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" Planificar Para Quê ? " 29/07/2016

Planificar  para  quê ?

 

José F. Coxo – Évora

 

 

     Desde sempre os portugueses foram um povo que nunca teve por hábito / tradição, a planificação de qualquer actividade. Sempre  vivemos  do improviso . Por outro lado a inovação também foi outro factor com a qual não nos demos muito  bem , normalmente limitamo-nos a copiar o que se faz nos outros países.

Poderemos  comprovar tudo isto até em termos históricos . De algumas  excepções  temos, o infante D. Henrique , com um saber  e um empenho que nos colocou no domínio do Mundo com os descobrimentos. O Marquês  de Pombal , com uma visão antecipada daquilo que deveria ser uma industrialização, muito mais precoce do que a que tivemos ( se é que a tivemos alguma vez? ), Duarte Pacheco que com um espírito inovador contribuiu fortemente, no Estado Novo, para criar alicerces fundamentais para o desenvolvimento do país. Veiga Simão com uma visão da educação avançada em relação ao tempo em que foi membro de um governo também do denominado Estado Novo.  No âmbito desportivo cito apenas duas personalidades que também foram excepção, prof. Moniz Pereira com uma dedicação e planificação do que deveria ser o nosso atletismo a nível do meio fundo e num espaço de tempo de dez / doze anos , atingindo performances altamente positivas. O Prof . Carlos Queiroz com o trabalho desenvolvido com várias gerações de futebolistas( começando pela base) fez também algo de  exemplar e único a nível da formação.

Não vale a pena citar mais alguém , apesar de que, os exemplos já seriam muito poucos.

A nível da columbofilia e, não poderia ser de outro modo , reflectimos sempre a sociedade onde nos inserimos. Pouca ou nenhuma vez planificamos ( a longo prazo então muito pouco), quando estabelecemos regulamentos estes aplicam-se durante pouco tempo e muitas vezes, mesmo dentro do regulamentado, arranjamos maneira, airosa, dos ultrapassar.

Basta pensar em dois ou três aspectos que nos aconteceram de há meia dúzia de anos a esta parte para verificarmos e comprovar o que acabo de referir.

Pelos anos de 2010, nos encontros da columbofilia, houve algumas ideias que foram depois aproveitadas pela federação e criou-se um método ( todos  estão lembrados …) para chegar ao campeão geral . Seria o columbófilo que melhores classificações tinha obtido no velocidade, no meio fundo e no fundo. Tudo isto perdendo um ponto para o primeiro lugar, dois pontos pelo segundo etc…..

Esta que era na altura uma fórmula magistral foi utilizada apenas num ano. Nunca entendi porque foi retirada. Penso hoje que nalguns distritos ( os de maior peso ) deve ter ganho alguém que não era normal e quer se queira quer não os interesses dos de maior peso fizeram-se logo sentir. Não houve  mais experiencias nem sequer qualquer alteração a corrigir o que quer que fosse.

Há dois anos a esta parte voltámos a duas iniciativas ,  uma para dignificação do pombo correio português com a realização dos concursos nacionais tentando criar grandes alaridos com soltas envolvendo milhares de pombos ,para os estrangeiros nos virem cá comprar pombos ….

A segunda iniciativa , que na minha óptica tinha pressupostos de âmbito geral com os quais todos concordávamos mas ,que estava por questões de tempo desfasada dos anos que estamos a viver com uma diminuição significativa de columbófilos, e que consistia na limitação de pombos tanto em quantidade ( 130 por equipa) ,como na participação desportiva ( 25/ 25/ 15 ) como números para o velocidade, meio fundo e fundo.

Esta medida tinha como encaixe geral uma defesa dos columbófilos e principalmente dos mais desfavorecidos….. ( Nunca em tempo algum concordei ou concordo com esta frase !).

Afinal parece que a montanha pariu um rato ….

Sobre os concursos nacionais no ano passado foi um desastre devido ao calor numa das provas . Este ano sem condições de tempo quente foram duas boas provas de fundo.

A questão que gostaria de deixar é se no contexto espacial português este tipo de realizações tem alguma verdade desportiva ?

Se analisarmos as classificações das duas provas temos lá a resposta . Só não a vê quem não quer. Num território com cerca de 560 Km de comprimento por 220 de largura quando se fala em nacional está tudo dito ….

Não irei tocar mais neste assunto porque na minha óptica além de não ter verdade, condiciona e nalguns casos, de modo negativo as classificações distritais e locais . Quem tiver dúvidas que pense um pouco e analise várias colectividades…Sei perfeitamente que talvez a Federação, as tenha de realizar , para receber os denominado subsídios. Cito uma frase do saudoso José Maria Pedroto quando era treinador do F. C. Porto e a propósito da vinda de jogadores brasileiros dizia “ um é suficiente, dois são demais e três vira samba”…. Atenção digo isto e vejo que o meu distrito está beneficiado com a divisão das zonas  que foi feita . Somos sempre quem voa menos mas, isto não é razão para que eu  não possa discordar. Se até a nível distrital ,no fundo, 40/50 km já criam muitas vezes enormes desiquilibrios  quanto mais este tipo de soltas enquadradas num contexto nacional.

A columbofilia quer queiramos quer não assenta a parte desportiva nas associações e colectividades. Foi e eu sei criado, com a lei de bases ,um sistema desportivo que era para o futebol mas que aplicado no nosso desporto tem sido bastante gravoso para a nossa prática. O próprio Congresso tem uma série de participações que estão lá apenas para estar. Perdemos qualidade com o alargar dos órgãos directivos tanto no âmbito nacional como distrital .

Os limites…

Não vou voltar ao que já escrevi sobre eles . Anda agora no ar que é necessário alterar algo .

Já ?

Mas isto ainda agora começou e já estamos a alterar. As denominadas grandes associações sentiram na pele prejuízos avultados com a diminuição do número de pombos voados e como tal temos de dar alguma resposta. Penso que nas Associções mais pequenas este efeito não se verificou. O grande problema de tudo isto começou quando se aprovou algo sem haver um estudo prévio de consequências .

Agora e pelo que oiço há necessidade de aprovar e pôr em marcha os 30/30/20 pombos a contar para os campeonatos tal como estava há dois anos. Incoerência das incoerências ….

Até entendo que os 30 para velocidade e meio fundo é um modo de atenuar receitas . Mas, passar os pombos de fundo de 15 para 20 a contar por prova, penso que esta medida é contrário a tudo o que era e é desejável. Será que a grande maioria dos columbófilos que envia pombos a fundo suporta os 20 ou, mais facilmente arranja os 15 ? então já não há necessidade de defender os columbófilos ? Ou haverá aqui a dominar outros interesses ?

Na minha opinião era o número 15 a fundo que estava mais correcto com todo o pressuposto das limitações .  Afinal  na  primeira tentativa pensa- se  já em o alterar….

Mais comentários para quê ?

Todo e qualquer regulamento pode e deve ser corrigido mas devemos de dar tempo para que tudo possa ser bem analisado e ponderado . Será que é o caso ?

Já nem falo nos calendários para a próxima campanha porque há uns anos tinham de estar aprovados em Maio.

Afinal , planificar para quê ?

 

( publicado no jornal Mundo Columbófilo - dia 29 Julho de 2016)