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Divagações de início de campanha de 2012 18/07/2012

Mais um ano, o desalento e as queixas do costume. Este ano agravadas pelas dificuldades económicas. Lamentavelmente vi “cair” columbófilos que eu julgava que era impossível que isso viesse a acontecer. A realidade é bem mais dura do que aquilo que nos estão a dar a entender.

Dá a ideia de que o nosso grupo (columbófilos) ainda não tomou consciência das reais implicações do deixa andar. O problema é que na columbofilia não existe moeda única, pelo que, nunca virá uma equipa da “TROIKA” para nos pôr no lugar. Repensar as práticas columbófilas deverá ser tema actual para todos nós, começando pelos que vivem deste “negócio” seguidos imediatamente pelos campeões habituais porque para se ser primeiro terá que haver segundos.

Muitos são os bons exemplos que pelo nosso país se vão dando. A título de exemplo positivo, para a manutenção de columbófilos, porque isto de fazer aumentar o seu número, que o actual presidente da FPC, e muitos elementos da sua equipa tanto apregoaram é de quem anda de todo ausente e/ou alienado do contexto columbófilo, apresento o que foi efectuado no meu clube (C. C. da Chamusca). De um leilão efectuado em 2005, cujas receitas eram para uma hipotética sede social, hoje quase impossível sem os “apoios da década de 90” resolveu a comissão “pró-sede” propor aos sócios, em assembleia Geral, que algum deste dinheiro subsidia-se parte da campanha aos columbófilos da terra nos próximos três anos. Com esta aprovação, e sem despesas em prémios, penso, tirando as doenças e limites de idade que não haverá diminuições de columbófilos nos próximos três anos no meu clube. Assumiu a Assembleia uma política visionária de que será mais importante manter os que cá estão do que entrar em loucuras de investimento que, na conjuntura actual, levaria a um aumento de preços e por sua vez a uma diminuição de columbófilos. Serão exemplos, como este, exemplos profícuos e de futuro prático e imediato que poderão momentaneamente estancar os abandonos. Porque na vida o recuar, ao contrário do que se possa pensar, poderá indiciar que se vai saltar.

O presente da columbofilia não passa só por medidas práticas na manutenção de columbófilos, passa necessariamente por medidas para a manutenção dos pombos. Este ano de 2012, assistimos às habituais percas nos primeiros treinos do início da época. Segundo alguns relatos, localizados, superiores ao habitual. Continuando a filosofia que mais vale “columbófilos contrariados” com os pombos em casa do que “columbófilos com o coração despedaçado” com os pombos perdidos venho mais uma vez chamar à Razão o conhecimento do tempo, dos pombos e daquilo que os pode afectar no momento da solta. Deixo neste artigo algumas questões de situações que fomos alterando ao longo das últimas décadas que são extremamente importantes e que contribuem para o inicial aumento das percas, pelo que se deverão repensar.

· A muda deixou de ser feita à solta, logo, não existe um tão bom conhecimento da área da residência;

· O não andar “a vadiar” comendo aqui e acolá, retirou capacidade aos nossos pombos de se alimentar em momentos mais confusos;

· O estar sempre dentro dos pombais, retirou-lhes capacidade de defesa aérea (Rapinas);

· O aumento de pombos vadios nos telhados de fábricas, igrejas e celeiros são locais de acolhimento temporário, que poderá tornar-se definitivo nos jovens pombos.

Estas alterações comportamentais que nós temos vindo a efectuar, aliadas às dificuldades climatéricas poderão, de certo modo, justificar, mesmo que parcialmente, o aumento de pombos perdidos nos primeiros treinos.

Para que se possa minimizar no futuro as percas provocadas por erros nas soltas, não este apontados anteriormente mas sim os meteorológicos, trago um guia a que denominei de “Checklist” para o columbófilo, nas soltas individuais, ou mesmo para os delegados de solta. Esta pequena “cábula” chama à atenção para os pequenos, grandes pormenores, que são normalmente negligenciados aquando os incidentes/acidentes nas soltas.

Por se tratar de análise no local de solta e ter em conta unicamente os primeiro quilómetros de cada prova, será sempre um ajuda útil para os treinos particulares e provas de velocidade e/ou Meio-Fundo curto. Ressalve-se que só tem a ver com as condições meteorológicas que afectam directa ou indirectamente a mecânica de voo do pombo, sendo negligenciadas as soltas próximas (cruzamento/arrastamento) assim como outras desconhecidas que possam afectar a capacidade de orientação.

Especial atenção para a intensidade e componente frontal (vento de bico) nos primeiros treinos dos borrachos, porque são extremamente desmoralizadores para um iniciado nestas andanças. Não esquecer que os primeiros treinos são como os primeiros anos do ensino básico, fundamentais, mas não indicadores das capacidades futuras. Existiram e existem muitos cientistas, professores e outros, que não foram bons exemplos nos primeiros anos de escola, pelo que, no nosso caso, teriam sido abandonados à sua sorte nos “primeiros treinos”.

De todos os elementos meteorológicos estudados e que afectam o voo do pombo-correio, o vento, por ser aquele cuja componente reduz ou aumenta drasticamente a velocidade do voo de regresso a casa, será aquele de maior importância por ser, também, maior condicionador dos bons resultados ou não, dependendo da intensidade, durabilidade e distância a percorrer. Um pombo cansado ou desorientado tende a seguir o vento. Veja-se no caso das inversões térmicas em que muitos dos pombos chegam a passar os seus pombais (com ventos favoráveis ao voo) e nós, normalmente falamos em arrastamentos. Mas esse assunto será abordado mais tarde. O vento por si só é o condicionador principal e associado a outros elementos, como a precipitação, poderá ser um elemento positivo ou negativo, caso seja com componente contra (Vento de bico).

A visibilidade e a precipitação, como em qualquer outro desporto será sempre importante atingindo a sua maior relevância nos primeiros quilómetros, por serem estes fundamentais quer na orientação quer na dificuldade que provoca ao voo. Todos os outros elementos têm a sua importância relativa quando sós ou incrementados se associados negativamente com o vento ou a visibilidade e/ou precipitação. Por vezes, soltamos pombos em dias em que notamos que há visibilidade mas a luminosidade é muito baixa. Dias de muitas nuvens. Recomenda-se especial atenção à relação temperatura e luminosidade.

Soltas com temperaturas abaixo de 3/4ºC são muito complicadas, com especial incidência nos pombos novos onde provocam maior número de baixas.

Com temperaturas, ao nascer do Sol, superiores a 22ºC estamos próximos do desastre, dependendo este dos cuidados que tivemos com o acondicionamento/abeberamento no transporte.

Tem-se vindo a verificar que valores térmicos elevados são muito prejudiciais mas inferiores ao que se pensava (mínimas de 20ºC e máximas de 38ºC) porque se começou a ter uma maior atenção à qualidade do transporte. Este maior cuidado veio a dizer-nos que era dentro das caixas, no transporte, que normalmente os desastres se davam pela desidratação. Apesar de alguns resultados, columbofilamente falando, serem aceitáveis, são de todo a evitar pelos motivos que todos conhecemos. As baixas são superiores ao mérito que alguns atletas e/ou columbófilos possam vir a ter e é muito mais importante a imagem que se transmite aos “outsiders” deste desporto.

A causa de voos desastrosos normalmente não se deve só a um fenómeno, mas sim à conjugação de dois ou mais fenómenos. Trata-se de um jogo de “forças” em que é necessário em cada momento analisar matematicamente a interacção entre elas.