Escola de Meteorologia

VENTOS LOCAIS 18/07/2012

VENTOS LOCAIS  

 Certos ventos, que não são perturbações independentes mas fazem parte de movimentos maiores de ar, adquirem propriedades características nalgumas regiões e, por isso, recebem, às vezes, nomes especiais. Serão discutidos rapidamente nesta abordagem alguns desses ventos. 

Ventos Locais Significativos. Os ventos que sopram de certas direcções, com certas características, em diversas partes do Globo, são conhecidos por nomes populares. Nem sempre apresentam interesse meteorológico, porém, alguns apresentam propriedades especiais dignas de nota. Dos mais importantes salientam-se o foehn ou chinook, o sirocco, o bora, o harmattan, o mistral, o “norther”, o pamperro, o ghibli, o levante, a nortada, a  tempestade de areia e a tempestade de neve. Tais ventos adquirem características especiais, devido à situação geográfica, à topografia local e mesmo devido às condições da superfície da Terra.  

 Levante. O Levante é um vento quente de este. O anticiclone do Atlântico Norte posicionando-se na sua posição setentrional extrema, dirige os ventos de norte/este sobre a Península Ibérica (foehn), que se desviam para Este junto ao Estreito de Gibraltar. Ocorre durante o verão e em Portugal faz-se sentir na região do Algarve.

  Nortada.  A nortada é a denominação dada em Portugal continental à resultante vectorial entre um vento Barostrófico (brisa marítima) e o vento da circulação geral, associado ao anticiclone subtropical denominado de anticiclone dos Açores. Ocorre nas tardes quentes entre Junho e Setembro, quando a massa de ar Tropical continental se instala sobre a Península Ibérica, provocando céu limpo e acentuado aquecimento à superfície. O diferencial energético que se verifica cerca de duas a três horas depois do meio dia solar, provoca uma deslocação de massa de ar, do oceano para o continente, que é proporcional ao diferencial energético local. A sua intensidade pode variar de 12 a 25Kt em média, soprando por vezes com rajadas, e termina quando o desequilíbrio que lhe deu origem é anulado, cerca das 21, 22 horas.  A Nortada faz-se sentir em toda a faixa costeira Ocidental, onde é mais violenta, e pode estender-se aproximadamente até aos 80 Km para o interior.

 Foehn. O Foehn é um vento de rajadas moderadas a fortes, quente e seco, que ocorre a sotavento de um grupo de montanhas no sentido descendente da encosta. O nome é originário dos Alpes mas actualmente é usado como um termo geral para este tipo de vento. O seu deslocamento é resultado da diferença de pressão, verificada nos dois lados da montanha. No lado sobre o qual o vento sopra a pressão é relativamente alta e o ar é forçado a elevar-se sobre a montanha, com uma consequente expansão e arrefecimento na razão adiabática seca, seguida pela condensação e arrefecimento retardado. No lado oposto há descida do ar, compressão e aquecimento adiabático, ao longo de toda a descida.  Em consequência, quando o ar atinge o mesmo nível no qual iniciou a subida no lado oposto, está mais seco e quente. Os ventos desse tipo são locais e intermitentes. São especialmente comuns no lado norte dos Alpes, na Suíça, onde são chamados de ventos foehn. A explicação clássica do calor do foehn era que este era devido à condensação e perda de vapor de água por precipitação causada pela ascensão forçada no lado de barlavento. A temperatura potencial do termómetro molhado permaneceria constante, mas o ar, para sotavento, tendo perdido muito de seu vapor  deveria ter uma temperatura do termómetro seco muito mais alta. Pensa-se, agora, que este processo representa, no máximo, uma consequência.

    a.    Muro Foehn.  Associado ao efeito de foehn, forma-se frequentemente uma massa de nuvens precipitáveis por cima das encostas a barlavento das colinas. As nuvens prolongam-se pela encosta mas evaporam na corrente descendente, terminando ao longo de uma linha paralela ao cume principal das montanhas.

    b.     Chinook. Na Califórnia, na vertente oriental das Montanhas Rochosas (Wyoming e Montana), existe um vento tipo foehn localmente chamado de chinook. É um vento seco soprando de terra, podendo ocorrer durante todo o ano. A sua chegada é normalmente súbita, com uma, consequente,  subida da temperatura e rápido descongelamento de neve.  Há, com frequência, um contraste nítido entre o ar que forma esses ventos e o ar ambiente, principalmente no inverno, e os chinooks podem fazer com que uma camada espessa de neve desapareça rapidamente por fusão e evaporação.

  Sirocco.  Os ventos ciclónicos quentes recebem diferentes nomes em diversas partes da Terra. O sirocco é um vento do sul que sopra do Deserto do Saara e atinge o norte quente, seco e poeirento da África durante o verão. Costuma, por vezes, atingir as praias do norte do Mediterrâneo à frente de um centro de baixa pressão que se desloca para este. Ao atravessar o mar adquire humidade suficiente, nos níveis inferiores, para se tornar quente e inconfortavelmente húmido, tendo associado, frequentemente, estratos baixos. Tal condição poderá ser ainda mais intensificada pelo efeito de foehn, nas praias da Sicília e da Itália. O termo sirocco tem sido empregado, de modo geral, para designar qualquer vento quente e seco, que ocorra no sector quente de uma depressão móvel que tenha sido aquecida pelo contacto com superfície continental quente e árida.

 Bora. O Bora é um vento frio de nordeste, frequentemente muito seco que desce das montanhas na costa ocidental do Adriático, soprando por vezes com rajadas violentas. É mais forte e mais frequente no inverno (Dezembro a Março) e na parte norte da costa. Acontece quando a pressão é alta sobre a Europa Central e os Balcãs e baixa sobre o Mediterrâneo. Se esta situação está associada a uma depressão sobre o Adriático, o Bora é acompanhado por nuvens bastante desenvolvidas e chuva ou neve. O termo também é aplicado a ventos frios descendentes por encostas, noutras partes do mundo.

  Harmattan.  O “Harmattan” é um vento muito seco que sopra de nordeste ou, às vezes, de este no noroeste de África sendo mais frequente e intenso de Novembro a Março. O seu limite meridional comum é aproximadamente 5º N em Janeiro e 8ºN em Julho (de Cabo Verde ao Cabo Lopes). Além do seu limite à superfície, continua para o sul como uma corrente, em altitude,  sobre as monções de sudoeste.  Sendo ambos secos e relativamente frios, forma um, bem-vindo alívio, ao permanente calor húmido das regiões tropicais, e pelos seus poderes saudáveis que provoca, é localmente conhecido como “o doutor” apesar do facto de transportar grandes quantidades de poeira do deserto, atingindo por vezes as Canárias. Esta poeira transportada é, com frequência, em quantidade suficiente para formar uma névoa espessa que impede a navegação nos rios.

 Mistral. O Mistral é um vento de nor-noroeste ou de norte que sopra perto da praia ao longo da costa norte do Mediterrâneo desde o Delta do Ebro até Génova. Na região principal do seu desenvolvimento as suas características são a frequência, a força e ser frio e seco. É mais intenso nas costas de Languedoc e Provence, especialmente dentro e fora do delta do Rhône. Na costa, as velocidades são, aproximadamente, 40 km/h mas no vale do Rhône foi alcançada uma velocidade superior a 75 km/h.

 “Norther”. Um dos mais famosos ventos das regiões do centro e sul dos Estados Unidos, México, Panamá e Caraíbas, é o “Norther”. É um vento frio e forte, que sopra do norte no inverno (Outubro a Março), causado pelo rápido avanço de um anticiclone polar. A sua chegada é acompanhada por quedas rápidas de temperatura de, às vezes, 11º C a 18º C numa hora, seguida de neve ou chuva. Os "Northers" severos são vulgarmente chamados de “ondas de frio”.  "Northers" severos costumam trazer condições de gelo, e consequentes danos à indústria cítrica da costa do Golfo e do Vale do Rio Grande. Um vento semelhante ocorre na América do Sul, e é chamado de “Pamperro”.

 Pamperro.  Pamperro é o nome dado na Argentina e no Uruguai a uma tempestade severa de vento, às vezes acompanhada por chuva, trovões e raios. Ocorre ao longo do Rio da Prata de Julho a Setembro. É uma linha de instabilidade, com nebulosidade típica ao longo da sua frente. Existe um gradiente (térmico e de pressão) muito grande junto à face sul do anticiclone do Atlântico Sul, quando da passagem das depressões de oeste para este. Há uma grande descida da temperatura à passagem da tempestade.

 Ghibli. O Ghibli é um vento quente e seco de sul e sudeste que ocorre na primavera ou verão na zona de Tripoli. Transporta grande quantidade de poeira diminuindo consideravelmente a visibilidade. É o sirocco que toma características de foehn ao descer de Djebel antes de atingir Tripoli.

    Tempestade de Neve (“blizzard”, na América). A tempestade de neve é constituída por um vento frio e violento (normalmente um “norther”), acompanhado de neve que ele levanta do solo.  A neve consiste em partículas finas e secas que são levadas pelo vento em tal quantidade que reduz a visibilidade a poucos metros. Essas partículas são tão finas e em tal quantidade, que tomam a aparência de nevoeiro. Esse tipo de vento é, oficialmente, caracterizado por velocidades mínimas de 32 Kt, acompanhado por temperaturas abaixo de –20º C e por tanta neve em suspensão no ar, quer sendo soprada, quer em queda livre, que reduz a visibilidade a menos de 500 metros e, ocasionalmente, a zero. Tem sido verificado na Antárctica, com velocidades entre os 75 e 100 Kt.

     Tempestades de Areia.  As tempestades de areia são ventos moderados a fortes que, soprando sobre terreno seco, solto e desprovido de vegetação, levantam nuvens de poeira, que são transportadas pelo vento. São frequentes no sul das Grandes Planícies, mas de ocorrência local. Quando áreas extensas se tornam muito secas, toda a atmosfera inferior se enche de poeira. Quando há estabilidade, a poeira permanece próxima à superfície e o céu pode ser visto através dela. Quando há instabilidade, a turbulência leva a poeira até grandes alturas, a atmosfera inferior fica toldada e o céu desaparece, atrás da nuvem cinza de poeira que chega mesmo quase que a ocultar o Sol. Por vezes, nas Grandes Planícies, a nuvem de poeira adensa-se tanto que há necessidade de iluminação artificial em pleno dia. Ao longo de uma frente bem nítida, pode ocorrer um aumento da velocidade do vento, e, nesse caso, a nuvem de poeira avança adiante dela como se fosse uma muralha, e sua chegada num dado local pode ser bem observada. Pode também ocorrer o contrário, com a poeira a espalhar-se. A poeira que assim se eleva compõe-se de pequenas partículas, que podem ser levadas através de grandes distâncias, normalmente deslocando-se para este antes de pousar. Nos Serviços de Meteorologia a condição de tempo é dada como sendo “poeira”, quando esta reduz a visibilidade para 1,5 a 10 quilómetros  e “poeira densa”, quando a visibilidade for inferior a 1,5 quilómetro. O solo nu e desprovido não só provoca as desagradáveis tempestades de areia, como também perde a sua fertilidade, por efeito do vento turbulento. As tempestades de areia ocorrem com frequência nas Grandes Planícies dos Estados Unidos, no norte da China e em outras áreas secas do mundo. Quando começa a haver precipitação numa dada massa de ar, que contém grandes porções de poeira, a chuva ou neve que cai, arrasta as partículas em suspensão, formando uma espécie de chuva lamacenta ou neve descolorida. Em Cheney, Nebrasca, em 12 de Maio de 1934, foi observada uma queda de granizo colorido, com pedras que mais pareciam bolas de barro, devido ao acúmulo de poeira. Em Madison, Wisconsin, no dia 9 de Março de 1918, foi depositada com neve e gelo, poeira no total de 13,5 toneladas por milha quadrada, dando ao ambiente um colorido amarelo. Exames microscópicos dessa poeira, mostraram que ela se compunha de partículas minerais, com diâmetro variável entre 0,008 a 0,025 de milímetro, e de fragmentos vegetais, inclusive fungos e esporos. Acontece, por vezes, o assentamento rápido da poeira, devido à redução do vento, e, como não há precipitação, ocorre, nesse caso, uma queda de poeira seca. Em 29 de Abril de 1933, em Lincoln, Nebrasca, houve uma queda de poeira seca, avermelhada, que durou quatro horas, tirando a cor de todas as superfícies horizontais. A sua intensidade foi de cerca de 30 toneladas por milha quadrada. Horas antes registou-se chuva sem conter poeira perceptível, mas, quatro horas depois da chuva, a poeira começou a descer por seu próprio peso, auxiliada pela descida do ar.