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DOBRADINHAS 03/10/2011

Sabe, quem me conhece, da minha dificuldade em desprezar provocações, e não há tempo que me chegue para responder a todas.

Tripas à moda do Porto é uma das provocações que me faz largar quase tudo. Há quem diga Dobrada deste delicioso pitéu, ou pelo menos, de algo que também se faz com feijão e as tripas do boi ou de um seu parente próximo.

Vi os homens dos pombos de corrida falando de dobradinhas. Grandes petiscadas tenho eu feito com a minha gente dos pombos, e pois claro, pensei logo nos feijões mais as tripas, e por via das “inhas”, em porções à maneira de chegar para todos. Mas não, não é nada que se mastigue, é só para engolir qualquer coisa em dose dupla, no caso corridas de pombos de corrida. Pela das tripas ponho-me a caminho, por esta de que falam não dou um chavo.

Nunca bem me entretive a fazer duas qualquer coisas ao mesmo tempo. Se fossem duas seguidas, houve tempo em que pelo menos os azimutes eram tirados. Com a ajuda da idade, agora, uma de cada vez e viv'ó velho.  

Ainda mexem, graças a Deus, algumas almas boas em busca de algo que aproveite à causa que, com muita pena de alguns embusteiros, ainda está longe de estar perdida. Tais columbófilos, como foi recentemente no fórum do columbofilia.net, conseguem levantar ou opinar sobre questões que de facto merecem a meditação de quem toma decisões. Os que se expressam descomprometidamente sem logo aproveitarem os holofotes para discorrer sobre outros assuntos, destilando velhos ou novos ódios, quase sempre derivados duma qualquer vaidade pessoal ferida, são os raros bons exemplos donde, de quando em vez saem as tais pedradas, não no charco mas no vespeiro em que se tornou o debate de ideias da nossa columbofilia. As vespas até são figuras de alguma elegância, quer no porte quer nos modos, quando comparadas com alguns indivíduos que se acham no direito de ter direitos na Columbofilia. Que não me levam a mal, elas as vespas.

E é verdade que as dobradinhas de concursos não são de aconselhar como regra, e são sempre de ponderar nas emergências, a menos que o Geral que o meu povo quer, lhe seja tirado em nome duma coisa meia romântica que cada vez menos se ouve defendida, as especializações, essas que, a serem adoptadas num ambiente de dirigismo amador, serão necessariamente adoptadas por columbófilos e colectividades ao mesmo tempo – e que ninguém se esqueça deste pormenor.

Poderia elencar um conjunto de situações que fundamentam a minha discordância relativamente à realização de mais do que uma prova em simultâneo. Todavia, no referido fórum, as aparências apontam para uma confluência muito evidente de opiniões do tom da minha. Mantém-se o Campeonato Geral como o “marcador do passo” e, com ele vivo e de melhor saúde que a própria columbofilia, aconselham-se muitas cautelas relativamente a  processos pretensamente inovadores.

A maioria esmagadora dos columbófilos portugueses não tem condições para ir a duas provas no mesmo fim de semana, o que, ressalvando a necessidade de salvaguardar as questões regionais que muito respeito, equivale a dizer que mais de 18 provas por ano é uma violência. E não nos esqueçamos das colectividades e dos seus dirigentes, estes que sendo violentados enquanto columbófilos, serão depois escravizados no exercício das suas funções, quais “burros de carga” de toda a gente, e de todos os regulamentos que, pelos vistos, ainda se diz que não sabem ou querem cumprir.

Não obstante as evidências demonstrarem que muitos mais do que muitos não querem dose dupla de provas ao fim de semana, quem decide na colectividade ou associação é sempre confrontado com um dilema: dar ou não dar algum crédito à minoria, e neste caso, ponderar nas suas decisões a existência de um muito considerável conjunto de pessoas que, primeiro podem e depois querem, investir na columbofilia somas de dinheiro e de tempo muito mais consideráveis que a maioritária generalidade dos colegas. É que, quer se queira quer não, eles são o elemento que torna viáveis muitas colectividades, bem como tudo o que delas depende, incluindo os columbófilos de menores recursos que nelas encestam. É razoável pois que esses praticantes sintam que merecem mais do que 18 provas por ano a 15 pombos por concurso. 

Não é fácil acudir a todos os dilemas sacando a solução da algibeira. Ainda assim, essa coisa das dobradinhas de concursos é, digo eu, uma solução de busca fácil num bolso descosido, ou seja, já lá estava quando as costuras estavam boas. Há mas é que ir atrás no caminho palmilhado procurar e reaproveitar o que, entretanto e sem darmos atenção, foi saindo pelo roto e  caindo... por aí.

Luis silva, 03/Out/2011