

Está introduzido o tema Barcelona, que tanta conversa motivou na presente campanha, na anterior, e na outra, e na outra e na outra.  E no grupo dos que mais sobressaíram a “botar faladura”, atacando as pessoas com responsabilidades organizativas nesse evento, lá apareceram muitos que não mandaram sequer pombos à minha prova preferida, nem no último, nem no anterior, nem no outro, nem no outro… e muito menos alguma vez. Coisa de columbófilos…

Em 2011 encestei para Barcelona uma equipa de oito dos cerca de cento e vinte atletas com que iniciei a campanha desportiva. Essa equipa era maioritariamente composta por barcelonistas, alguns deles repetentes, e até mesmo a fêmea que em 2010 havia regressado no próprio dia da solta.  Dos oito nem sequer um veio até hoje. De quem é a culpa ?  Obviamente que é do próprio Barcelona.

Nunca me tinha acontecido tal mas, melhor do que quase todos, eu sei que existe sempre uma grande probabilidade de isso acontecer. Praticamente todos os barcelonistas que possuí ao longo dos anos foram perdidos num Barcelona seguinte, e já agora deixo a explicação que, no meu pombal, um pombo que consiga regressar de um Barcelona dentro do controle, é considerado um barcelonista. Quis o destino que, em 2012, eu não tenha sequer um para enviar, mas adianto já que só uma catástrofe irá impedir-me de participar.

Sei, pelo que ouço e vejo, que o grau de dificuldade do Barcelona não é comum a todos os columbófilos portugueses, e estou convencido que os pombos de alguns dos outros distritos enfrentam no regresso ainda mais dificuldades que os meus. Entretanto, muitos outros, pela menor distância e/ou pelo facto de voarem tradicionalmente essa linha de voo, podem encarar a prova com menores preocupações. Talvez por isso, uma coisa banal para esses colegas – ter um pombo regressado de Barcelona – é no meu pombal coisa mais rara, que por si só, confere ao herói, o direito a um título que tem o propósito de ser honorífico. Não admira portanto que algumas vozes se manifestem a favor de um Barcelona em finais de Maio, obrigatório nos calendários de todas as Associações, associado ainda à proibição de quaisquer outras provas no mesmo fim de semana. Uma medida perfeitamente “comestível” para alguns, seria um verdadeiro transtorno para a maioria esmagadora dos columbófilos e Associações portugueses.

É assim o Barcelona. Terrível. Por isso, cá para os meus lados, só um número reduzido de columbófilos lhe são fiéis. Como já abordei neste meu espaço em “Danças com Burros”,   … já esperei pombos de Barcelona com calor, com chuva, com vento a favor, com vento contra… mais cedo com chuva, mais cedo com calor, mais cedo com providência, mais tarde sem providência, mais longe e mais cedo, mais perto e noutra época, enfim…  nenhuma vez este concurso teve a sua classificação encerrada com 20% de pombos chegados dentro do período de constatação (no meu distrito).

Aparentemente, não há mais nada que uma organização do Barcelona possa fazer para mudar esta realidade, não obstante toda a sua competência e empenho. Foram muitas horas de discussão e trabalho que algumas das pessoas que considero experientes e conhecedoras da columbofilia nacional tiveram ao longo de décadas, na tentativa de transformar o Barcelona numa verdadeira Clássica Nacional com prestígio internacional. Em vão. Todas as tentativas de mudar para melhorar não produziram os resultados esperados, seguindo-se o regresso ao ponto de partida. Diria mesmo que, em 2011, e pelo menos para os columbófilos nortenhos, as coisas correram tão mal que na próxima corrida nem sequer no ponto de partida estaremos… quem lá quiser ir, vai mesmo ter de largar das “boxes”.

Luis Silva 2011-08-15