Estudos

Análise à relação Temperatura e Columbofilia nos meses de Maio e Junho (Artigo Portugal Columbófilo) 04/08/2015

Fazendo uma breve resenha da situação térmica dos meses de maio e junho dos últimos cinco anos e comparando-os com as normais climatológicas, tendo em conta o passado columbófilo recente que ainda permanece vivo nas nossas memórias, verifica-se que a situação térmica, dos meses em referência, esteve superior às normais climatológicas (1971-2000) em 2011, 2012, 2014 e 2015, apresentando o ano de 2013 uma situação idêntica às normais climatológicas, sendo mesmo o mês de maio mais frio que o normal.

 

De referir que as normais climatológicas referentes ao período (1981-2010), ainda provisórias, apresentam nos meses de maio e junho um aumento em todos os valores considerados, dando indicação de uma tendência para uma continuação dessa subida térmica, ainda que com valores pequenos mas que, a ser verdade essa tendência, poderá vir a agravar as dificuldades quer nos treinos quer na competição com Pombos-correio. Observemos como foram classificados pelo IPMA os meses de maio e junho nos anos referidos:

2011 - Maio, em Portugal Continental, foi o mais quente desde 1931 com valores de temperatura máxima (24.86ºC), mínima (13.13ºC) e média (19.00ºC) do ar muito acima do respetivo valor normal 1971-2000. Junho, os valores médios da temperatura máxima e média do ar foram superiores aos valores normais 1971-2000, com anomalias de +1.57ºC e +0.60ºC, respetivamente. Em 2011 ocorreram 5 ondas de calor que se verificaram nos meses com maiores anomalias positivas da temperatura máxima: uma onda de calor em abril, duas em maio e duas em outubro

2012 - Maio foi quente com uma temperatura média de 17.51ºC, que representa uma anomalia de +1.78ºC em relação ao valor normal de 1971-2000. Foi na temperatura máxima que se registaram as maiores diferenças positivas, em relação ao normal. Junho registou valores da temperatura máxima, média e mínima do ar acima do valor normal 1971-2000. No ano de 2012 ocorreram 4 ondas de calor, nos meses de março, maio e setembro.

2013Maio de 2013 em Portugal Continental caracterizou-se por valores da temperatura média do ar inferiores ao normal. Junho foi seco a muito seco e caracterizou-se por uma grande variabilidade dos valores da temperatura ar com ocorrência de períodos frios e períodos quentes. No ano de 2013 ocorreram 3 ondas de calor, nos meses de verão (junho, julho e agosto).

2014 - Maio caracterizou-se por valores de temperatura média do ar superiores ao normal (1971-2000). Junho caracterizou-se por valores médios de temperatura média do ar próximo do valor normal (1971-2000).

2015 - Maio caracterizou-se como um mês extremamente quente e seco. O valor médio da temperatura média do ar, 18.67 °C, foi muito superior ao valor normal, sendo para o mês de maio o 2º valor mais alto desde 1931. Durante o mês de maio ocorreram 2 ondas de calor: a primeira, entre 9 e 15 que afetou as regiões do Baixo Alentejo e Algarve; a segunda onda de calor, entre 21 e 31, com duração entre 6 e 11 dias, abrangeu quase todo o território. Junho caracterizou-se como um mês extremamente quente e seco, sendo o mais quente dos últimos 10 anos e o 5º mais quente desde 1931. Durante o mês de junho ocorreram 2 ondas de calor, uma nos primeiros dias do mês, que afetou grande parte do território (exceção para litoral Norte e Centro) e parte do Algarve e outra entre os dias 25 e 30 e que afetou apenas as regiões interiores do Norte e Centro.

Depois de considerarmos os relatórios dos meses de maio e junho dos últimos cinco anos, elaborado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, confirmamos o que inicialmente se dizia: que estávamos a assistir a um aumento térmico, sendo referenciado estes meses por serem aqueles que, normalmente, nos têm trazido problemas à columbofilia. Inicialmente pelos aumentos térmicos bruscos e pela falta de adaptação ao meio dos pombos, columbófilos e estrutura associativa e posteriormente pelas temperaturas elevadas resultando em ondas de calor.

Muito tem sido feito, pela estrutura columbófila, desde que “acordamos” para este problema em 28 de maio de 2006. Assistimos a desastres impensáveis, estudámos e aplicámos novas visões de transporte dos nossos pombos: abeberar mais e melhor, ventilar mais e melhor, isolar como melhores matérias as galeras. Reduzimos as provas nos dias de temperaturas elevadas, adiámos provas e trocámos de locais de solta, sempre no intuito de realizar as provas e minimizar as percas. Escrevemos, por diversas vezes, tentando quantificar termicamente os valores a partir dos quais se deveria soltar ou não, sendo, estes artigos, um guia de serviço que minimizou, de certo modo, as situações.

Exemplo de artigos anteriormente publicados (Janeiro de 2004): As temperaturas máximas de 36/37º C são muito nefastas, podendo mesmo provocar a morte dos pombos. Só pombos muito descansados bem alimentados, bem cuidados durante o transporte e com as vias respiratórias em excelentes condições superam estas dificuldades.

Temperatura máxima de 38ºC ou mais é imprópria para o voo de Pombos-correio;

Temperatura mínima (cerca do nascer do Sol) igual ou superior a 23ºC é imprópria para o voo de Pombos-correio.

Se relacionarmos a temperatura com o vento, o fator negativo em relação ao voo pode aumentar ou diminuir. Assim, mesmo sendo a temperatura máxima elevada (acima de 32ºC) causadora de redução de tempo de voo, se associada a vento de “rabo” torna a viagem mais rápida mas a distância entre pombos na chegada é muito grande fazendo com que as classificações demorem muito a fechar, pois muitos pombos fazem reabastecimento de água pelo caminho de modo a não desidratarem. Se o vento for contra, o desastre é proporcional à temperatura máxima, podendo mesmo ser completo, para temperaturas máximas acima de 37ºC;

A primeira prova efetuada com calor é normalmente a que provoca mais baixas pela falta de adaptação do pombo, do Columbófilo e da estrutura organizacional ao meio ambiente;

Quando se elaborou este primeiro trabalho, que de certo modo se mantém atual, não se teve em conta o tempo de voo que o pombo-correio tem que fazer no seu regresso a casa. Tal como a aprendizagem que tivemos com o desastre de 28 de maio de 2006, penso que o ano de 2015, através das provas efetuadas em 17 de maio, 20 de junho e 28 de junho, nos transmitiu, essa relação, de uma forma inequívoca dando-nos, também, a sua relação com a componente horizontal do vento. A tudo isto que agora se complementa, dever-se-á juntar os avisos térmicos elaborados pelo IPMA (http://www.ipma.pt/) e pelo AEMET (http://www.aemet.es/), para relacionar o tempo de voo, locais de passagem, e avisos térmicos, bem como aviso de onda de calor, que nesta situação não se verificou alteração ao anteriormente descrito. Ou seja: nos avisos de onda de calor em ambos os lados da fronteira, face ao que se tem constatado nos últimos anos deverão ser canceladas as provas de meio fundo e fundo e mesmo as velocidades reduzidas para os mínimos da especialidade e com base ao que assistimos em 28 de maio de 2015, porque mesmos aqueles distritos que tomaram, neste dia, as medidas “pensáveis e impensáveis” tiveram provas que não se enquadram dentro do que é normal na prática da columbofilia.

Continuamos a afirmar que a prova começa com o encestamento e não com a ordem de solta porque se os pombos desidratarem no transporte estarão inaptos para a competição. Tal com afirmei há muitos anos: uma erva seca por mais que se regue nunca voltará a ser verde. A água, mesmo na agricultura, dá melhores resultados quando fornecida “gota a gota”. Com base neste conhecimento temos vindo a idealizar e a transmitir tempos de transporte e abeberamentos para que seja uma situação próxima da filosofia da “gota a gota” na agricultura: Tempos de transporte sem abeberamento para temperaturas máximas previstas: Menos de 25ºC: 10 horas de tempo máximo; Entre 26ºC a 30ºC: 8h de tempo máximo; Entre 31ºC a 34ºC: 6h de tempo máximo; Mais de 35ºC: 4h de tempo máximo. Sempre que a temperatura máxima prevista seja de 30ºC ou mais deve haver água à descrição antes da largada. Independentemente da temperatura prevista, nos locais de encestamento deverá haver água à descrição dos pombos encestados, para criar habituação ao abeberamento. Em suma: água e mais água associada a melhor qualidade do transporte e menor tempo possível na sua utilização. Especial atenção deverá ser tomada com as temperaturas mínimas previstas em situações de previsão de temperaturas máximas elevadas. Ou seja: perante temperaturas mínimas acima de 18ºC dever-se-á abeberar como o previsto para temperaturas máximas acima de 35ºC.

Observemos então o que se considera ter acontecido, sua relação térmica nos dias em referência, dando a conhecer o que se passou e como se passou para que possamos, tal como em 2006, aprender, evitar e minimizar situações térmicas problemáticas e melhorar o enquadramento das soltas na sua preparação anual e semanal.

 

17 de Maio de 2015 – Neste dia as temperatura na Extremadura espanhola variaram às 06h entre 13,3ºC na zona Este a 17ºC na zona Centro e às 12h entre 24,5ºC na zona Norte e os 29,3ºC no cento desta região autónoma. Em Portugal continental às 06h/12H as temperaturas eram: Porto 20ºC/27ºC, Lisboa 20ºC/27ºC, Beja, 14ºC/29ºC e Faro 19ºC/29ºC. Tratou-se do primeiro “fim-de-semana de calor” para a prática desportiva columbófila em que se verificou uma subida da temperatura máxima e mínima significativa, mas que segundo os parâmetros estabelecidos não justificavam avisos às soltas. Neste dia verificaram-se algumas dificuldades nas soltas, nomeadamente a solta de Malagon para Lisboa (06H20) e a solta de Ciudad Real para Beja (07H30) efetuadas com uma hora e dez minutos de diferença e com resultados extremamente diferentes, apesar de Lisboa estar a voar cerca de mais 80Km, que podem ter sido cruciais para a diferença no fecho classificativo: Beja fecha em cerca de 35 a 40 minutos e Lisboa a demorar mais de 1 hora e em algumas coletividades mais de 2 horas e com faltas significativas no dia.

De reportar que também neste dia a associação de Viseu efetuo solta em Algodor com as classificações a demorarem mais de 1h30 para fecharem e com reporte de faltas significativas no dia. No entanto, neste mesmo dia e depois de efetuar a solta de adultos em Algodor deslocou-se com o carro para Estremoz onde soltou os borrachos às 09H30 tendo resultado numa prova normal sem faltas significativas. Se por um lado se equaciona o soltar demasiado cedo e por outro o soltar demasiado tarde e estar sujeito ao calor, estes dois exemplos que se apresentam, respeitantes a este dia, poderão deixar antever que a “escola columbófila” de soltar aos primeiros raios solares poderá não ser a mais correta pelos exemplos apresentados.

Nos distritos a Norte todos correram dentro da normalidade as velocidades e os meios fundos curtos (310-320Km) com exceção de Braga que estava a fazer meio fundo mais longo (370Km) e a voar junto ao mar, cujo reabastecimento de água salgada poderá ter sido uma das causas.

O grau de dificuldade foi proporcional, como se tem vindo a verificar ao longo dos anos, à distância ou seja: as provas de meio fundo longas decorreram pior que as provas de meio fundo curtas e o mesmo se pode extrapolar com as provas de velocidade realizadas. Não havendo Índice K, raios UV nem inversão térmica significativa, resta-nos, em termos científicos focarmos o nosso olhar nos pontos em comum: Na subida rápida da temperatura as soltas de menor quilometragem, obtiveram melhores resultados e as soltas efetuadas tardiamente resultaram muito melhor que as soltas longas efetuadas madrugadoramente. Esta situação não se aplicou aos distritos a Sul que fizeram velocidade nem às soltas efetuadas de meio fundo, voadas a Nordeste, solta de Nordeste de Lisboa nem para Santarém e Setúbal, cujas médias horárias nos indicam claramente existência de vento favorável em altitude que, como fator fundamental foi determinante para suplantar as restantes contrariedades. A solta de velocidade efetuada para Évora foi aquela que menor tempo demorou a fechar, das efetuadas em Espanha, não sendo, por certo, alheio a este resultado a mudança de local de solta e a redução em 2 horas o transporte e em mais de 20 km a prova.

 

20 de Junho de 2015 - Neste dia foi efetuada a solta Nacional de Valência Del Cid, tendo sido colocado o aviso amarelo, na página da FPC, por ser aquele que era comum a um maior número de distritos, pelo que seguindo a filosofia de uma solta uma cor também se aplicou o mesmo raciocínio a esta solta Nacional e por, como veremos adiante, os primeiros 500 km não apresentarem temperaturas significativas e a verificar-se a existência de vento favorável. As temperaturas mais elevadas verificavam-se nos últimos 100 a 200 km, onde havia avisos Amarelos, por parte dos institutos de meteorologia de Espanha e de Portugal como se pode verificar nas imagens seguintes.

Registe-se que o aviso amarelo colocado pelo Instituto Espanhol na área de Badajoz só foi efetuado na madrugada do dia 20. As temperaturas na região de Castilla-La Mancha às 06h variavam entre 13,3ºC na perifería da região e os cerca de 17ºC a Norte no Centro e Sul desta Região. O vento era do quadrante Este (favorável), fraco. Na região da Extremadura às 12h, verificavam-se temperaturas entre os 25ºC a Noroeste, Norte e Sueste e os 29ºC no centro e Sudoeste. Em Portugal às 12h verificavam-se as seguintes temperaturas: Porto 32ºC e máxima a atingir os 35ºC, Lisboa 30ºC e máxima de cerca de 34ºC, Beja 33ºC e máxima perto de 38ºC e Faro 28ºC com máxima de 30ºC. A humidade relativa foi muito baixa no final da manhã e durante a tarde sendo inferior a 35% depois das 09h da manhã, tendo mesmo períodos de 15%/14% durante a tarde na zona Centro e Sul de Portugal e Extremadura espanhola. Dos 49.308 pombos enviados, apenas chegaram no primeiro dia cerca de 12% destes, perante as adversidades térmicas que se fizeram sentir.

Numa análise pós terceiro dia, os distritos de Viana do castelo, Faro, Lisboa e Setúbal, foram os que tiveram piores prestações. Os extremos e os mais distantes foram os que mais se recentiram das dificuldades térmicas, não esquecendo que alguns distritos andam a voar há muitos anos fora desta linha, nomeadamente Faro e Setúbal e que Lisboa, anda parcialmente dividida em duas linhas: a Este e Nordeste, sendo, também, esta conjuntura contributiva para os resultados finais dos distritos em referência por falta de reconhecimento de rota e que tem vindo a ser base de muitos trabalhos internacionais para o pombo que atualmente cultivamos, constituindo norma não efetuar mudanças bruscas nas rotas mas sim efetuar aprendizagem de reconhecimento de pontos de referência.

Observámos as coletividades que fecharam as classificações no dia ou antes das 7h da manhã do segundo dia, e verificámos a quilometragem para retirarmos um relação distância, componente horizontal do vento e temperatura. Podemos, então, concluir que perante condições idênticas às que se verificaram no dia 20 de junho de 2015, provas entre os 600km e os 650Km, constituem uma possibilidade de serem efetuadas em voo direto ou dentro das capacidades “normais”. Provas superiores a 700 Km em condições semelhantes ou térmicamente superiores ou com vento não favorável em mais de 2/3 da prova entram noutro tipo de provas que poderão ser apreciadas por muitos columbófilos como verifiquei aqui no distrito de Santarém, em que os apreciadores do “fundo antigo” demonstravam satisfação perante o grau de dificuldade que se verificou e pelas poucas percas verificadas no final da manhã do terceiro dia.

 

28 de Junho de 2015 - Neste dia realizaram-se as últimas provas da campanha para muitas associações, tendo sido o fim-de-semana de temperaturas mais elevadas registadas esta época, com máximas superiores a 40ºC e mínimas acima de 20ºC em muitas das linhas de voo, com especial incidência para as soltas efetuadas em território de Espanha.

As soltas efetuadas em território nacional para os distritos a Norte decorreram dentro da normalidade para as dificuldades térmicas esperadas e que já tinham sido contempladas na sua preparação. A solta realizada para Faro revelou-se extremamente complicada, mesmo com vento favorável, havendo pombos que demoraram muito a sair do local de solta. Este dia 28 foi muito diferente do dia 20 de junho por se ter verificado vento de Oeste e Noroeste, contrariamente ao vento do quadrante Este do dia 20, o que fez aumentar o gradiente térmico no território português, e que fez, ao invés do dia 20 de junho, em que as temperaturas foram mais elevadas em território nacional, desta vez, devido também ao efeito do transporte térmico do ar quente as temperaturas mais elevadas foram constatadas entre uma linha Beja-Portalegre e alinha Madrid - Ciudad Real, por radiação direta e acumulação de ar quente transportado pelo vento. Verificou-se uma grande variação nos valores da temperatura do mar para a fronteira. Em Portugal às 12h verificavam-se as seguintes temperaturas: Porto 22ºC, máxima 24ºC e mínima 14ºC; Lisboa 30ºC, máxima 33ºC e mínima de 20ºC; Beja 35ºC, máxima 43ºC e mínima de 21ºC; Faro 31ºC, máxima de 32ºC e mínima de 23ºC.

Constatou-se que junto à costa Oeste as temperaruras durante a manhã eram relativamente baixas, com exceção da península de Setúbal e Área de Lisboa, o que veio a favorecer, contribuindo para os bons resultados das provas efetuadas pelos distritos do Norte.

A região de Castilla-La Mancha, apresentava mínimas extremamente elevadas, acima de 22ºC  e húmidade relativa abaixo dos 25%. A temperatura  às 08H, variava entre os 17ºC/20ºC nas regiãos montanhosas a Nordeste e os 26ºC/29ºC na área de Toledo Ciudad Real.

A região da Extremadura espanhola, apresentava temperaturas mínimas muito elevadas, Superíores a 20ºC, e húmidades muito baixas, inferiores a 25%, sendo a temperatura às 08h, genericamente entre os 24ºC e os 28ºC. E ás 12 horas as temperaturas variavam entre os 37,5ºC e os 41ºC.

Foram colocados aviso Amarelos e Laranjas na grande maioria do territóro de  Espanha e Portugal, conforme imagens seguintes e que são extremamente ilucidativas do que se passou no dia 28 de junho e, fazendo a comparação, o que se passou no dia 20 de Junho de 2015.

Com as previsões disponíveis, que se vieram a confirmar, a Associação de Beja cancelou a prova, adiando-a para dia 04 de julho mas a mesma foi anulada após consulta das coletividades que dissidiram dar por finda a campanha desportiva de 2015. Setúbal com solta prevista para Talavera de la Reina fez o encestamento à sexta-feira para soltar ao domingo, na espectativa de minimizar os efeitos térmicos na recolha e na viagem, numa prova de meio fundo. Porque se estava a constatar que as previsões estavam corretas optou por ficar no limite desta categoria (300Km) de modo a minimizar as dificuldades previstas. Portalegre manteve o local de solta de Manzanares e Évora manteve a sua prova de Velocidade prevista de Siruela (190 a 260Km). Santarém manteve também a sua prova de Yearlings de Cáceres (150 a 195Km) assim como Lisboa, manteve as provas de Velocidade de Cáceres e Sabugal (230 a 270Km).

Como resultado verificou-se percas extremamente elevadas com o período de constatação de chegada superior a 6 horas na solta de Manzanares para Portalegre e na solta de Almaraz para Setúbal mesmo com a redução significativa efetuada as classificações demoraram entre 1 a 3 horas a fechar com faltas significativas no dia. Faro soltou em Torres Novas numa prova de velocidade em que as classificações fecharam em mais de 1h30, registando-se faltas significativas. A solta de Yearlings (borrachos de 2014) de Cáceres para Santarém, em média com menos de 200Km veio a tornar-se muito difícil com muitos pombos a ficaram para o segundo dia.

 

Conclusão: O ano de 2015 veio confirmar todos os trabalhos até à data efetuados, acrescentando-se agora, com este novo conhecimento que é possível fazer provas de velocidade (160-250Km) com “relativa” segurança, tomados todos os cuidados de abeberamento e transporte, em situações de temperatura mínima de 20ºC e máximas superiores a 37ºC, como foi efetuado por alguns distritos no dia 28 de junho. No entanto foi-nos dado a observar que Meios Fundos longos se tornam extremamente difíceis, mesmo quando tomam todas as medidas como foi o caso de Setúbal no dia 28 de junho e se voados junto à orla marítima podem ser uma catástrofe pelos abeberamentos efetuados com água salgada, como se pensa ter acontecido na solta de Braga no dia 17 de maio. Nesta situação 50km a mais podem ser complicados como se viu comparando com o a Associação do Porto no mesmo dia.

Deve-se ter em atenção que cada solta (linha de voo) é um caso específico e uma realidade diferente, como se verificou pelas “facilidades” perante a adversidade que as provas dos distritos do Norte tiveram no dia 28 de junho, não acontecendo a mesma situação com os distritos do Sul, que tiveram linhas de voo completamente diferentes. As condições de transporte o abeberamento e a hora de solta parecem ser determinantes para a qualidade da prova, não esquecendo que esta começa efetivamente com a saída do pombo do pombal do amador. Nas provas de Fundo, a prova de Valência del Cid Nacional veio confirmar também o que já afirmávamos, acrescentando um novo conhecimento de que a humidade relativa muito baixa (-30%) se torna extremamente perigoso. No entanto, também se constatou que perante situações de aviso amarelo, até dois distritos ou regiões em rota, com algum vento favorável pode ser possível efetuar provas de 600km em voo direto, estando também conscientes que será sempre de dificuldade elevada e que muitos dos pombos irão regressar na manhã do segundo dia. As opções dos columbófilos e dirigentes serão determinantes.

Da prova realizada no dia 17 de junho, não havendo UV extremamente elevado, índice K 4 ou superior nem inversão térmica significativa teremos que ter especial atenção à hora da solta, mesmo com temperaturas que se esperam elevadas, porque poderão os pombos não beber água por falta de luminosidade ou haverá melhores condições de orientação, não ao nascer do Sol, mas sim após 40 a 50 minutos depois como se constatou. A linha de voo junto à orla marítima com vento de leste tem-se mostrado perigosa pelos “reabastecimentos” nas praias, que poderão tornar-se mortais.

Assim, tendo sempre em memória de que os últimos anos a temperatura nos meses de maio e junho têm vido a ser superiores às normais climatológicas (1971-2000) e mesmos as normais climatológicas de (1981-2010 - provisórias) já se verifica esse aumento, é de esperar subidas térmicas rápidas, em períodos de tempo curtos, no período considerado e mesmo uma tendência para que se mantenha esta pequena subida das temperaturas nos meses de maio e junho nos anos mais próximos. Perante esta situação dever-se-á ter em conta calendários alternativos ou hipótese “B” para trocar meio fundos ou fundos por provas de velocidade, reduzir provas ou alterar locais de solta adaptando-nos organizacionalmente à nova realidade térmica se pretendemos continuar a praticar a columbofilia com qualidade e dignidade, porque o pombo que estamos a cultivar agora nada tem a ver com o pombo antigo porque voa, mais alto, mais rápido e até à exaustão, não sabe comer nem beber sem ser dentro do pombal.

 

 

Fernando Garrido

Técnico de Meteorologia