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“Derby”: dia de festa, dia de desastre anunciado ou a ressurreição columbófila? 16/07/2012

 

Ao longo da última década assistimos ao aparecimento de uma nova modalidade em Portugal: Os Derbys. Com o aparecimento do projecto, pombal dos campeões, na Associação Columbófila do Porto e Mira, por parte da FPC, tem-se vindo a verificar um incremento desta modalidade, uns com mais ou menos qualidade. Muitos columbófilos que não estão no activo optam por esta modalidade para voltarem ao mundo da columbofilia. Outros testam novos casais, tentando tirar proveito desta nova modalidade. Por outro lado, existem ainda outros que apostam na tentativa de retirar dividendos da classificação e de futuras vendas de irmãos. Tudo isto faz parte da vivência e desenvolvimento da columbofilia que o columbófilo se regozija pelos novos desenvolvimentos desta modalidade. O Derby tornou-se sinónimo de encontro de gerações columbófilas, de amizade de convívio e um meio de travar novos conhecimentos e trocas de pombos. Saliente-se que cada vez mais se tornaram num encontro de famílias.

O Derby assumiu contornos sociais, que eram impensáveis à 20 ou 30 anos atrás.

O tipo de columbofilia que praticamos tem-se mantido com pequenas alterações desde os primórdios da competição com pombos correio. Os avanços foram nos transportes, na qualidade de alimentação e higiene, no apoio veterinário e nos apoios à qualidade da solta.

O cerne dos campeonatos manteve-se, tendo-se verificado pequenas alterações e pequenos diferendos por especialidades ou campeonatos gerais, sendo estas alterações periféricas ou por outro lado de “restailing”. Nunca alterações de fundo no modo de praticar a columbofilia.

O que inicialmente, por ser novo, não era questionado veio a verificar-se que hoje o columbófilo dá grande importância e refere usualmente o número de pombos entrados, os que vão à prova final e os chegados. Toma-mos consciência de que existe uma delapidação muito grande do património que entra e aquele que chega da prova final. Assim sendo começa-se a questionar se numa competição normal de uma determinada associação os columbófilos aceitam como normal a chegada de menos de 20% dos pombos encestado de uma determinada prova independentemente dos quilómetros efectuados. Todos sabemos que não. Então porquê aceitar, com alegria e festa a chegada de menos de 10% de pombos num “derby”? Independentemente das qualidades dos pombais, tratadores, apoio columbófilo e veterinário, não se pode aceitar um descalabro destes, numa visão columbófila tradicional. No entanto, tendo uma visão conjuntural, não evitando que se deva criticar as menores prestações que se têm verificado em alguns “derbys” com muita responsabilidade nacional, deve-se ter em conta os dividendos futuros.

Todos os “derbys” têm um ponto em comum: o dia da realização da solta é marcado e custe o custar lá se irá realizar a prova porque a festa tem que continuar. As despesas estão feitas e o prejuízo é visível. Chegou-se ao ponto de ter preocupações com a hora possível da chegada dos pombos, pois esta deve coincidir com o almoço para que assuma o expoente máximo da festa. O participante na competição – o pombo-correio, apesar de ter tido o apoio e cuidado durante os treinos é posto no ar porque a festa assim o exige. Já César dizia: “para ter o povo satisfeito dá-lhe pão e circo”.

 Os pombos têm que ser soltos, dê por onde der, com mais ou menos quilómetros. Poderá ser a morte anunciada do pombo, como ser individual, e a ressurreição da columbofilia como ser colectivo. Entenda-se este novo modo de praticar a columbofilia como uma metamorfose evolutiva em que o ser individual, elemento principal – o Pombo, sacrifica-se perante o ser colectivo – a columbofilia, num modo familiar e festivo com projecção social. O “derby” só poderá ser entendido como tal em que se idolatra o vencedores e se esquece os vencidos, num sacrifício como tantos outros em que impera o interesse colectivo. É um aspecto de sobrevivência de um grupo e de oportunidade de projecção social.

O “derby” é a columbofilia espectáculo. É a oportunidade para tirar a actividade do isolamento. É o aproveitar das necessidades da sociedade actual em detrimento de uma actividade columbófila periférica e isolada. As duas podem e devem coexistir porque se completam. No entanto urge dar a conhecer o desporto que amamos e se a sociedade, em geral, aprecia este tipo de espectáculos, temos que ser nós a adaptarmo-nos para que possamos sobreviver como actividade columbófila. Quanto mais dúvidas tivermos e mais questões colocar-mos a este novo modo de praticar a columbofilia mais tempo continuaremos sem avançar. Vale mais decidir, com alguns defeitos, do que nada fazer. Urge pois legislar, enquadrando junto com as autoridades competentes, os “derbys” de modo a que não se efectuem eventos de fraca qualidade, mas sim eventos com qualidade e visibilidade social transmitindo uma imagem positiva deste nosso desporto. Para quando a legislação nacional de “derbys”? continuamos à espera senhores responsáveis pela columbofilia nacional. Disto e de muito mais.