Henrique Manuel Costa Dias

 NotíciasVisitas: Contador de Visitas 
ESCOLHA DE REPRODUTORES vs. SELECÇÃO DE VOADORES 06-02-2015

  

POMBOS de “SPORT”:

ESCOLHA DE REPRODUTORES vs. SELECÇÃO DE VOADORES

 

Por:  Henrique Dias  ||  22.01.2015

 

 

 

 

Manter uma colonia no topo obriga, mesmo os columbófilos mais famosos, possuidores de bons casais de reprodutores, a fazer anualmente selecção quer de reprodutores quer de voadores.

 

É do senso comum que são os resultados dos voadores que fazem, ou não, os bons reprodutores. Sem evidências, sem resultados, nunca poderemos considerar um casal como bom reprodutor, por muito potencial que tenha. Quando muito ficamo-nos por aí, pelo potencial, quando o par provém de famílias de vencedores, com provas dadas em várias gerações.

 

 

 

 

 

“Piet”, um extraordinário reprodutor.

 

 

Leon Petit, na sua obra A técnica do pombo”, diz-nos que convém diferenciar entre a acção de escolher e a de seleccionar. Diz-nos ele que “escolher, como se entende, quer dizer afastar os pombos de qualidade medíocre, de modo a conservar apenas os que interessam para constituir uma boa equipa. (…) Seleccionar, é fazer uma escolha ponderada dos indivíduos mais aptos a perpetuar uma cultura. Uma selecção bem dirigida deve conduzir sempre a um melhoramento. Em certos casos, ela deve permitir após várias gerações a modificação duma linha sob um ou outro aspecto, seja físico seja psíquico. Quer se trate de escolha ou de selecção, é necessário evitar fazer-se escravo duma preferência exclusiva, que poderia levar rapidamente a uma perda no domínio das qualidades desportivas. (…) São os melhores pombos das linhagens que cultivamos de devem constituir o nosso padrão pessoal de selecção. (…) Para escolher, é necessário começar pela eliminação dos inúteis que se encontram, no fim de cada época, em todos os pombais. Nem é preciso esperar pelo fim da época para os fazer desaparecer. (…)” (1)

 

Este ponto de vista, bem actual, deixa-nos espaço para continuar com mais algumas ideias que nos parecem pertinentes para uma evolução natural da columbofilia portuguesa.

 

Uma dessas ideias é, no caso dos voadores, a selecção/escolha começar mais cedo, tendo por base o exemplo de países onde se joga, desde muito cedo, os borrachos(2). Para isso, era necessária a organização de campeonatos específicos, oficiais, com outra visibilidade, para borrachos logo no ano do seu nascimento. Ao fim de alguns meses de vida, esses borrachos estavam a ser submetidos a treinos e competição. Logicamente, se por um lado era feita uma selecção natural, a do cesto, por outro no final da competição seriam escolhidos os melhores que transitariam para o ano seguinte. Se os campeonatos fossem aliciantes, com boas contrapartidas financeiras para os columbófilos, a selecção seria ainda mais apertada de ano para ano e sem dúvida a qualidade também aumentava. Associado a esta ideia deve estar a qualidade e não a quantidade na hora de encestar, se necessário, com limitações.

 

Para animar esta selecção poderia ser criado e legalizado um sistema de apostas, onde se poderia ganhar bastante com um investimento reduzido, isto é, colónias pequenas mas de grande qualidade, evidentemente, depois da referida selecção.

 

Não sou apologista, nem defensor, da aquisição de pombos de segunda linha. Mas, no seguimento da ideia anterior, adquirir pombos de ano a columbófilos de TOP, que querem manter colónias reduzidas, após a selecção e/ou escolha anual, não me parece completamente descabido. Temos exemplos de leilões de final de ano/época e outras vendas, que acontecem noutros países, que representam esta ideia e que nem por isso deixam de ter sucesso, o que acho natural. E porquê?

 

Porque, dentro destes princípios, quem compra está a adquirir, a preços convidativos, um borracho previamente seleccionado, porque foi criado dentro de padrões de qualidade, e por inerência com um potencial elevado como reprodutor. Não deixa de ser pertinente, conhecer a fundo os resultados alcançados por essa linha de pombos e se se encaixa na(s) linha(s) que cultivamos, ou que queremos, para inicio de linha a cultivar.

 

Em Portugal a realidade é bem diferente. Com excepção dos derbys não temos provas significativas para borrachos nascidos nesse ano (3). Alguns pombos iniciam, pela primeira vez, a competição com 8 e mais meses de idade, em campeonatos onde participam “jovens” e “adultos”. Por isso, a selecção de velocistas e meio fundistas, no primeiro ano de competição, é quase nula. Naturalmente, ainda menor, é a selecção dos pombos criados com o objetivo de participar na especialidade de fundo, mas essa é compreensível.

 

 

 

 

  

Um excelente casal.

 

 

Por isso, é fácil perceber, que o facto de se criar muitos pombos em Portugal, que ficam na sua maioria de um ano para o outro, mesmo que marquem poucos prémios, ou nenhuns, tem muito que ver com o sistema de competição do nosso país. É óbvio que se existissem campeonatos de borrachos no ano do seu nascimento, a selecção começaria mais cedo, e evitaria que muitos pombos transitassem de um ano para o outro, excepção feita aos verdadeiros fundistas, como já referimos.

 

Nesse contexto a despesa para o columbófilo também era menor, e provavelmente a qualidade também aumentaria, a todos os níveis.

 

Como referimos, é pelos resultados obtidos pelos nossos voadores que avaliamos a qualidade do nosso quadro de reprodutores. Se somos exigentes, e não nos damos com a mediania, os nossos voadores devem marcar acima dos 75% das provas em que participam. Entre os 75 e 100% existe ainda uma margem de 25%. É dentro desta margem que deve estar o nosso quadro de reprodutores, isto é, produzir pombos que se classifiquem entre 75% e 100% das provas em que participam. Se assim for, teremos uma colónia competitiva, difícil de bater, e cujo padrão de qualidade pode variar entre o Bom e o Excelente.

 

 

 

 

 

“Pisca”, uma excelente voadora: 18/18 prémios, numa época!

CAMPEÃ DISTRITAL GERAL GRUPO I, 2009 - A.C.D. BRAGA

ANILHA DE OURO GERAL, VELOCIDADE, MEIO FUNDO E FUNDO, 2009, S.C.P.L.

4 x 1º, 9 x TOP TEN!

 

 

Mas, ainda podemos elevar a fasquia e estabelecer como objectivo que nos interessa apenas aqueles que marcam em pelo menos 75% das provas mas, na primeira ou segunda dezena. Claro que esta premissa é variável, e merece interpretação conforme o nº e qualidade dos pombos encestados.

 

Desengane-se quem considera que o grande nº de pombos encestados significa, obrigatoriamente, qualidade. Competir contra um pequeno nº de pombos pode ser tão difícil como competir contra um elevado nº de pombos. Sustento esta afirmação com o seguinte exemplo: Imaginem uma colectividade ou associação com 100 columbófilos em cada um envia apenas os seus 3 melhores pombos, e, uma outra colectividade ou associação com 30 columbófilos que enviam, cada um, 100 pombos. Qual destas colectividades será a mais competitiva?

 

Voltando ao tema deste artigo, parece-nos também que as especialidades poderiam trazer maior competitividade e ajudar na escolha de voadores e reprodutores. Optar por uma especialidade, traria vantagens para um columbófilo com pouca disponibilidade, para a condução da colonia, bem como uma redução de custos com tratamento adequados e uma boa alimentação uma vez que se supõe que as colonias passariam a ser mais reduzidas, com menos reprodutores, menos voadores e uma selecção mais apertada. Também o acompanhamento, de uma colonia constituída por poucos atletas era mais “personalizado”, o que não acontece em colonias numerosas, e com poucos recursos. Parece-me ainda que desta forma, o abandono da modalidade poderia abrandar  e, se inseríssemos na equação a valorização prova a prova em que o columbófilo era libre de optar, sem estar agarrado a um campeonato geral, pelas provas que entende-se, com uma valorização adequada dos pombos e columbófilos, temos a certeza que haveria mais participantes e menos abandonos. Como é evidente o que se propõe é um formato de competição diferente do que está em vigor. Com esta forma de proceder, com a competitividade a aumentar, também se valorizava a qualidade do pombo português, em detrimento da quantidade.

 

Apesar de não ser tarefa fácil era interessante a existência de um CADASTRO NACIONAL dos pombos vencedores das principais provas distritais, com respectiva filiação, e identificação dos seus criadores, gerido por entidade competente, ou seja, pela FPC em parceria com as Associações, o que seria mais um contributo para a tão almejada valorização do pombo português. Neste sentido, a nova plataforma utilizada pela FPC com os resultados dos vencedores e a sua divulgação, é já um indicador de que é possível ir mais além.

 

 

 

 

 

A “29”, Campeã Nacional de meio fundo, em 2009.

  / 5423 p. 357km;

2º /  6207 p. 383km;

  / 6243 p. 371km;

20º/ 6000 p. 357km;

55º/ 6106 p. 434km;

 

 

Significativo, como em tudo, é termos bem definido no momento de seleccionar ou escolher, que qualidades queremos nos nossos pombos. Não é simples, e não se resume a duas ou três características, mas, podemos definir para nós um padrão relativamente às características físicas que desejamos.

 

Nesse caso, seria interessante conhecermos, quais os princípios da teoria alar de Vanderschelden ou Somville. Podemos não concordar com tudo, mas, na minha opinião é bom conhece-la! Podemos argumentar que o físico não é tudo e que um pombo perfeito em mãos, perfeito para o standard, pode não corresponder em termos desportivos, e que contrário também é verdade. Concordo.

Cada columbófilo é libre de estabelecer um padrão para a sua colonia: cor, tamanho, especialidade, etc. Mas todos concordarão que o ideal era  criar um pombo que concilia-se a perfeição física com a de verdadeiro crack, ganhador de prémios em todas as distancias.

Pessoalmente gosto que um pombo tenha olhos expressivos e bem pigmentados. Jan Aerts, Piet de Weerd, Jonh Lambrechts e outros, são também dessa opinião…

Neste contexto, Louis Vermeyen mencionou a cor da íris como um ponto importante para a qualidade do pombo. Será?

 

Nas qualidades físicas do pombo de sport, entendo que devemos procurar a regra e não a excepção. E a regra é:

  • Boa estrutura óssea,
  • Equilíbrio,
  • Musculatura suficiente,
  • Plumagem sedosa e flexível (muito importante),
  • Boa décalage da asa secundária para a primária (especial atenção para as 4 últimas rémiges),
  • Verificar a riqueza das penas sob a asa,
  • Antebraço curto,
  • Olhos expressivos (brilhantes e bem pigmentados)…

 

Se juntarmos a estas características o bom funcionamento dos órgãos internos, saúde natural, caráter, tenacidade e inteligência, é sucesso garantido.

 

Para quem está a começar, ou para quem não está satisfeito com os seus reprodutores, o melhor é procurar dentro do distrito que concorre (ou não), quem tenha ao longo dos últimos anos dominado os concursos ou quem tenha essa linha de pombos. A escolha de duas ou três boas linhas de pombos, com provas dadas ao longo de vários anos e, de preferência em vários pombais, é o caminho mais curto para o sucesso. Mas uma coisa muito importante: escolham por especialidades! Se gostam de provas de fundo escolham uma linha de pombos que se tenha destacado nessa modalidade. Se preferem a velocidade ou o meio fundo então escolham os vencedores dentro dessas especialidades.

 

Depois, é bom não esquecer que não basta ter bons pombos, que tenham todos requisitos referidos anteriormente. Quer para reproduzir quer para competir, é preciso tratar deles todos os dias, durante todo o ano… A preparação dos reprodutores é essencial. É necessário apreender o conceito: “COLUMBOFILIA TOTAL”.

 

Mesmo assim, e atendendo a tudo que foi escrito anteriormente criar verdadeiros craques não é nada fácil. Em 100, se saírem 20 borrachos bons e 1 ou 2 craques, é excelente! Sucintamente dou o exemplo da selecção anual de 6 columbófilos Belgas de TOP mundial, onde dá para perceber que mesmo de casais rigorosamente seleccionados, os produtos não são todos de 1ª qualidade(4):

 

Silvere Toy

Casais de reprodutores: 20

Borrachos/ano: 100

Seleciona: 20 Machos e 20 Fêmeas.

Portanto, 60% são para eliminar, vender, perder…

 

Prós Roosen

Casais de reprodutores: 10

Borrachos/ano: 60/80

Seleciona: 50%

 

Etienne Devos

Casais de reprodutores: 10

Borrachos/ano: 40/50

Seleciona: 12 borrachos

 

Gommaire Verbruggen

Casais de reprodutores: 30

Borrachos/ano: 120/140

Seleciona: 30 borrachos

 

Noel Peiren

Casais de reprodutores: 18

Borrachos/ano: 100

Seleciona: 24 borrachos

 

Raoul Verstraete

Borrachos/ano: 120

Seleciona: 25/30 borrachos

...

 

 

Podemos concluir que qualquer borracho, mesmo que seja de um casal considerado bom reprodutor, é sempre uma incógnita e, pode variar entre o excelente (crack) e o medíocre. Isto no plano desportivo e reprodutivo. Mas é também evidente que a seleção de 20 borrachos em 100 as opcções são maiores e mais favoráveis do que selecionar os mesmos 20 num universo de 60. Nesse caso temos de ser mais rigorosos e optar pela qualidade em detrimento da quantidade e em vez de 20 passamos a selecionar apenas 10!

 

 

 

 

 

 O famoso casal base de Jos V.Limpt (Klak) 

 

 

Tenho a mesma opinião de Jos Van Limpt, mais conhecido por “KLAK”. Este célebre columbófilo, vendia qualquer borracho, fosse ele de um casal reprodutor ou de um casal  voador ao mesmo preço… E porquê? Porque, segundo ele, se ambos provinham de linhas de vencedores, as probabilidades de saírem bons, ou fracos, eram iguais… Mais: Um certo dia a um comprador que lhe disse que fizera um grande sacrifício para juntar dinheiro suficiente para lhe comprar quatro borrachos, respondeu: “Se calhar está a deitar dinheiro fora, pois em quatro sair um bom é muita sorte!”. Eu chamo a isto um Homem realista, de grande honestidade e seriedade, pois ninguém pode garantir, à partida, que este ou aquele borracho, independentemente das suas boas origens, será um crack. Diferente é afirmar que tem condições/potencial para se tornar no crack desejado, se reunir as condições físicas e psíquicas perfeitas, e conduzido por um treinador á altura…

 

 

 

 

 

O “Vieux Merckx”, descendente do “Bleu Ardoise 32” e

 pai do “019” e “Jeune Merckx”

 

  

Se a sorte também se faz, é preciso também na columbófila contar com ela. A este propósito, dou só mais um exemplo. Em 1932, Henri Janssen e seus filhos compraram um pombo tardio a Cas Goosens: “Le Bleu Ardoise”. Queriam ter a certeza que se tratava de um bom pombo e como tal decidiram aduzi-lo para o testar no cesto. Extraviou-se mas, por sorte, foi comunicado e recuperado. Este pombo recuperado, “Bleu Ardoise”, é provavelmente o pombo que fez com que os Irmãos Janssen sejam ainda hoje, considerados os columbófilos mais célebres de todos os tempos.

 

Aos mais novos, o meu conselho é que leiam: comprem algumas obras sobre este  desporto e leiam… e vão ver que “teorias”, “opiniões” e, “experiências” são muitas e variadas. Depois, cabe a cada um retirar o melhor de cada uma delas e escolher o seu próprio caminho.

 

É assim a columbofilia!

 

 

 

 

 

 

(1)      PETIT, Leon  -  A técnica do pombo”, ed. Mundo columbófilo, 1991.

(2)      Entende-se aqui por borrachos os nascidos e voados no mesmo ano.

(3)     Salvo raras excepções de colectividades que, muito pontualmente, organizam esses campeonatos sem a visibilidade e incentivos que propomos.

(4)      NEBEL, Ernst – A Elite - tácticas, ideias, métodos - dos novos campeões Belgas, 1993.