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Campeonatos: Pombos perdidos - Columbófilos perdidos 23/04/2013

 

Durante a última década assistimos a um aumento “enorme” no número de provas praticadas em alguns distritos, acompanhando um desenvolvimento social, ou não, de uma procura desmedida e uma corrida imensa sem saber para que lado se corria. Passaram alguns distritos de 18 provas para 21 ou até mesmo 28. A economia crescia, ou diziam-nos que crescia, e a columbofilia crescia desmedidamente, como papagaios de papel flutuando ao vento. Quanto à sociedade foi o que se viu e quanto à columbofilia os papagaios calaram-se e o cordel partiu-se fazendo que se esteja a ver o “estatelar” deste desporto, como alguns lhe chamam, ou “hobby” como dizem outros, no chão provocando um estoiro enorme no número de pombos enviados e não nas quotas federativas porque muitos ainda “remam contra a maré” e criam sociedades para se manterem nos pombos. Em 2001 faziam-se 950 mil anilhas e hoje 550 mil. O exemplo que vou dar no meu distrito, Santarém, não se pode entender com fim destrutivo ou num tom de crítica mas sim como simples exemplo do que se passa a nível Nacional e em todos os distritos. Poderão alguns “chefões” dizerem que no seu distrito não é assim. A esse dir-lhes-ei que por causa das “Chico espertices dos banqueiros” e da “engenharia” financeira é que o país chegou a este caos e que a manutenção de pombos enviados se devem a equipas B, ou todos a contar para o melhor voador. Compreendo, aceito e até concordo com muitas das modificações efectuadas porque poderão ser para o bem da columbofilia; veremos. Até que não é justo um pombo fazer uma prova e ser considerada a treino. Mas isso são contas de outro rosário. Voltemos ao exemplo: em Santarém em 2011 foram enviados à primeira prova de Velocidade 15.758 pombos, no entanto em 2013 foram 12.905 pombos. Assistimos a uma diminuição de cerca de 20% dos pombos enviados, numa análise geral de Velocidade, Meio-Fundo e Fundo. Este poderá ser um número médio que representará o que se passou a nível Nacional nestes últimos 2 anos. O enraizamento nos campeonatos gerais associado ao aumento do número de provas a contar para este campeonato, juntamente com a nossa formação columbófila do vai a todas tem contribuído para um afastamento familiar, uma possível desilusão e um empobrecimento individual para que se mantenham as instituições que surgiram para satisfazer a vontade dos columbófilos que agora são eles que as têm que manter a qualquer custo. Não se pretende criticar só por criticar: antes sim alertar, consciencializar, para que possamos ver exactamente para onde pretendemos ir nesta louca corrida que temos estado a assistir: 2 ou mesmo 3 provas por fim de semana, incluídas nos campeonatos gerais. Poder-se-á dizer que: “não há pombo que aguente nem família que consente”. Estamos a afastarmo-nos da filosofia columbófila e de desenvolvimento do Pombo-correio, numa corrida desmedia na ânsia de títulos, venda de pombos, de dinheiro, de competição, etc.: ou seja de tudo o que é acessório e não fundamental à raça humana e por sua vez à columbofilia. Não será alheio também a este aglutinar de concursos por fim de semana a aberração imposta pela FPC de só se puderem efectuar concursos em Março. A ignorância justificativa para tal argumento é “Colossal” como diz o “Gaspar” a Lei da caça não diz nada disto (Portaria n.º 137/2012, de 11 de Maio de 2012 define as espécies cinegéticas às quais é permitido o exercício da caça e fixa os períodos, processos e outros condicionamentos para as épocas venatórias 2012-2013, 2013-2014 e 2014-2015) e poder-se-ia efectuar, fora da época de caça ao pombo, 1 a 2 concursos em Fevereiro conforme o ano: em 2013 poderíamos ter efectuado 1 concurso em Fevereiro, em 2014 poderíamos realizar 1 assim como em 2015. Aliás vão o dobro dos pombos a treino do que a concurso. Para quem não sabe o sábado é o grande dia de caça em Espanha e há muitos distritos a efectuar treinos ao sábado em Espanha com o dobro dos pombos enviados do que numa hipotética prova de velocidade. Tudo isto será porque os treinos caem na alçada das associações e os concursos já contam para os campeonatos Nacionais e como tal envolve a FPC? Dá que pensar. Assim não autorizamos competição e autorizamos o envio do dobro dos pombos enviados a treino e para esses não se aplica a Lei da caça. Esquecemo-nos é da caça em Espanha e só lemos, e mal, a legislação portuguesa. Conjuntamente com esta situação, estes mesmos senhores têm vindo a aprovar calendários negligentes ou “financeiramente correctos” das associações de uma forma que é de bradar aos céus e com uma passividade abismal contrariando até o por si legislado - RDN. Exemplo: aprova-se concursos de velocidade para soltar ao sábado para provas de duzentos e sessenta e até mais quilómetros, quando todos sabem que, na grande maioria deles, nesta situação, os carros chegam ao local de solta, preparam-se as galeras e soltam-se os pombos. Ainda há muitos columbófilos que trabalham, não são só reformados, e só saem do serviço depois das 18 ou 19 horas, logo os encestamentos terão forçosamente de ser efectuados depois das 20 horas. A columbofilia tornou-se só para profissionais? Onde é que está a defesa do pombo-correio? Esta situação já se tem verificado até em provas de Meio-fundo. A legislação é clara 2 horas de descanso mínimo para Velocidade e 3 para Meio-fundo (Art. 34º do RDN). O aprovar poderá filosoficamente só por si estar correcto mas teremos que fiscalizar. Se o regulamento diz isto, que entendo como pouco, deveríamos ter o cuidado de dar mais descanso e defender os atletas. Voltamos ao mesmo: redução de custos, incompetência, perca de pombos e perca de columbófilos e até de Clubes. Não perdemos é Federações e Associações, mas a continuar assim o fim está mais que à vista. Não citando nomes de associações vejam, quem quiser e tiver “olhos” para ver, o resultado, nas soltas ao sábado, de pombos perdidos. Vejam especificamente as soltas efectuadas no mesmo local ou na mesma área, e no mesmo dia, para distritos que fizeram Fundo e para outros que fizeram Velocidade/Meio-Fundo. Vejam a que horas chegaram uns, ao local de solta e a que horas chegaram outros. Vejam o que é ter pombos experientes e descansados e ter pombos inexperientes e mal dormidos. Vejam como é que a ânsia competitiva a vontade de ganhar a qualquer custo a incompetência e o correr desgovernado do Homem está a transformar a columbofilia. Deve-se defender, em primeiro lugar o pombo-correio e não a competição só por competir. Deixemo-nos de “campeonites” despropositadas e desnecessárias. Só nos lembramos da “anilha de ouro” perdida quando marcamos mal. Caso se faça primeiro no mapa, esquecemos tudo e os pombos todos perdidos. Não é assim que se lá vai meus amigos. O caminho não é por aí. Podemos e devemos seleccionar os nossos pombos perante as adversidades e não através de negligências desnecessárias e despropositadas a bem do desenvolvimento da columbofilia. As instituições terão que ser responsabilizadas, devendo-se retirar daí as consequências para os seus dirigentes.