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MÉTODO DA VIUVEZ 18-02-2008

Método da Viuvez

Como é do vosso conhecimento existem dois grandes sistemas para jogar os pombos - a Viuvez e o Natural.
Depois destes ou entre estes dois sistemas, utilizando elementos de um ou de outro, combinados com maior ou menor perspicácia, existem ainda vários outros sistemas a que chamarei “Menores” olhando ao facto de que são praticados por mais escasso número de columbófilos.
São exemplos destes sistemas menores, a viuvez das fêmeas, a semi-viuvez, o celibato, “os pombos individuais”, etc. Dentro mesmo da viuvez, em sentido amplo, e do Natural, tomado na mesma acepção, existem mil e uma variantes. Não pode porém, ser pretensão deste pequeno trabalho uma referência a tais variantes porque tal implicaria um estudo demasiado extenso e não compatível com os moldes que propositadamente escolhi.
Conforme tenho podido observar, é preocupação dominante no nosso meio o conhecimento, pelo menos nas suas linhas gerais, do que constitui “0 SISTEMA DA VIUVEZ”.

Grande parte dos nossos amadores apenas conhece por alto essas linhas gerais e esse desconhecimento quase total leva-os a seguir com ansiedade os resultados obtidos pelos poucos viuvistas que voam seus pombos neste método. Direi mesmo que o fazem, esperando assistir a um fracasso total das suas colónias para que depois possam respirar aliviados das suas consciências o peso que nelas sentem, ditado precisamente pela circunstância de não conhecerem a fundo o sistema.
Eu pretendo, por conseguinte, e oxalá o consiga, dar uma noção de conjunto do que constitui a viuvez, e oxalá consiga também esbater a crença um tanto arreigada, de que o nosso clima não se coaduna com o jogo dos viúvos.

A viuvez é hoje, o sistema rei em todos os países evoluídos em matéria de columbofilia. Há mais de 60 anos que se pratica na Bélgica, pátria do nosso Desporto, e há pelo menos 50 anos também que se pratica no nosso próprio País, principalmente no norte de Portugal. Já vai longe o tempo em que ela era apanágio de meia dúzia de privilegiados que, descaradamente, exploravam ao máximo os seus confrades numa luta com armas desiguais, procurando por todos os meios evitar que o seu “segredo” fosse divulgado. Hoje toda a gente pode saber como se faz a viuvez e toda a gente a pode fazer. E, se em quase todo o mundo columbófilo ela se pratica, por que razão haveremos nós de constituir uma excepção?
Não vamos, assim o julgo, cometer a vilania que acabo de apontar, deixando que os outros abram por si os olhos, aproveitando a sua ignorância ou descrença para os irmos vencendo implacavelmente? Não o devemos fazer. Para obter sucesso a longo prazo em Columbofilia é preciso atender com todo o escrúpulo aos quatro factores seguintes: Saúde, Acasalamento inteligente e bem conduzido, Criação sem defeitos, Jogo bem planeado e planos rigorosamente seguidos.

E agora perguntar-me-eis: Mas que tem o acasalamento e a criação a ver com a viuvez? E direis, convencidos. que “o que é preciso é puxar pelos pombos, obrigá-los a vir á frente dos seus antagonistas”. E eu responderei que sem saúde e sem borrachos fortes e desenvolvendo-se na perfeição nada se pode fazer. Todos estes factores estão intimamente ligados e aquele que quer verdadeiramente ser columbófilo, em toda a acepção da palavra, tem de o querer ser em todos os dias do ano.
Vejamos um exemplo: Para um pombo vencer uma prova, tem de estar em forma ou em super forma.
Sem a saúde esta não é possível. E a saúde é consequência directa da constituição física do pombo depois de lhe serem prodigalizados todos os cuidados indispensáveis. A constituição física do pombo é o resultado do processo do seu desenvolvimento progressivo e inalterável desde o momento que sai do ovo, ou recuando ainda desde a data em que se dá a fecundação do óvulo. E a fecundação só pode ser garantia de produtos perfeitos, equilibrados, sem taras, se os pais possuírem já de si todos esses requisitos e além disso no momento dela se dar, se estiverem em perfeito estado de saúde.

E aqui tendes como voltamos sempre ao ponto de partida.
Vejamos então onde devemos canalizar com maior intensidade as nossas atenções:

AS INSTALAÇÕES:

Para jogar convenientemente na viuvez deve possuir-se um pombal que comporte, polo menos, três compartimentos. Estes destinar-se-ão: um, aos machos viúvos, outro aos reprodutores e borrachos, do onde podem também ser jogados alguns pombos ao natural, e outro, o terceiro, as fêmeas viúvas. Este é a meu ver, a mínimo dos mínimos, porque o ideal será possuir 5 compartimentas: um para viúvos, outro para reprodutores e natural, outro para borrachos separados, outro ainda, no género “voliére” para as viúvas e um último, pequeno, destinado a lazareto.

0 pombal deve ser construido de forma a que no seu interior se possa garantir um arejamento perfeito, sem correntes do ar, como é evidente, e uma temperatura o mais possível sem rápidos desníveis durante as 24 horas do dia. Tudo isto se pode conseguir com entradas do ar indirectas, por exemplo, com persianas, com uma caixa do ar em toda a volta do pombal e maior em cima do que dos lados. Um bom processo do se obter uma larga extracção do ar viciado de dentro do pombal é o da colocação duma chaminé no telhado.
Além disto, o pombal deve ser bem seco e bom exposto á luz, bem banhado pelos raios solares. 0 chão, de preferência, deve ser em madeira a afastado do solo o suficiente para que esta se mantenha sempre seca. No soalho, também, devem ser evitadas as frinchas, pelos vários inconvenientes que delas podem advir, dos quais o menor não é com certeza o das correntes do ar que originam.
Entre nós, principalmente durante a época dos concursos, há mudanças bruscas e muito acentuadas do temperatura entre a noite e o dia. De dia, podemos ter um calor superior ao dos melhores dias do verão europeus, mas de noite, com a queda da cacimba, temos um arrefecimento brusco e muito pronunciado. Todos nós conhecemos os efeitos nefastos que estas mudanças produzem no nosso organismos quando a elas nos expomos. Ora, os nossos pombos são seres vivos tal como nós e, mais do que nós ainda, sensíveis ás alterações bruscas da temperatura. Sem obviar a este terrível inconveniente, não é possível obter a forma num pombal do viúvos. Eu creio, porém, que em grande medida, o forro, principalmente no tecto, pode resolver o problema, que é, repito-o, dos mais graves, para a columbofilia em geral, e para a sistema do viuvez, em particular, em regiões com condições climatéricas idênticas ás do nossa.
Os casulos para a jogo do viuvez devem ser amplos (á volta de 75x45x40cm) fáceis do limpar e devem poder ser divididos ao meio, com uma divisão móvel que permita, quando o jogo o exigir, separar macho e fêmea, de forma a que estes se possam ver e acariciar, mas não possam ter contactos sexuais. Não são necessários luxos, porque estes em nada contribuem para a melhoria do rendimento desportivo, mas sobriedade e, muito essencialmente, tudo a que facilite a limpeza e mais cuidados de higiene.
A entrada dos pombos deve ser ampla, rasgada e, tanto quanto possível sem obstáculos. 0 pombo viuvo é um desesperado que dá tudo quanto pode para se encontrar com a sua fêmea, no ninho que lhe pertence, mal aviste o pombal ou as suas imediações, todas as suas forças, mesmo que sejam as últimas, são concentradas no sentido do entrar a mais depressa possível. Por vezes a próprio tratador não chega a ter tempo do fazer uso do apito porque a entrada é tão rápida quase como o pensamento.

Esta característica da viuvez é sem duvida das que mais têm contribuído para conquistar adeptos para o sistema. E não tenhamos ilusões: se num bando do 20 pombos, vier um viúvo contra 19 ao natural, o viúvo bate todos os adversários na entrada. E hoje, que a columbofilia evolui, que em todos os pombais aparecem bons voadores e que em todos as concursos há sempre bastantes pombos em forma, o final da prova, o “sprint” e a entrada são decisivos para a classificação. Por vezes, até nas grandes provas de fundo, a entrada rápida dá acesso aos melhores lugares. É vulgar verificar-se tal facto nas provas internacionais, por exemplo, quando são disputados os concursos distritais e nacionais; a até mesmo nós, não obstante o reduzido contingente que encestamos nas grandes distancias, já tivemos a oportunidade de verificar na prática esta verdade.
Já vai longe o tempo em que “segundos” não interessavam, em que os pombos chegavam e entravam calmamente no pombal, quando não eram apanhados por engenhos complicadíssimos como se se tratasse de aves selvagens que tivessem de ser caçadas em plena Natureza.

A localização do pombal é também um pormenor a ser estudado com todos os cuidados. Aquele deve estar situado em local o mais possível calmo, limpo, sem vizinhanças que por qualquer forma possam prejudicar a saúde dos pombos, como esgotos, fumos do chaminés, etc. Nos suas imediações não deve haver obstáculos que dificultem a evolução das aves nos seus treinos diários.
Deve ter a entrada orientada para nascente, norte ou poente, ou qualquer ponto colateral ou intermediário compreendida entre estes. Fujamos do sul ou sudoeste pois são as mais expostos ás intempéries e que menos possibilidades dão do sol entrar no pombal. Note-se que quando digo a “entrada” refiro-me àqueles pombais do modelo clássico que são utilizados entre nós e em que à entrada corresponde o lado do pombal por onde entra também a luz e o sol.

Por último, encerro estas considerações a propósito das instalações com umas breves palavras sobre higiene. Esta é fundamental, é básico, e todos os cuidados que se possam despender pare que ela seja mantida nunca são demais. Com um pombal bem construído, bom localizado e orientado, que se mantém escrupulosamente limpo, está dado o primeiro passo para vencer nos concursos.
Se obtivermos bons pombos, do boa origem, para o nosso pombal modelo e os alimentarmos racional e convenientemente, teremos dado outro importante passo. Que não haja também ilusões neste capítulo. Com maus pombos ou mal alimentados, também não há sistema, por melhor que seja, que os faça regressar mais rapidamente, esta é uma verdade axiomática que se impõe a qualquer principiante. Pena é que na maior parte dos casos estes se vejam forçados a perder alguns anos a aprender (à custa de muitos dissabores) para depois poderem realmente saber escolher os bons pombos.

A ALIMENTAÇÃO:

Este capitulo é dos que mais amplamente têm sido tratados nos obras da especialidade. De tudo o que tenho lido e podido verificar, posso concluir que o único ponto assente e não sujeito a controvérsias é o seguinte: o regime alimentar deve ser equilibrado, deve procurar fornecer aos pombos as energias de que necessitam, consoante o trabalho que têm de realizar, mas deve, acima de tudo ser constituído, no que diz respeito às sementes que o compõem, por grãos de óptima qualidade, muito sãos, sem cheiros, com elevado poder do germinação e escrupulosamente limpos. É de aconselhar, caso necessário, de lavar as sementes e deixá-las depois secar durante muitas horas ao sol. Mesmo assim, não podemos ter a certeza do estar a utilizar grãos de óptima qualidade mas já temos, pelo menos, feito aquilo que estava ao nosso alcance.

Quanta ás percentagens a utilizar na composição das rações devo dizer que já vi autoridades no assunto recomendarem uma ração quase só à base de leguminosas e outras, com não menor cotação, recomendarem o mesmo quanto aos cereais. Eu já experimentei das duas maneiras e os resultados foram sensivelmente os mesmos, mas reconheço a superioridade duma ração composta na sua maioria por cereais.
0 problema, de resto, é muito vasto a eu não posso de forma nenhuma passar do ligeiras considerações. E para abreviar, apenas quero chamar a atenção para o que diz respeito à utilização das sementes oleaginosas e um ou dois aspectos mais. As oleaginosas que temos ao nosso alcance são a colza, a linhaça e o girassol, e devemos utilizá-las em muito pequena escala visto que o nosso clima não se compadece com outro procedimento. De todas a que me parece mais inofensiva é o girassol. Utilizemo-lo por exemplo, numa percentagem de 5% durante a muda. A linhaça, deixemo-la pare as ocasiões em que submetemos as pombos a dieta ou a um regime depurativo, e a colza vamos apenas lançar mão dela com infinitas cautelas, nas vésperas dos encestamentos, quando for preciso dar uma chicotada na forma, que teima em não se revelar de alguns viúvos.

Se alimentarmos com cuidado durante todo o ano sem excessos, procurando ter sempre os pombos sob uma ponta do fome (a que nos permite encher-lhes o papo na refeição da tarde e deixá-los ao mesmo tempo sempre na ilusão de que não comeram tudo o que tinham na vontade) teremos as nossas aves disciplinadas, saudáveis, bem mudadas e aptas a iniciar com êxito quer a criação quer a época dos concursos, (não devemos esquecer, também, o preceito altamente higiénico de, de tempos a tempos dar um dia de jejum completo a toda a colónia; claro está que nesse dia as aves não devem fazer qualquer espécie de exercício).

Tenhamos à disposição dos nossos pombos sempre, ou melhor ainda, durante uma ou duas horas por dia, “grit”de todas as espécies que possamos obter, bloco salgado ou, na falta deste, sal refinado, carvão vegetal, tijolo e areia da praia. Vamos também servir-lhes, dia sim, dia não, verdura migada. Depois de se habituarem a ela, comem-na tão depressa como a ração de grãos. E, por verdura, entendo: couve (as talos do couve), cenoura, cebola, espinafres, alface, agriões, etc. Misturemos tudo e se quisermos, podemos até acrescentar-lhe uma pitada de sal refinado.

Outro importante elemento que se pode juntar á ração de grãos é o das sementes germinadas, com especial relevo para a trigo, muito rico em vitamina E. A água deve ser limpa e fresca, nem quente nem gelada. Os bebedouros devem ser limpos do cada vez que são utilizados e escaldados pelo menos uma vez por semana. Se quisermos desinfectar a água das coccidias, que principalmente no tempo húmido muito se propagam através e quisermos deste veiculojuntemos algumas gotas de vinagre á água, mas paremos do tempos a tempos. 0 bebedouro não deve , permanecer no pombal fora das horas das refeições. Os pombos depressa se habituam a beber apenas na altura em que comemisso só os pode beneficiar debaixo de todos os aspectos, além de que evitamos que bebam a água , e suja do poeiras ou outros detritos que necessariamente acabam por lá ir parar.
Problema grave que nós por vezes também temos é a da pobreza da água que utilizamos. Como obviar a este inconveniente? É difícil encontrar a termo exacto mas tentemos, PROCURANDO SEMPRE NAO CAIR NO EXAGERO. Durante a muda, principalmente, podemos dar água ferruginosa e acrescentar-lhe também, uma ou duas vezes, por semana, um pouco de fosfato de cálcio. E ainda (eis-nos chegados a um ponto nevrálgico) podemos também adicionar-lhe vitaminas, ou melhor, um
complexo de vitaminas rico em cálcio, vitamina A, B1, B2, C e D. 0 ideal será servir um complexo expressamente preparado para pombos mas, na falta deste, utilizemos mesmo outro qualquer como o Protovit, a Polivitaminico, a Varimine ou outros. Nunca exageremos, porém, porque a excesso de vitaminas pode ser tanto ou mais nocivo do que a avitaminose. E se não fosse o saber que as sementes que temos no mercado não são necessariamente do melhor que há e que a água de algumas cidades, como já disse, muito pobre em elementos minerais, eu não falaria sequer em vitaminas.

Preconizar-vos-ia, sim, um regime como se segue de harmonia com o que prescreve o escritor columbófilo belga Leon Petit: alimentação variada e racional; uma ração de legumes dia sim, dia não, o sumo dum limão de 15 em 15 dias; no principio do tempo frio, duas gotas de óleo do fígado de bacalhau por cabeça e por dia durante duas ou três semanas. E trigo germinado durante todo o ano. Desta forma, os nossos pombos teriam tudo do que precisam para se manter saudáveis e em forma na altura em que a forma fosse necessária.

Para encerrar estas notas breves sobre a alimentação, quero chamar-vos a atenção para o seguinte: Quando fornecerdes sumo do limão ou de laranja, ou vitaminas, aos pombos, fazei-o através da água, num bebedouro muito limpo e, de preferência, em vidro, a nunca utilizeis a mesma água dumas refeições para as outras porque as vitaminas depressa se alteram.
Ocorre-me ainda, para finalizar, um outra elemento de muita utilidade, principalmente na época dos concursos - o açúcar. Este é o alimento dos músculos, como dever saber. Há grandes campeões que o dão durante todo o ano, quer sob a forma de glucose, quer de açúcar cristalizado, ou ainda de mel das abelhas. Eu tenho uma especial predilecção por este último que é considerado pela grande maioria como um tónico excelente. Mas cuidado também com o açúcar porque este, em excesso, desmineraliza, descalcifica.

RAÇÃO DE VOO:

“Uma mistura comercial de concursos”. É muito corrente na Bélgica a utilização, mesmo por grandes ases, destas rações já encontradas prontas no comércio. Entre nós tal facilidade não existe e eu vou dar-vos á escolha 3 tipos de ração de voo, das quais podereis escolher consoante os vossos gostos. Ireis ter oportunidade de evocar as considerações que já aqui teci acerca da composição das rações.

1º Tipo de ração de voo, deve ser a seguinte:
Fava (ou feverol) – 10%; Ervilha – 10% ; Ervilhaca – 6%; lentilha – 5%; Milho – 20% ; Trigo –20%; Cevada – 5%; Dari – 5%; Girassol – 5%; linhaça - só á 2ª feira; Colza –5%; Cânhamo –5%; milho alvo – 5%.
Temos portanto 30% de leguminosas, 55% de cereais e 15% de oleaginosas.

2º Tipo de ração de voo (de combate):
Ervilha – 31,5%; Feverol (fava) – 10,5%; Ervilhaca – 15,7%; Dari – 10,5%; Cevada – 10,5%; Trigo– 10,5%; Girassol – 10,5% .
Nesta ração há uma diminuição considerável na percentagem das oleaginosas em relação à anterior, visto que apenas estabelece 10,5% destas sementes; e há de notável o facto de não utilizar milho de espécie alguma. Estabelece pois 57,7% de leguminosas e 31,5% de cereais. Precisamente o contrário da anterior.

3º Tipo de ração de voo (ração básica - (destinada a ser completada pala utilização de mel na água ou Leite açucarado de forma a que cada pombo receba por dia 2 gramas de açucar, por verdura variada, trigo germinado e óleo de fígado de bacalhau, na dose do 2 gotas por pombo e por dia):
Ervilhaca nova – 55%; Feverol ou fava – 10%; Trigo – 5%; Milho – 10%; Cânhamo – 6%; Arroz c/casca – 10%; Milho alvo – 4 %.
E, assim temos nesta ração, cuja utilização é cientificamente garantida, onde vem incorporada 65% de leguminosas; 29% de cereais e 6% de oleaginosas.

Se eu me dispusesse a citar-vos tudo o que tenho visto e lido sobre este fundamental problema de alimentação, não sairíamos daqui hoje e, o que é pior, chegaríamos á conclusão de que “cada cabeça cada sentença”.
Deixo por conseguinte ao vosso critério, a escolha do tipo de ração, e desde já podeis ficar certos de que se respeitardes as normas que vos dei, de estabelecer uma ração variada, limpa e escrupulosamente sã, não é ai que deves procurar as causas dos insucessos, se os vierdes a ter.

E eis-nos em frente de mais dois dos quatro factores do sucesso que de inicio apontei ...

ACASALAR E CRIAR :

Vamos passá-los em conjunto e ver sucintamente os seus aspectos fundamentais.

Os nossos pombos devem estar preparados para a viuvez por uma longa e dura separação. Eu considero este ponto essencial. 0 clima nos meses da grande muda, é altamente propício à procriação e se não separarmos os sexos, corremos o risco do vermos os machos numa interminável caça ao ninho e as fêmeas esgotando-se em posturas inúteis. É evidente que há outro processo muito seguido no norte da Europa, e que consiste em obrigar os pombos machos e fêmeas a permanecer todo o dia fora do pombal, onde só passam a noite e onde claro está, não possuem senão poleiros individuais. Mas entre nós, com o calor e humidade dos meses do Dezembro a Março, parece-nos bastante duro submeter a colónia a esta prova.
A separação dos sexos, por conseguinte é o melhor e mais seguro meio de se obter uma boa muda e um repouso eficaz. Mas, cuidado com os intervalos que alguns columbófilos introduzem nesta separação. 0 nosso clima tropical não favorece essas interrupções lúdicas e normalmente elas traduzem-se num acréscimo de excitação que só é prejudicial. Isso pode e deve até fazer-se nos dias mais frios de Inverno para elevar um pouco o moral dos pombos. Mas entre nós, a realidade é outra e, frio a sério nunca o temos na época da separação.

Portanto, após o fim da Campanha, vamos reacasalar os nossos viúvos, deixá-los criar uma vez e separá-los depois, definitivamente, quando tiverem novamente choco de 10 ou 12 dias.

Desta forma, como dizia, com os pombos preparados por uma longa separação, a que foram submetidos também os reprodutores, onde os houver, vamos pensar em reacasalá-los. De antemão devemos saber quais as fêmeas que destinamos aos melhores machos, já devemos ter os casais prontos no papel. Oito dias antes da data escolhida, coloquemos os ninhos no pombal, se os tivermos de lá retirado, e demos a cada pombo o casulo que preferir. Durante este período de oito dias, os pombos devem familiarizar-se perfeitamente com o ninho que lhe foi destinado pelo que o ideal é começarem já a beber e a comer lá dentro, sistema que entendo dever ser seguido durante toda a campanha. É claro que só devem ficar no pombal de voo os futuros viúvos, para evitar que quaisquer outros venham criar problemas como lutas pela posse do ninho que tantas vezes acabam com as principais rémiges partidas.
Reforcemos a alimentação de machos e fêmeas com sementes pequenas e aumentemos mesmo a percentagem de trigo germinado na ração.

No dia que escolhemos e que, como veremos adiante, tem de ser determinado em função da data que marcamos para o início da viuvez, preparemos tudo com antecedência - limpeza, alimentação de machos e fêmeas, ninhos com alguidares já devidamente guarnecidos da cama que utilizarmos. A propósito desta última, devo dizer que, agora, utilizo a areia fina e bem seca, mas que durante muitos anos, utilizei a serradura de pinheiro, e confesso que não conheço coisa melhor - absorve maravilhosamente a humidade das fezes dos borrachos, é quente, macia e contribui para o afastamento dos parasitas por causa do cheiro da resina. Levemos então, as fêmeas para o pombal dos machos. Escolhamos, para o fazer, às 4 horas da tarde. A festa que depois se segue, se todos os pombos foram tratados convenientemente, é dos espectáculos mais interessantes que podemos presenciar no decurso do ano, mas é altamente fatigante para os machos e provoca um grande desgaste de nervos. Por isso mesmo, o conselho que dou de juntar os sexos apenas uma hora antes do pôr do sol. Com o cair da noite todos ou quase todos os casais já estão em perfeita harmonia. Durante dias que se seguem, até ao aparecimento do 1º ovo, e que devem ser 8 ou 9, vamos tentar controlar as aproximações sexuais e para isso vamos durante quase todo o dia, baixando a divisão dos casulos. Poderão assim passar o dia lado a lado mas manter os machos separados das fêmeas sem se esgotarem inutilmente. Interrompamos no entanto, esta separação durante duas horas - uma de manhã e outra ao fim do dia. Isto é mais ,do que suficiente para a fecundação. Podemos aproveitar também esta altura para ir disciplinando os pombos no que diz respeito a entradas - nunca os soltemos juntamente com as fêmeas. Na hipótese contrária corremos o risco de os vermos absolutamente desinteressados do pombal e do dono que os chama contrariado, e para quem eles nem sequer olham porque todas as suas atenções estão concentradas no mais pequeno movimento das fêmeas que perseguem sem cessar.

Outro pormenor que interessa respeitar, porque é fundamental e porque, no que diz respeito aos reprodutores, é garantia dum índice elevado de natalidade dos borrachos, é que toda a colónia deve ter sido preparada sob o ponto de vista sanitário, com um combate eficaz às principais doenças - coccidiose, tricomoniase, paratifose e difteria - quer através do tratamento preventivo adequado, quer através das vacinas aconselháveis. Este pormenor aliás, tanto é válido no que diz respeito aos futuros borrachos, pois só assim, como já disse, podemos confiar neles como no que respeita ás prestações dos nossos pombos durante o decorrer da campanha.

É essencial para uma saúde brilhante e sem esta, repito, não aparece a forma.

Vejamos agora, separadamente, como se devem passar as coisas conforme criamos ou não antes do inicio do jogo, e o que dissermos para o primeiro caso é também aplicável no tocante ao tratamento dos reprodutores, salvo, no que diz respeito a estes, que o ideal é deixá-los o mais possível à vontade e em liberdade, sempre que tal se possa fazer sem prejudicar os outros pombos.
Dizia há pouco que as posturas se devem fazer normalmente, isto é, dentro de 8 ou 9 dias após a junção dos sexos. Acontece porém, por vezes, que algumas fêmeas novas tardam a pôr. 0 ideal é, portanto, destinar ao papel de viúvas apenas as fêmeas que já tenham criado, alguma vez porque são mais regulares na postura. Mas, se tal não for possível, sempre que tenhamos uma fêmea renitente a pôr, passemo-lhe ao fim do dia um ovo quente e húmido. Normalmente o macho aceita-o sem dificuldade. Após dois dias passemo-lhe o 2º ovo e o choco inicia-se sem incidentes.
Arranjemos, em seguida, as coisas do forma a ter um borracho em cada ninho, aproximadamente na mesma data. Eu penso que o melhor é tirar este borracho sem submeter os pombos a provas, deixando-os, portanto, apenas entregues aos cuidados da criação. No entanto, se o tempo de que dispusermos (atentas ás razões que atrás indiquei - o inicio da campanha pouco depois do fim da muda) não for muito, vamos iniciar os treinos sobre este borracho. Depois podemos proceder de duas formas: ou metemos os pombos já na viuvez sobre o borracho, ou deixamos vir a 2ª postura e esperamos para o fazer, 10 ou 12 dias de choco.

No primeiro caso, quando o borracho já recebe grãos, retiremos a fêmea do pombal ficando o macho sozinho com o filho. Mas cuidado com a alimentação do macho para, que este não enfraqueça.

Podemos, também, sempre que soltamos os machos para o treino em volta da pombal, introduzir as fêmeas no pombal depois de previamente as termos deixado comer e beber á vontade. Elas apressar-se-ão a despejar tudo o que comeram no papo dos borrachos e os pais quando entram já não têm um trabalho tão pesado a suportar.

Pode-se, pois, jogar os machos viúvos com o borracho durante umas 2 semanas. No 3º concurso, no regresso já encontrarão a fêmea em vez do filho, e a viuvez entra no seu ritmo normal. As fêmeas, porém, devem ter sido fortemente excitadas para esta primeira entrevista e nem sempre é fácil conseguir esta excitação num ou dois dias.

Quanto aos borrachos, futuro do pombal, procedamos com eles da seguinte maneira: A partir dos 4 dias de idade, e até aos dez dias, reforcemos a ração com leguminosas - fava, ervilha, Ervilhaca, por exemplo. Separemos aos 25 dias à noite, depois de terem o papo cheio. Nunca separemos um borracho sozinho. No primeiro dia de separados, só comem á tarde e, como estão já sem receber alimento há 24 horas, aproveitamos logo para os obrigar a comer primeiro as sementes maiores, como a fava que é muito útil neste período de vida dos borrachos. Devemos aproveitar também, para os ensinar a comer grit pois há pombos que nunca o comem por nunca lhe terem conhecido o paladar. Quanto à água, basta pô-la á sua disposição e observar. Se algum demora a beber, peguemo-lhe e introduzamo-lhe a cabeça no bebedouro. Beberá logo sofregamente e nunca mais esquecerá a lição. Neste primeiro período de separação, podemos também dar-Ihes um pouco de óleo de fígado de bacalhau, com timol a 5%, muito útil para combater a coccidiose. Comecemos por uma gota por dia e por cabeça e, ao fim de uns dias, passemos a 2 gotas, até ao mês e meio, dois meses de idade.

Logo que seja possível, ponhamos os borrachos fora do pombal, para se irem habituando ao exterior. Nas primeiras vezes em que saem, por via de regra, voltam-se e entram novamente, mas depressa tomam o gosto pelo ar livre e quando alguns dias mais tarde levantam voo, já é raro perderem-se. Deixemos pois os nossos borrachos fazer vida de exterior até terem aproximadamente 3 meses. Nesta altura, comecemos a fechá-los e a submete-los aos treinos diários para os disciplinarmos.

Se fizermos a viuvez apenas com choco, procedamos como se segue:
Deixemos a 1ª postura durante uns 10 dias no ninho. Se houve fêmeas atrasadas a pôr, já sabemos como remediar o inconveniente.. Ao fim destes dez dias, separemos os sexos durante uma semana. Juntemos depois novamente. Desta vez, já todas as fêmeas devem pôr com regularidade. Deixemos chocar até aos 10, 12 dias e paremos então de vez. Podemos arranjar as coisas de molde a que este prazo coincida com um encestamento. No regresso, os machos só terão o alguidar e um ovo. Chocam até abandonar. Voltemos então as tigelas ou, retiremo-las do pombal, o que considero melhor, deixando apenas aos viúvos um pequeno cepo para lhes servir de poleiro.
Este poleiro todavia, já se deve encontrar no ninho há bastante tempo e eles já devem estar habituados a empoleirar-se sobre ele: caso contrário corremos o risco de os vermos assustados e fugidios. Durante o choco devemos aproveitar para tornar os machos o mais possível sociáveis porque depois de viúvos, tornam-se em regra ferozes. Não admira - falta-lhes tudo e estão mais excitados.
Há columbófilos que aproveitam o período do choco ou da criação para jogarem também fêmeas dos futuros viúvos. Eu considero esta maneira de proceder perigosa por duas razões: primeiro, porque se corre o risco de perder alguma fêmea; segundo, porque o macho deve habituar-se desde sempre a encontrar a sua fêmea no regresso a casa, e neste caso pode suceder algumas vezes que tal não aconteça por a fêmea se ter atrasado. É pois preferível não jogar as fêmeas, mesmo porque no caso de alguma se extraviar é difícil depois remediar a perda e machos há, até que teimam em não aceitar novas companheiras. Por isto mesmo, as viúvas devem ser aquelas fêmeas acerca das quais não alimentamos grandes esperanças para não, nos suceder ficarmos com pena de não as ver voar.
Eu devo dizer-vos, no entanto, e repito mais uma vez, a propósito, que tudo que estais a ler já foi por mim experimentado), que já voei algumas fêmeas futuras viúvas e que obtive bons resultados com o sistema. Eram fêmeas em que depositava uma confiança absoluta e que só admitia que se extraviassem em circunstâncias muito excepcionais.

A viuvez não é necessariamente depauperante para as fêmeas, se elas forem tratadas como se segue: A “Voliére” onde devem permanecer deve ser abrigada, espaçosa, convenientemente arejada e exposta aos raios solares. As fêmeas devem fazer um pouco de exercício. Se não for possível voá-las todos os dias (e isto, estou convencido de que só muito raros columbófilos o conseguem fazer, embora seja “ouro sobre azul”), soltemo-las pelo menos uma vez por semana após o encestamento dos machos. Elas voam a uma velocidade incrível e entram depressa no pombal dos viúvos. Já não é mau de todo este pequeno exercício. Mas cuidado com a tentação de as soltar ao domingo, antes de chegarem os machos. Geralmente entram pior e eu já sofri a terrível decepção de ver 5 machos chegados dum concurso, a voar juntamente com as fêmeas em redor do Pombal.

As fêmeas, na 2ª feira e no domingo, após terem sido retiradas do pombal de jogo, não devem comer nada. Na 3ª feira devemos apenas dar-lhes uma ração muito ligeira e pobre, por exemplo, só cevada. Na 4ª feira, componhamos a ração com metade de cevada e metade de ração normal. Na 5ª feira alimentemo-las á vontade e na 6ª. juntemos uma pitada de sementes excitantes à ração. 0 grit nunca deve faltar na “Voliére” bem como os demais cuidados gerais de que já vos falei. Se notarmos que duas fêmeas têm tendência para se acasalarem, separemo-las imediatamente. Estas fêmeas nunca mais quererão saber dos seus machos e isso significa a ruína dos próprios viúvos. A fêmea deve apresentar-se, principalmente no regresso do macho, numa forma exuberante, deve recebê-lo com um entusiasmo inexcedível. É a recompensa que o viúvo espera e que o fará regressar ainda mais depressa na semana seguinte. E para encerrar estas considerações sobre as fêmeas, que apesar de breves reputo fundamentais para o êxito da viuvez, quero apenas referir-vos que as melhores viúvas são aquelas que mais demoram a submeter-se aos desejos do macho. A fêmea deve rolar em volta do macho, deve dar saltos de alegria, acariciá-lo dentro de ninho e só depois consentir que ele a fecunde. Aquelas que mal vêem o macho se agacham, são más viúvas e não é difícil concluir porquê.. Mesmo quando por exigências do jogo, devemos mostrar as fêmeas antes do encestamento, muito cuidado e atenção a estas más viúvas que podem num momento estragar toda a preparação duma semana.
Uma última observação quero fazer acerca das fêmeas. Diz respeito á localização da “Voliére” . O ideal é situar esta num ponto bastante afastado do pombal de voo, mas se tal não for possível, providenciemos para que os machos nunca saibam onde as fêmeas se encontram e nunca as vejam quando saem do pombal para os treinos diários. Isto já é suficiente.