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O ESTADO DA “NAÇÃO COLUMBÓFILA" 0 16/07/2012

 

Lembro-me de ouvir a minha avó dizer, quando a questionava sobre as profecias do fim do mundo, que isso só aconteceria quando todos tivessem razão e nós não soubesse-mos qual era o lado certo em que ela estava. Filosófico? Talvez. O que é certo que nos dias que correm os meios de comunicação bombardeiam-nos com questões de tribunais que somos, por vezes, forçados a dar razão aos dois lados da querela. É uma questão do ângulo pelo qual se observa o problema.

Vejamos este pensamento aplicado ao estado da Nação Columbófila: O desenvolvimento tecnológico colocou os columbófilos em contacto permanente e todos estão informados de como estão a correr ou correram as provas do seu distrito ou dos outros. Todos ou quase todos e, nomeadamente os “mais esclarecidos”, estão mais ou menos informados dos calendários, linhas de voo, condições de transporte e das condições meteorológicas previstas ou que estavam no local de solta e em rota. Partindo desta base, é lícito e democrático aceitar que todos pronunciem a sua opinião sobre o que se passou especialmente no que concerne à qualidade da prova e relação com pombos desaparecidos. Com a introdução dos denominados fóruns, assiste-se a um desenrolar de opiniões, porventura mais sonantes, podendo ser ou não representativas da realidade da vontade dos columbófilos. Sempre que as percas são elevadas constata-se, na visualização das opiniões escritas ou faladas, desânimo e/ou revolta com tudo o que se passou. É vulgar verificar que no pico do sentimento de revolta e a quente até criminosos e assassínios se chame a alguém. Verifica-se de um modo geral que, como é absolutamente natural, ninguém quer perder os seus alados. No entanto, sabemos que as soltas de pombos envolvem riscos e por vezes muito grandes. Todos nós já tivemos acidentes com os nossos pombos nas soltas individuais que fazemos, logo não há razão para desconhecer-mos o risco a que eles estão sujeitos quando são soltos, com a agravante que se está em competição e aí é, como diz o povo, o salve-se quem puder. Seguindo o raciocínio inicial sobre os vários estados de espírito dos columbófilos se, por um lado se houve de norte a sul do país ecos de discórdia com tudo o que envolve as soltas de pombos-correio, por outro e, em especial este ano de 2008 em que as provas têm sido voadas a velocidades mais baixas que o que era normal ou típico nos anos anteriores, regista-se em alguns columbófilos, em especial nos mais “velhos” agrado pela selecção natural e pelo regresso aos bons resultados dos sangues antigos. O “pombo velho” volta a ter valor e a derrotar o “pombo novo” sempre que o grau de dificuldade aumenta, ultrapassando as dez horas de voo. Não está aqui em causa se é melhor ou pior, se é justo ou não. São pontos de vista diferentes de praticar a columbofilia. Como estamos perante campos opostos de a praticar terá forçosamente de haver dialéctica para que possam coexistir os dois modos de a praticar sob pena de ela desaparecer. Os dois lados poderão ter razão. Para que a columbofilia, sobe o ponto de vista das soltas não acabe terá que se optar por uma solução que se coadune com estes dois modos de praticar a columbofilia. Para isso há que fazer tréguas na hipotética “guerra”, parando para pensar, consultar os columbófilos e dirigentes. Poderá haver distritos com métodos diferentes. “Nem sempre a globalização trás desenvolvimento ou satisfação”. Veja-se a crise em que vivemos.

 

1.   Praticar a columbofilia sempre que se entenda que há condições ideais para que os pombos regressem a casa. Adapta-se as distâncias às condições atmosféricas. Solução esta de grande dificuldade pois ainda não se sabe como é que o pombo-correio se orienta, logo não se sabe o que o afecta, porque não são só os fenómenos meteorológicos que lhes criam problemas como se tem vindo a observar ao longo dos anos. Este sistema a favor do chamado “pombo novo” e da vontade de muitos columbófilos teria forçosamente que se sujeitar a uma regra rígida de legislação sobre soltas de pombos-correio e haveria muitos fins-de-semana com provas canceladas porque as condições não se enquadravam dentro das regras. Situação normal, aceitável e exequível. Basta os columbófilos quererem e legislarem, mesmo que a FPC transmita a ideia de não o pretender fazer.

 

2.   Praticar a columbofilia pela columbofilia através da selecção natural. Solta-se desde que haja condições para soltar qualquer que seja o tempo que os pombos possam vir a encontrar. Tal como se praticava nos primórdios em que os pombos iam de comboio. Soltava-se porque os pombos não podiam vir de volta. Eram as condições que haviam. Nada mais. Saliente-se que nestas épocas as provas de fundo eram em número reduzido, fundos curtos e espaçadas no tempo. Com esta situação enviava-se quase sempre menos de 5 pombos. Os columbófilos dessa época recordam-na com muita saudade: agora resta-me saber se é dessas provas ou da sua juventude.

 

3.   Praticar uma columbofilia cientifica consciente do passado e objectivando o futuro. Legislando quer sobre a qualidade no transporte de pombos correio quer sobre as condições de solta e de percurso, fazer provas consideradas de baixo risco e outras de alto risco num campeonato à parte

 

 

 

Conhecedores desta realidade resta-nos questionarmo-nos sobre o que queremos para a nossa columbofilia.