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A Expo. Nacional em Reguengos de Monsaraz ( lembrando Albino Fialho) 17/12/2015

A Exposição Nacional em Reguengos de Monsaraz

( Lembrando Albino Fialho )

 

José F. Coxo

 

            Reguengos de Monsaraz tornou-se sede de concelho em 1838 ( substituindo a anterior sede de concelho na vila de Monsaraz) e definitivamente em 1851. Foi elevada á categoria administrativa de vila em 1840 e levada a cidade em 9 de Dezembro de 2004.

As áreas  envolventes são de uma enorme riqueza a nível do turismo rural principalmente, no de habitação, ao longo das extensas encostas de Monsaraz sobre o Rio Guadiana e Albufeira de Alqueva

A sua história está intimamente ligada à de Monsaraz, antiga aldeia sede de concelho que é uma das mais belas e conhecidas localidades alentejanas. A região é também conhecida pela excelência do seu artesanato, merecendo especial relevo a olaria de São Pedro do Corval ( primeiro centro oleiro do país) e as famosas mantas de Reguengos.

É nesta cidade que se vai desenrolar a Exposição Nacional em Janeiro de 2016. Sendo alentejano de raiz, não poderia ficar indiferente a esta realização e como tal dando asas ás palavras  neste Jornal ( Mundo Columbófilo) resolvi como um reconhecimento á Terra, ás suas gentes , á autarquia, ao exmo. Sr Presidente da Camara que está nesta “ luta de realização “ há anos, aos columbófilos alentejanos e principalmente aos da Corvalense e Albino Fialho manifestar e enaltecer o seu exemplo de querer  e dedicação á causa columbófila.

Que melhor manifestação do que recordar ,num texto de leitura fácil o patrono do Grupo Columbófilo de Reguengos – Albino Fialho um alentejano de  raiz, um columbófilo avançado no tempo e um Homem que se pautou sempre por posturas dignificantes e de enorme solidariedade.

Este texto não é da minha autoria . Apenas o copiei em aspectos que achei mais marcantes da página na Net  do meu amigo Pedro Lopes ( que tem um enorme jeito para a escrita ) e ao qual pedi a devida autorização para publicação .

“Albino Fialho nasceu em 20 de Maio de 1881 em Reguengos de Monsaraz. Formado na Escola Superior de Farmácia de Lisboa, parte para o Brasil onde dirigiu e foi proprietário dum grande laboratório no estado de Pará. Homem trabalhador e muito orientado, depressa fez fortuna.

Passava as suas férias na Europa, mais concretamente em Inglaterra e segundo relata quem o conheceu, foi neste país  que fez a sua escola columbófila.

Voltou para Portugal definitivamente em 1932, mais concretamente para Lisboa e foi na Rua Penha de França que edificou o seu pombal. Estes pombais, construídos no sóbrio estilo inglês, sem “ Bonitos “ mas obedecendo a uma plena eficiência e bem-estar.

Era uma Homem rico, mas que amava profundamente a columbofilia.

Depois de construído o seu pombal começou albergar pombos de diversos criadores da capital. Como não obteve grandes resultados com estes, resolveu, eliminá-los todos.

Partiu então rumo a Europa em busca de melhores pombos, as suas escolhas recaíram sob os pombos do Dr. Bricoux columbófilo belga e dos pombos do famoso columbófilo Francês Paul Sion, a estes juntou alguns pombos ingleses de origens Putman, Osrran e Loyan. Com estes pombos, mas sobretudo com os Sions e os Bricoux, produziu os seus famosos “ Fialhos “ com os quais fez façanhas memoráveis no tabuleiro columbófilo Lisboeta.

Há um nome que se popularizou do Norte a Sul do País . Esse nome é Sion e refere-se à raça que cultivava o grande columbófilo francês Paul Sion, notabilizada pelos seus lilases ( Gris).Com a devida vénia, para elucidar que não se trata de cor, mas sim de linhagem, vou transcrever alguns tópicos de uma carta enviada por Paul Sion ao seu amigo Albino Fialho.

“ A minha linhagem do Gris ( lilás) é a melhor que tenho conhecido. Fiz enormes sacrifícios, adquirindo a peso de ouro, os melhores pombos que encontrei, com o fim de os cruzar com os meus, vendo-me sempre forçado a constatar que era ainda a minha velha estirpe dos Gris que me dava os mais satisfatórios resultados. Se V. Ex. Recebe jornais belgas, leia a notícia da venda de Duray fez em Bruxelas. Todos os seus melhores pombos descendem de dois produtos azuis que lhes ofereci, netos do meu “velho Gris”, e que nessa venda obtiveram um 2600 francos e outro 3600 francos, apesar de terem 12 anos.

Os pombos que escolhi para V.Ex., vão completar 2 anos e são todos da minha raça azulada sob o bico, produtos que se impuseram às duas rigorosas selecções que faço todos os anos. As fêmeas, uma é azul pedrada clara, filha do meu “ Etalon Gris”

perdido em Barcelona e que se cobriu de glória em todas as distâncias; outra é vermelha pedrada, filha do meu “Vermelho de 1928” que é ainda um dos meus campeões até 950 km. “

Ao ler esta carta constata-se que os “ Gris Sion “ são uma linhagem que abrange diversas cores.

Recaiu sobre Sr. Albino Fialho a honra de introduzir em Portugal os pombos dessa raça de elite, sangue que foi absolutamente desconhecido entre nós até fins de 1933.

Albino Fialho adquiriu 4 exemplares ( descritos nas carta) aos quais deu o nomes de “ Linda Sion”, “ Bela Sion”, “ Malhado Sion” e “ Gris Sion”. Os primeiros borrachos destes casais nasceram em 1934. Tornaram-se os “Sion” do Fialho.

 

Citando Albino Fialho:

“ Há quem afirme, que o sangue Sion, em Portugal só dá boas provas no meu pombal, o que seria um retumbante elogio à minha habilidade, se não fosse, acima de tudo, uma aleivosia.

Quem visitou a exposição dos campeões de 42, teve ocasião de ver um grupo de Sions do meu pombal, entre 1 a 6 anos de idade.

Dos 22 campeões que expus, constavam 4 fêmeas e 7 machos Sion Puro e seis produtos de cruzamento em que predominava o sangue Sion…. “

 

Paul Sion é um dos poucos estrangeiros que foi membro efectivo do “ Flying Club da Belgica “ cabendo-lhe todos os anos, a honra de ser presidente do júri da exposição que o “ Flying Club “ organiza no dia do aniversário da sua fundação.

Quando em 1934 o “ Petit Jornal “ de Paris, organizou a maior largada que consta da historia columbófila de todos os tempos ( Nota: Naquela época), soltando em 10 Junho, no Trocadero, 150.000 pombos franceses, belgas, Ingleses, holandeses e Luxemburgueses, Paul Sion teve a honra de ser convidado para a tribuna oficial colocada no terraço superior do Palácio Trocadero, sendo de todos os que mereceram tal distinção, o que tinha como credenciais únicas, a sua vida de campeão columbófilo integro, honesto e respeitado.

Dizem ter sido um espectáculo único no género, festa memorável duma demonstração esplêndida à qual assistiram cerca de 200.000 pessoas.

O Sr. Leroy Beague, classificou Paul Sion como o 1º columbófilo de França, ao que o Dr. Bricoux ali presente retorquiu: “ É como o primeiro columbófilo do mundo que é preciso designar Paul Sion e é como tal, com toda a sinceridade, que eu o aprecio, admiro e respeito “

A fama do pombal de Paul Sion é baseada na sua própria cultura, que é de uma riqueza surpreendente, assim como em sucessos assombrosos.

O Pombal Sion estabeleceu um recorde, levantando em 10 anos, mais de 5000 prémios a todas as distâncias, principalmente nos longos percursos e nas competições nacionais e internacionais mais difíceis. Eis o seu maior triunfo, absolutamente único nos anais do desporto columbófilo, tanto em França como no estrangeiro, e que foi titulado: 

 

 

 

“ Fantástico dia de um grande Campeão “

 

No dia 13 de Julho de 1930, Paul Sion alinhou os seus pombos em três provas importantes:

Moncex Nacional, Augerville pela Federação e Blois pelo circulo de Roubaix

Moncex – 900 km – Inscreveu 27 pombos, ganhando 24 prémios, entre os quais o 1º Nacional

Augerville: Incricão limitada a 6 pombos, ganhou 5 premios

Blois: Inscreveu 20 e ganhou 12 prémios

 

Um dia de 41 prémios, além das séries, dos quais 24 num concurso de 900 km, merece incontestavelmente ser classificado como um fantástico dia de um grande campeão.

Vinha citado numa revista da época que os melhores Sions de todos os tempos eram:

“ Le Beau Bleu “

“Le célebre Roux Macot”

“L´Ecaille 40 “

“Le Bon Gris “

“ Le Bleu Tiqueté “

“Le Grand Bleu “

Nessa mesma revista, dizia:

“ L´Ecaille 40 é sem a menor dúvida, actualmente (1933), o melhor pombo sob a abóbada dos céus. Cita o seu palmarés relativo as classificações de 1933. Fez 12 viagens a diversas distâncias, obtendo 12 prémios sendo sete 1.os prémios “

Não foi uma revelação em  1933, porque os sucessos nos dois anos anteriores, já o tinham consagrado como um verdadeiro crack.

“ L´Homme de peine “, “ Le Roux Macot “ e “ Le Bom Bleu “, pombos famosos, nunca fizeram semelhantes proezas numa só campanha. Sobre o “ Roux Macot “ diz Paul Sion:

“ Em 14 Outubro de 1934, 14 amadores Ingleses e escoceses, fizeram-me uma visita, oferecendo-me uma pequena fortuna por alguns dos meus pombos. Um deles foi ao exagero de oferecer 25.000 francos pelo meu “ Roux Macot “, 1º premio Nacional  de Moncenx ( 900 km ) em 1931. Fiz orelhas moucas a todas estas tentadoras ofertas e o “ Roux Macot “ ganhou no ano seguinte premios e poules que ascendem a 100.000 francos. “

Os mais reputados columbófilos Belgas, não vacilam em introduzir nos seus pombais o sangue Sion, quando necessitam de novos elementos, para manter as suas culturas em equilíbrio satisfatório.

Pela simples leitura destas notas, torna-se evidente a qualidade dos Sions introduzidos em Portugal pelo Sr. Fialho.

O lema do Sr. Fialho era  “ aprender até morrer” teve como mestres os Ingleses Dr. Barker, Coronel Osman e o seu filho Major Osman, Dr. Tresiddder , Dr. Alterton, J.W. Toft, etc.

Vou colocar aqui como o Sr. Albino Fialho procedia:

Citando Albino Fialho

“ Escrevi-lhe de Londres (referindo-se a Dr. Barker) manifestando o desejo de o visitar, ao que ele prontamente acedeu, marcando o dia em que estaria disponível. Fiz a longa viagem de Londres a Clitheroe, como único fim de receber uma proveitosa lição. Passei em sua companhia das 9 às 15 horas, ouvindo extasiado a sua loquacidade columbófila, servida pela sua grande bagagem de conhecimentos práticos e teóricos, dissertando longamente sobre os pontos que eu focava. Mostrou-me o registo dos seus pombos e respectivos “palmares”, tudo obedecendo a uma organização inexcedível. Foi esta, sem a menor dúvida, a mais profíqua lição que eu recebi.

Informando-se dos sangues que eu cultivava e apreciando as fotografias do meu pombal, felicitou-me pela acertada escolha que eu fizera, seleccionando esses sangues. Depois de me obsequiar, como autentico gentleman que é, mandou-me conduzir no seu automóvel a casa do seu amigo e colega Dr. Alterton, que cultivava a sua velha raça, lastimando que os seus afazeres clínicos não lhe permitissem acompanhar-me.

Tive e tenho o hábito de não perder nunca a menor oportunidade que se me depara, para aprender com quem julgo ter maior competência do que eu.

Para terminar este arrasoado que já vos deve estar esgotando a paciência, vou comunicar algumas observações e conclusões minhas, que não pretendo impor como doutrina e que portanto não podem de forma alguma criar escola ou regra, porque em columbofilia, como dizem os grandes mestres, não existem regras fixas.

1.º - Um pombal só se pode manter desportivamente em nível elevado, se entre os reprodutores existirem fêmeas de grande categoria.

  - Dois pombos, filhos dos melhores reprodutores, nascidos de ovos da mesma postura, quer sejam do mesmo ou de sexo diferente, não têm igual valor desportivo, podendo contudo, por atavismo e hereditariedade, serem ambos excelentes reprodutores.

                Tenho observado isto em muitas dezenas de irmãos de ninho. Citarei um caso, para voltar a falar no “ Querido Sion “. Teve este como irmão de ninho, um macho também vermelho, mais claro, com todas as características da sua mãe, a “ Linda Sion “. Mais curto e mais elegante que o seu irmão, era um verdadeiro balão de penas, pelo que lhe dei o nome de “Nice Boy “. Nos 1ºs concursos veio regularmente, não se salientando como o irmão. De Gaia voltou no outro dia e de então em diante, só regressava na manhã seguinte, tão limpo e desenxovalhado que parecia não ter estado no cesto e sim ter acabado de tomar banho. Custou-me a convencer de que nada faria como viajeiro, tal a sua conformação, mas tive de me render à evidência.  Experimentei-o como reprodutor dando-lhe uma das melhoes fêmeas a “ Butterfly “, obtendo produtos excelentes. Ainda tenho no meu pombal alguns dos seus descendentes, que também estão espalhados por outros pombais, porque o “ Pimpão “, que era filho do “ Nice Boy “, formou com a minha “Mimosa “, a base do pombal do nosso malogrado amigo Capitão Graciano.

  - Quando um macho ou fêmea de voo, não aceitar no primeiro dia em que os pomos em presença, o companheiro que lhe destinamos, convêm não insistir, porque acabando por aceitar, simplesmente para satisfação das suas necessidades fisiológicas, esse individuo não pode dar bom rendimento nos concursos, porque não é feliz, por ter sido constrangido a aceitar um companheiro que por qualquer motivo ou capricho, não era do seu agrado.

                Tive um macho que, revelando-se bom viajeiro, destinei no ano seguinte a uma das melhores Fêmeas que tive no meu pombal. Não aceitou no 1º dia, vendo-me obrigado a tirar-lha, condoído do martírio que o macho lhe infligia, picando-a, não consentindo que comesse e bebesse na caixa em que os fechara.

Em dias sucessivos os juntei inutilmente, passando porém a consenti-la em casa, comendo juntos, mas indiferente às carícias que ela lhe prodigalizava, desde que ele lhe deixou de picar. Por fim acasalaram-se.

Iniciados os concursos, chegava sempre atrasado e sem pressa de entrar. Aborrecido com o contraste que verificava entre os que fizera no ano anterior e que então fazia, mudei-o de pombal e dei-lhe a “ Queen “, uma irmã da fêmea que lhe quis impor. Aceitou-a, passou a viver feliz e ainda levantou bons prémios nessa campanha. Deu-me boas filhas, fêmeas extras, tendo vindo duas delas com a mãe, à exposição dos campeões de 42. A “ Queen “ foi campeã em 1941 e 1942. O macho morreu em 1941. Por maltratar a primeira fêmea dei-lhe o nome de “ Rude “

Tencionava também escrever, sobre posições de ninho para os concursos mas sendo um assunto duma vastidão assustadora, que ocuparia muitas páginas e, confessando-me inconveniente por abusar dos pulmões do nosso Dignº Presidente e da paciência de todos vos, que deveis estar saturados com as banalidades que escrevi, termino agradecendo a atenção que por ventura lhes dispensara.  

 

Nota-se que nos anos 40 o Albino Fialho era um columbófilo muito avançado para a sua época, quer pelos conhecimentos que adquiria no estrangeiro, quer pela sensibilidade que tinha para com os seus pombos. Tornou-se ele próprio um Mestre na arte da criação e jogo de pombos.

O Sr. Albino Fialho através do cruzamento Bricoux x Sion criou pombos de excepcional valor desportivo e, de igual modo, com belíssimas características de “ Standard “. Na sua maioria eram Lilases ( alguns muito pálidos ), vermelhos  claros, de olhos normalmente brancos e de uma constituição física exemplar. Existiu na altura uma campanha `a volta do termo “ Raças “, já que se procurou chamar a esses pombos de raça “ Fialho “, esquecendo a sua origem primitiva.

A verdade é que o Sr. Albino Fialho tirava um rendimento extraordinário destes voadores e foi pena que a sua  “raça “ não tivesse continuação após a sua morte. 

Alguns pombos Fialho:

500.045-40 Fêmea Azul listada denominada “ Aurora “ Campeã do falecido Albino Fialho

555.501-41 Macho Lilás “ Estafeta”. Campeão de Albino Fialho

600.012-43 Fêmea Vermelha. A “ Campeã de Abrantes” de Albino Fialho 

630.020-44 Fêmea Vermelha, filha do importado denominado “ Dr. Bricoux “ e da “ Queen” de Albino Fialho

632.057-45 Macho, filho do “ Penalizado” do falecido Albino Fialho

646.643-46 Fêmea Bricoux-Sion

662.880-47 Fêmea pigarça de predominância Bricoux. Ascendente do famoso pigarço do nosso amigo Morais Cardoso e da maioria dos pigarços do seu pombal

 

782.793-49 Fêmea, filha do “ Tobruc”, de Albino  Fialho


Grande entre os maiores do seu tempo, Albino Fialho, alentejano e romeiro do mundo, finou-se em Alcobaça aos 2 de Agosto de 1946. A sua colónia, vendida pelas maiores ofertas, rendeu 32 contos e o produto reverteu para a filha órfã de um seu íntimo amigo. ( só este aspecto é demonstrativo do carácter de Albino Fialho )

 

( publicado no jornal Mundo Columbófilo dia 22/12/2015)