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Planeamento de calendários de soltas de Pombos-correio 16/07/2012

 

 

Planear e organizar um calendário desportivo para soltas de pombos-correio deve, antes de mais, respeitar o princípio do reconhecimento da área. Vários são os autores que defendem a manutenção de linhas tradicionais para evitar a perca elevada de pombos, porque existe reconhecimento dos locais onde o pombo passa normalmente. Independentemente da prática desportiva e dos defensores das provas em leque, o que está aqui em causa não são esses princípios mas sim a manutenção deles ou mudanças progressivas. As percas diminuem com a habituação das rotas, pelo que os calendários devem ser estudados de modo a serem mantidos por vários anos, normalmente a vida útil em competição de um pombo: em norma cinco anos. As alterações nas linhas de voo devem ser efectuadas começando pelos pombos jovens criando, nestes, um novo hábito e selecção para uma nova rota. Todos os columbófilos com experiência sabem ou têm conhecimento que existem linhas de pombos que se adaptam melhor a uma linha de voo do que a outra.

Por mais que queiramos, existem elementos climáticos (vento, precipitação etc.) e factores climáticos (vales, montanhas, etc.), que além de trazerem dificuldades ao voo quase em linha recta, limitam as entradas dos pombos em cada distrito. Estes últimos factores são de grande relevância por serem fixos quer no espaço quer no tempo. Inventar calendários para minimizar um problema, que é do conhecimento geral, pode trazer mais desvantagens do que vantagens. É preferível a criação de “zonas artificias” do que sacrificar os restantes columbófilos com novas rotas para tentar solucionar o insolucionável.

A marcação de locais de solta com o bico do lápis num mapa bidimensional, não se justifica nem são bom prenúncio. Quem decide onde soltar deve, além de conhecer muito bem cada local, ter conhecimento da orografia Ibérica e da climatologia. A título de exemplo pode-se dizer que locais de solta no sopé das montanhas do lado contrário aos pombais não são aceitáveis pelas dificuldades que trazem quando existem complicações meteorológicas. Nesta situação é preferível reduzir alguns quilómetros e efectuar a solta na vertente virada ao local de chegada ou aumentar alguns quilómetros e distanciar-se da montanha. Locais de solta junto a zonas húmidas em dias de vento calmo e arrefecimento nocturno trazem problemas com o nevoeiro. Nesta situação é necessário existir um “plano B” com local alternativo para efectuar a solta. A falta de alternativas dos locais de solta têm sido, nos últimos anos, uma constante, complicando as provas quando poderia ser evitado com o estudo e reconhecimento dos locais onde se vai soltar.

Por outro lado, soltar o mais alto possível nos dias quentes do final da campanha só traz vantagens pela diminuição da temperatura e por se estar a reduzir a espessura das inversões térmicas, ficando deste modo mais próximo dos elementos necessários à navegação.

Não se deve programar soltas em locais onde a climatologia nos indica que normalmente existem nuvens baixas e precipitação em regiões montanhosas, normalmente a periferia Noroeste, Norte e Nordeste da Península Ibérica. Caso se marque, e a marcar, deverá ser o mais avançado na campanha possível, acompanhando a evolução do tempo e retirar os pombos para lugar seguro, mais para o interior e mais alto, sempre que sejam previsíveis condições meteorológicas adversas (neblina e nevoeiro).

A marcação de locais de solta e horários do encestamento respectivo é de crucial importância pois, o descanso após cada viagem é elemento fundamental a ter em conta e que normalmente não nos preocupamos com ele. É obrigatório e está previsto no Regulamento Desportivo Nacional. A ausência do descanso incrementa exponencialmente as dificuldades para transpor as adversidades meteorológicas.

Outro elemento a ter em atenção é a quantidade de quilómetros que os carros fazem e o tempo que demoram a percorrê-los para chegar ao local de solta. Face a este reparo deve-se estudar as novas e rápidas vias de comunicação e soltar junto destas porque apresentam várias vantagens, entre as quais: a qualidade do transporte e a diminuição dos custos operacionais. Tem-se vindo a assistir à marcação de locais de solta em que os carros fazem 100/200 quilómetros ou mais, para, em linha de voo, ter a mesma distância ou uma diferença insignificante. Não basta marcar locais de solta, há que se estudar, racionalizar e implementar medidas que irão fazer diminuir o preço por pombo, aumentar a qualidade do transporte e o bem-estar animal. Nos dias que correm cada cêntimo a menos poderá reflectir um columbófilo amais amanhã.

A título de exemplo do estudo das rotas analisemos os distritos a Norte, por serem aqueles que ao abandonarem uma rota (Este), obtiveram melhorias muito significativas na qualidade das soltas.

Verificou-se uma fixação nos últimos anos de rotas a Sul e Sudeste, depois de algumas incursões de má memória a Este. Esta fixação trouxe vantagens visíveis na diminuição de acidentes. Verificou-se, no entanto, que as provas se têm tornado mais difíceis à medida que se aproximam da rota Este.

Analisando os elementos e factores climatológicos verifica-se que em dias de “mau tempo” o vento tem quase sempre componente Sul (favorável). Sabendo-se que o vento é o factor principal da velocidade do regresso do pombo-correio a casa, ele agirá como factor positivo perante a adversidade da precipitação ou visibilidade. Á medida que a rota se desloca para Este a componente do vento, em situações de “mau tempo” passa a ser de “Bico” (contrária ao voo). No caso que se apresenta, como se tem visto, a probabilidade da realização das soltas, com qualidade, aumentou quando foram efectuadas a Sul e Sueste da Península Ibérica, quer pela componente do vento quer pela orografia. Se a tudo isto se juntar que estes pombos fazem treinos, velocidade e meio-fundo na rota Sul, começamos a compreender o princípio do reconhecimento da rota.

A rota Sul também tem apresentado algumas dificuldades no mês de Junho pela existência de nevoeiro e nuvens baixas na área de Leiria, Coimbra, Viseu e Aveiro. Esta situação meteorológica tem afectado muito as soltas de pombos-correio, tendo-se, no entanto, verificado que as soltas efectuadas mais no interior têm obtido melhores resultados porque os pombos percorrem uma rota periférica à área em referência.

Pretendeu-se dar uma panorâmica geral na elaboração dos calendários tendo em vista o regresso do pombo-correio em segurança. Os problemas locais, na entrada dos pombos, são extremamente difíceis de resolver devendo ser ponderados os prós e os contras, se queremos mais, hipoteticamente falando, competição ou mais pombos chegados em segurança.