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BREVE ANÁLISE À CAMPANHA DE 2012 16/07/2012

 

Nos últimos dez anos assistimos a vários acidentes, uns com maior ênfase que outros, que foram na sua grande maioria excepções à regra e alguns deles por “incúria, inexperiência, negligência ou porque, simplesmente, não havia conhecimento científico para os evitar”. Estes foram na realidade excepções à regra porque, na sua grande maioria as provas foram voadas a mais de 80Km/h em média. Foram correntes velocidades médias entre os 90 e os 115 km/h, em especial do meio da campanha para a frente. Provas de fundo voadas a 80, 85 ou mais foi uma constante, levando a que alguns columbófilos pensassem que tinham colónias de fundo/grande fundo; e o tipo de alimentação praticada era a de vulgarmente denominada por “palha”: rações leves.

Lamentavelmente ou não, a campanha deste ano não teve (até hoje 20 de Junho de 2012) desastres pontuais como os referidos anteriormente, tendo sido toda ela um autêntico “desastre” quer a Norte, Centro ou a Sul, foram raras, se existiram, as provas voadas a mais de 80Km/h. Foi desastre, não por incúria, inexperiência, negligência ou outras por parte dos organizadores mas sim por parte de muitos columbófilos. Ou seja: os que pensavam que tinham pombos de fundo/grande fundo não tinham; os que pensavam que as rações de dieta faziam milagres enganaram-se: esta campanha foi necessário mais “combustível”; os que contavam com provas a 90, as mesmas realizaram-se a 60/70. Sensivelmente ao meio da campanha cada pombo já tinha 10 a 12 horas de voo a mais que nas campanhas anteriores e continuavam a sair nas carrinhas de treino e a alimentarem-se como nos anos anteriores. Foi necessário um maior controlo energético do atleta para evitar percas desnecessárias. Saliente-se, no entanto, que os campeões foram os mesmos (aqueles que discutem habitualmente os campeonatos), demonstrando desta forma que, mesmo com as adversidades deste ano, nada é por acaso e que independentemente das velocidades, pombos enviados, equipas enviadas e número de designados, os campeões são quase sempre, salvo raríssimas excepções, os mesmos. A “igualdade” que se deseja começa desigual logo à nascença.

Tenho referido habitualmente que nunca consegui ter, na sua verdadeira acepção da palavra, mais de 10 a 15 pombos de fundo numa colónia de 70 a 80 adultos. Na década de 80 a enviar 5 a 7 pombos a Fundo fiquei várias vezes dentro dos 20 melhores concorrente no distrito de Santarém (nessa altura éramos bem mais do que agora). Vejo distritos em que os columbófilos estão a enviar 20 e 30 pombos para provas de 700 km. Meu Deus. Onde chegou a loucura e a falta de respeito pelo pombo, pelas suas capacidades e em especial pelo respeito ao verdadeiro “pombo de fundo”. Nos anos das velocidades superiores a 80km/h ainda os velocistas vinham das provas de fundo e desenrascavam. Agora parece que “queimam a junta da cabeça” depois das 8 horas de voo. A ânsia de marcar 2 pombos leva ao desespero de enviar só por enviar, à espera que venham 2, porque são aqueles que contam para o “concorrente”. São os novos tempos: A desilusão que se sente nos columbófilos, no que concerne a esta parte, aparece, pura e simplesmente, porque se criaram muitas ilusões. Aqui a F.P.C., na sua função de entidade reguladora do desporto columbófilo, tem muita coisa a dizer e não fez, não faz, nem quer fazer. Para “mal dos nossos pecados” pode ser que continue a mesma gente nas próximas eleições porque parece, que para os columbófilos eleitos e delegados ao congresso que elegeram a actual direcção, para eles, está tudo bem porque nem lá vão.

Mas uma campanha como esta, faz, por certo, repensar muita gente quanto à qualidade dos seus pombos perante as adversidades. A atipicidade das provas não se justifica só pela alimentação e pelo cansaço dos pombos. O ano de 2012 foi e será aquele com maiores tempestades magnéticas dos últimos dez anos. Este fenómeno faz variar o campo magnético da Terra através do seu vento Solar. Já sabíamos pela observação que em dias de muita poluição atmosférica, nomeadamente por partículas sólidas, e em dias de ultravioletas muito elevados (superior a 9 numa escala de 1 a maior que 11 em que o risco: 1 e 2 é baixo; 3, 4 e 5 é moderado; 6 e 7 é alto; 8, 9 e 10 é muito alto e maior que 11 extremo), associada a inversão térmica em altitude as provas eram extremamente difíceis pela dificuldade que provocavam na orientação (efeito de ilusão de óptica com aquela que se tem quando se coloca uma tábua parcialmente dentro de água – Parece que está partida -). Sabíamos que a primeira prova de calor era aquela que provocava maior número de baixas quer pela falta de adaptação do pombo e columbófilo ao meio quer pela falta de adaptação da estrutura columbófila. No entanto depois dos grandes acidentes de 28 de Maio de 2006 em Portugal a estrutura organizativa acordou para este fenómeno e corrigiu a sua maneira de estar ao ponto de no ano de 2011 se fazerem provas com máximas de 40ºC e as percas serem “desprezíveis” ao fim do segundo dia. Tal como já alguém disse: pombo a voar não morre; ele morre é desidratado dentro das galeras de transporte ou à chegada por negligência do columbófilo.

Raios Ultra violetas superiores a 9, em dias de céu limpo (com o céu de cor bem azul), não têm complicado a orientação dos pombos correio. No entanto, não sabíamos que a situação meteorológica de nuvens altas do tipo cirro estrato (camada extensa e fina de gelo), como a aquela que se verificou no dia 13 de Maio, também se assemelhava, com menor influência, com as dificuldades já observadas com as partículas poluentes sólidas em suspensão na atmosfera. Efectivamente o dia 13 de Maio de 2012 foi o primeiro dia de calor do ano com um aumento, em menos de 5 dias, superior a 10ºC de temperatura máxima e 8ºC em, média na temperatura mínima, os ultravioletas foram superiores a 9 a cor do céu foi de um azul acinzentado e verificaram-se várias explosões solares no 4 e 5 dia anterior à prova. Segundo os cientistas estas explosões demoram dois a três dias a chegar à Terra pelo que o que se verificou no dia 13 (dificuldade na orientação com consequentes “disparates” nas chegadas dos pombos) não teve uma relação directa com estas mas sim com outro fenómeno. Perante este facto e por falta de dados científicos realizados, que o comprovem, mas sim com base em observações efectuadas ao longo dos últimos 10 anos continuamos a relembrar que a cor do céu (não azulada), a ausência de luminosidade (dias escuros) a bruma (cor branca acinzentada que não deixa ver os montes ao longe) associadas a raios ultravioletas superiores a 8 ou 9 têm provocado percas elevadas nas competições com pombos correio. Neste fim-de-semana a associação de Viana do Castelo, perante o aumento repentino da temperatura, optou por trocar a prova de Meio Fundo (Beja) por Velocidade (Bemposta) com resultados extremamente positivos e que devemos em casos semelhantes ter este exemplo em conta como solução para minimizar o grau de dificuldade em situações de aumento brusco da temperatura. Uma solução poderá, também, ser a deslocação dos locais de solta do interior para a orla marítima onde as temperatura tendem a ser mais baixas. Penso que o dia 13 de Maio de 2012 poderia ter sido pior se não tivessem existido os desastres anteriores que nos alertaram para este conjunto de situações que, na ausência da objectividade da ciência, a subjectividade da experiência nos ajudou a minimizar o impacto negativo nas provas realizadas neste dia.

Outro exemplo extremamente positivo, porque normalmente como columbófilos apontamos sempre o dedo à parte negativa, gostaria de deixar os concursos de grande fundo realizados por Lisboa, Setúbal e de Fundo para Faro no dia 05 de Maio de 2012 em que toda a estrutura técnica da FPC “mandava” alterar as provas para o dia 6 devido ao mau tempo e estas associações, fruto de uma grande conjugação de esforços e conhecimento prático, técnico e científico decidiram efectuar as soltas num corredor, onde voam habitualmente,  como se pode observar na imagem a área delimitada por uma linha branca. Para surpresa de todos os intervenientes, as chegadas superaram em muito as previsões porque as classificações fecharam rapidamente para provas desta natureza e com percas diminutas ao segundo dia. Especificamente Faro que tinha a solta prevista para Vitória soltou em Sória para aproveitar o corredor em referência porque no local previsto para soltar tudo indicava impossibilidade quer para dia 5 quer para dia 6 de Maio, como se veio a verificar. Um dia a recordar pela positiva em que toda a estrutura envolvente, a estas soltas, dormiu com um sentimento de dever cumprido imensurável, mesmo que os responsáveis tivessem marcado mal na prova os seus (todos) pombos tinham vindo em segurança. Para eles aqui fica o meu apreço e reconhecimento público pelo feito.

 

Outras associações levaram os seus pombos para o local de solta previsto, nesta data, mas foi de todo impossível realizar as soltas em segurança devido à precipitação que se verificava na parte Sul/ Sueste e Norte/Noroeste da Península Ibérica.

Exemplo a reter para futuros calendários, serão as provas realizadas a 16 de Maio e 02 de Junho de 2012 que nos deram uma imagem magnífica das quilometragens e sua relação com a chegada dos pombos dando-nos uma ideia representativa do pombo cultivado actualmente. Através desta análise pode-se tirar a elação que acima de 650/700km sem ventos favoráveis as provas não são para “todos” mas sim para os eleitos para o fundo. Deveríamos repensar o Fundo e Grande Fundo, bem como os campeonatos gerais, independentemente daquilo que a F.P.C. tem no seu R.D.N.. Não podemos estar sempre à espera que seja a “FPC a fazer tudo”, já que “eles” nada fazem deveríamos encontrar uma solução a dois, três ou quatro distritos para se efectuarem anualmente provas selectivas do próprio pombo correio sem “mariquices”, sem “Barcelonas”, ou como alguns dizem: sem caixotes do lixo.