Estudos

A ORIENTAÇÃO DAS AVES - " ULTIMAS DESCOBERTAS " 17/07/2012

 

         Os fenómenos meteorológicos são, normalmente, apontados como desorientação e causa primária da perca de pombos-correio. No entanto, estes fenómenos, na sua grande maioria, só afectam a capacidade mecânica do voo pelo que as percas são por desgaste físico e consequente “desorientação psicológica”.

As ajudas fornecidas pela “aldeia Global” colocaram a informação meteorológica disponível e acessível para todos, tendo-se verificado uma grande melhoria na qualidade dos concursos nos últimos anos. Os “acidentes” a que assistimos deveram-se a fenómenos não previstos, ou pela ciência ainda não totalmente conhecidos, pela ligeireza na interpretação da informação e pelo espírito competitivo desenfreado contrário à defesa do Pombo-correio.

O cerne da questão (perca de pombos-correio), abstraindo as condições do transporte, deve-se a dois factores: incapacidade de se orientar correctamente e a dificuldade na mecânica do voo.

Neste texto vamos debruçarmo-nos sobre a capacidade de orientação.

Quanto à capacidade da orientação das aves, os estudos científicos realizados antes de 2008 diziam-nos que:

Michael Bookman (1977), em experiências efectuadas com pombos dentro de caixas, provou que sempre que existe variação do campo magnético o pombo deita-se, mantendo-se em silêncio.

É mundialmente aceite que o pombo-correio utiliza um compasso solar e um compasso magnético, utilizando-os simultaneamente (Wiltschko 1981).

É no entanto o compasso magnético que é utilizado primariamente, servindo, assim, de base à orientação do pombo-correio (Wiltschko 1996).

O final do voo (cerca de 50/60 km) é normalmente efectuado à vista por reconhecimento de pontos previamente memorizados em voos ou treinos anteriores.

Klaus Schulten da Universidade de Illinois, propôs à mais de quarenta anos atrás que as aves migratórias deveriam ter nos seus olhos ou cérebro moléculas que respondessem ao magnetismo.

Experiências efectuadas demonstraram que as cores da banda do visível (arco Íris) mais próximas do ultravioleta e as do ultravioleta facilitam a orientação das aves e que a luz amarela ou avermelhada, suprime as suas capacidades de orientação. (Wiltschko and Wiltschko - 2001)

Experiências efectuadas demonstraram incontestavelmente que a percepção do campo magnético passa pela visão. (Wiltschko – 2002) Pombos largados, em dias de Sol, numa zona de anomalia magnética, ficam inicialmente desorientados; a confusão tem provavelmente a ver com erros de localização. Uma vez fora da zona de anomalia, a orientação retoma as características habituais. (Fonte: J.L. Gould, American Scientist).

Estudos realizados ao longo dos anos, quer nos Estados Unidos quer em Itália, mostram que os voos de regresso, em períodos de perturbações magnéticas, são mais lentos e menos precisos. O efeito sobre o rumo inicial, após a largada, também é interessante: em dias de Sol ou encobertos a direcção inicial de voo, num local, sofreu desvios até 40º (no sentido dos ponteiros do relógio), sensivelmente proporcionais à “intensidade” da tempestade. Parece, assim, que as tempestades magnéticas perturbam o sentido de localização das aves. (Fonte: J.L. Gould, American Scientist)

 

No ano de 2008, um estudo internacional demonstrou a relação entre as aves migratórias e o campo magnético da Terra, relacionando uma molécula existente na retina do olho das aves com o campo magnético da Terra e a luz azul.

Uma equipa de investigadores da Universidade Estatal do Arizona e uma equipa da Universidade de Oxford em Inglaterra, foram os primeiros a demonstrar um modelo de Bússola fotoquímica que pode simular como é que as aves migratórias usam o campo magnético da Terra para navegar. Esta equipa de cientistas reportou que o modelo fotoquímico é sensível quer à magnitude quer à densidade do campo magnético quando exposto à luz. Este fenómeno conhecido, internacionalmente, como magneto-recepção química é exequível e fornece uma percepção da estrutura e dinâmica de uma bússola fotoquímica.

A teoria da “foto-recepção” é baseada no facto de ter sido encontrado foto-receptores da luz azul na retina das aves migratórias quando se orientaram pelo campo magnético. Contudo, ainda não foi confirmado, quer em laboratório quer na prática, que um campo magnético tão fraco como é o da Terra possa produzir mudanças detectáveis por um foto-receptor molecular.

         Os investigadores demonstraram que uma molécula, composta de “carotenóides”, “porfirina” e “fulereno” ligados entre si, pode funcionar como uma bússola.

CarotenóidesQuimicamente são membros da família dos terpenóides, e são formados por quarenta átomos de carbono. São um tipo de molécula de estrutura isoprenóide, ou seja, com um número variável de duplas ligações conjugadas, que lhes confere a propriedade de absorver a luz visível em diferentes comprimentos de onda, desde 380 até 500 nm, as suas cores vão do amarelo ao vermelho, e são amplamente empregados como corantes. É um pigmento orgânico que ocorre naturalmente nos vegetais e outros organismos fotossintéticos, tal como as algas, alguns fungos e bactérias. Este pigmento absorve a luz azul. Nos humanos é conhecido como beta-caroteno e é um fornecedor de vitamina A, sendo um pigmento essencial para uma boa visão, podendo actuar também como antioxidante.

         Porfirinao nome vem de uma palavra grega para roxo. Os representantes mais comuns desta classe de compostos são o grupo “hemo”, que contém ferro, a clorofila, que contém magnésio, e os pigmentos biliares.

As porfirinas são pigmentos de cor púrpura e de origem natural. A estrutura em anel da porfirina é a razão pela qual todos os derivados porfíricos absorvem luz a um comprimento de onda próximo dos 410 nm, dando-lhes a sua cor característica.

 Fulerenosão a terceira forma mais estável do carbono, após o diamante e a grafite. Foram descobertos em (1985), tornando-se populares entre os químicos, tanto pela sua beleza estrutural quanto pela sua versatilidade para a síntese de novos compostos químicos.

 

Como funciona a bússola magnética

Em condições normais, cada um dos electrões orbitais do exterior estão ligados, “carotenóides” (C), “porfirina” (P) e “fulereno” (F), estas unidades contêm dois electrões emparelhados. No par, o pólo Norte magnético de um electrão é compensada com o pólo Sul magnético do outro, tornando-se não magnético. Tal como todos os seus electrões estão emparelhados, a molécula CPF tem uma carga neutra e existe no seu estado mais baixo de energia. Alternativamente, quando uma molécula CPF é exposta à luz, a “porfirina” absorve a luz move-se para um estado mais elevado de energia. O movimento da “porfirina” induz um estado “carotenóide” electrónico para deixar o seu parceiro e passar para o exterior do “fulereno” orbital. Esta transferência para o exterior “fulereno” leva a ganhar um electrão e ser carregado negativamente. Por outro lado a “carotenóide” perde um electrão e fica carregada positivamente. A recém-formado molécula, C+PF-, mantêm-se num estado separado de carga.  

Tendo em conta que os electrões já não estão emparelhados com os seus parceiros, e estão localizadas em extremos opostos da molécula C+PF-, localizados no exterior dos orbitais do “carotenóide” e “fulereno”, estes podem responder à direcção e magnitude das forças magnéticas vindas do exterior.

"Estes estudos, constituem uma prova clara do princípio da bússola magnética das aves migratórias e é baseado numa reacção química magneticamente sensível cuja duração depende da orientação das suas moléculas ao campo magnético da Terra", (Peter Hore, professor de química na Universidade de Oxford e chefe da equipa britânica).

 

Como já foi referido em outros trabalhos, em dias de inversão térmica, especialmente com inversões em altitude, típicas nos meses de Maio e Junho, a coloração do céu apresenta-se amarelada e/ou acastanhada, demonstrando a ausência de alguns comprimentos de onda da banda do visível (cores azuis) à superfície.

Face a estas últimas descobertas, a hipótese de Steven van Breemem & Hubert Land começa a fazer sentido e a justificar algumas percas em dias de inversão térmica e raios UV elevados. Ou seja, cada vez mais se relaciona os comprimentos de onda da banda do visível, próximo da luz azul e os ultravioletas próximos da banda do visível com a orientação das aves. Deste modo, apesar de ainda não haver comprovação científica, será uma medida inteligente, aquando a solta de pombos-correio, ter especial atenção às inversões térmicas, ou por outro lado, ao silêncio dos pombos dentro das caixas, comportamento típico na ausência de elementos necessários à navegação.