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VACINAS - TAKE 189 09/08/2015

Há por aí gente que atribui a si própria o estatuto de cidadãos com direitos especiais. Comportam-se tal e qual como se as mais elementares Leis do Estado fosse algo que apenas se aplica aos outros, sobretudo quando se trata de deveres. Para os direitos quase nunca é necessário alertá-los. Se procurarmos encontraremos columbófilos nessa turma pois não somos assim tão diferentes das outras pessoas.

As reacções ao Comunicado da Federação Portuguesa de Columbofilia do passado dia 30 de Junho, relacionado com a certificação da vacinação, veio confirmar que existe um gigantesco fosso que separara os columbófilos da estrutura que tutela a modalidade. Esse fosso impede que praticantes e dirigentes interajam entre si a um nível minimamente aceitável, e foi aumentando de tamanho nos últimos trinta anos com o inconsciente patrocínio da própria classe dirigente que, obstinadamente “entretida” na busca de meios para a edificação de sedes, para aquisição de meios de transporte e outros equipamentos, enfim, empenhada na construção de colectividades que são ainda hoje modelos mesmo para outras modalidades, não se apercebeu que alimentava também uma colónia que cada vez mais, aprendia a saborear a comodidade de fugir a responsabilidades e obrigações. O resultado é um paradoxo: ao mesmo tempo que melhoraram as condições de habitabilidade e funcionalidade dos clubes, diminuiu a convivência e o calor humano dentro das suas paredes, perdendo-se, entre outras coisas, grande parte daquele que constituía o melhor veículo de propagação das notícias que Associações e Federação divulgavam pelos meios convencionais, concretamente, as tertúlias de columbófilos.

É verdade que toda essa informação ficou entretanto disponível noutros locais, neste caso na Internet, e quase todos somos hoje utilizadores das novas tecnologias. Contudo, nessa imensa janela de propaganda, mesmo sem nos afastarmos do tema “Columbofilia”, estão disponíveis outros conteúdos cuja consulta é mais apelativa do que normas vertidas em circulares e comunicados. Por isso, e como foi agora o caso, só quando algo de novo ameaça mexer com a indiferença e o desleixo é que muita gente desperta do cómodo alheamento, e acordar… acordar meus caros, é quase sempre uma chatisse dos diachos.  Resultado: brotam em catadupa as reacções carregadas de negativismo e revolta. Não me revejo nestas posturas mas, até certo ponto, percebo-as. Afinal em que país estamos e que exemplos temos vindos das personalidades a quem compete administrá-lo ?

Mas entremos no tema das vacinas, numa parte adiantada das filmagens que parecem nunca mais terminar. A Federação veio impor uma nova regra para a certificação do acto, passando a exigir a apresentação da factura da compra da vacina.

Não podemos deixar de aplaudir mais uma tentativa da FPC de credibilizar o cumprimento duma obrigação que é de todo e qualquer columbófilo. Quem for contra esta medida não é um Columbófilo consciente, e como adepto do respeito pelas nossas leis, assumo sem rodeios que no meu modelo de Columbofilia não há espaço para gente conscientemente inconsciente, ainda que os saiba vítimas de aldrabões e aldrabices.

Só que, sendo certo que mais vale tarde que nunca, este comunicado chegou alguns meses atrasado. De resto, a própria FPC já voltou à cena com uma emenda ao soneto inicial, sendo previsível que, se realmente existia, a tal aldrabice vai sobreviver em 2015. Como se calcula, “toda a gente” já tinha comprado a vacina quando saiu o comunicado de 30 de Junho.

Para “alindar” o cenário, a única marca homologada que mantém algum interesse no mercado nacional, não estará a cumprir a promessa feita à Direcção da FPC, pois, ao que se sabe, não está fácil encontrar o produto no mercado. Os Columbófilos sentem-se desorientados entre a obrigação de cumprir e a impossibilidade de o fazer. Quer se queira quer não, só há uma porta onde podemos ir bater, e se o fizermos ordeira e civilizadamente, não restará à FPC outro caminho que não seja o “enfrentar” de uma vez por todas o problema, apoiando-se nos Columbófilos. E como ?

Poderia ser criada uma ferramenta no site da FPC destinada a registar todas os casos de columbófilos que tenham tentado e não tenham conseguido adquirir vacinas no circuito instituído – farmácias ou casas de especializadas em produtos veterinários.  Presumo que não seria necessário muito tempo para juntar um volume de “queixas” que permitisse à Federação, “preto no branco”, confrontar quem de direito com a realidade, e depois, alguém que não os Columbófilos, que se assumisse fiel depositário da batata quente.

E, obrigação à parte, não pode ser esquecido o problema fundamental. Terão nascido nas últimas semanas algumas centenas de milhar de pombos correio em Portugal. Esses futuros atletas estão desprotegidos caso não possam ser imediatamente vacinados. NÃO PODEMOS ESPERAR pelo final das férias (de alguns)… E NÃO !!!

Se entretanto o mercado tiver sido abastecido, ficarei muito mais tranquilo, e retiro a sugestão.

Luis Silva

2015/08/08