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Perspectiva funcional da qualidade morfológica, ou standard, do pombo correio 03/01/2010

1 – Âmbito

 

            O Sandard do pombo correio estabelece os padrões de qualidade morfológica do corpo do indivíduo que, segundo os conhecimentos e experiência actualmente disponíveis, são mais relevantes para o vôo de competição, ou Sport, a avaliação dessa qualidade,  os respectivos critérios e classificação.         

            Por qualidade entende-se adequação ao uso, e por uso do pombo correio a obtenção de 1º prémios em quaisquer concursos, tal como o regulamento de Sport os define

            O âmbito do Standard do pombo correio é, estritamente, o do juízo de aptidão funcional         do corpo do animal para concursos com distâncias de várias centenas de quilómetros. Caracteres   não descritos, nomeadamente os supostamente estéticos, são alheios à qualidade morfológica. 

            A classificação de Standard é, necessariamente, subjectiva; ainda assim, mantém-se, de  acordo com a tradição, a tabela de 0 a 100 pontos, sabendo-se, no entanto, que os números atribuídos são códigos dos níveis de qualidade, e não entidades matemáticas. Tipos de classificação: objectivas e subjectivas ;

            - As classificações subjectivas contemplam, exclusivamente, a descrição de um limitado número de caracteres do animal, que constituem seu objecto. Todas e só essas características estão em apreço. Qualquer caracter não descrito está fora do âmbito dessa mesma classificação. Estas classificações expressam  um diagnóstico,     ou juízo de valor, que o observador ( o columbófilo ou, em competição, o juiz ) estabelece. Devem explicitar-se por letras ou siglas. Para explicitar uma classificação subjectiva por números, estes devem, estrita e obrigatoriamente, corresponder aos respectivos  códigos das características  descritas. Assim, esses números             não significam unidades e dezenas  mas determinadas definições ( p.ex..- 1-excelente.2 - bom,  3 - muito grande, 4 - pequeno, 5 - azul, 6 - lilás, etc. ).  Não são entidades algébricas que se possam somar.  

           - As classificações objectivas são expressas por um número - valor físico ou matemático – obtido por meio de aparelho de medida ou de cálculo, não integrando qualquer subjectivismo. As classificações do Sport e as dos concursos são objectivas, exprimindo-se a dos concursos por um valor físico (a velocidade média em m/mn  ) e a de Sport por um valor matemático –  o quociente entre o número correspondente ao lugar obtido no concurso e o número de pombos em competição no mesmo. A introdução de constantes, como fim de facilitar a percepção dos valores, em nada altera o significado matemático destes.

 

2 -  Revisão elementar das estruturas funcionais

 

            Sendo o corpo do pombo o objecto da avaliação, têm-se presente as bases anatómicas das estruturas a observar e o respectivo funcionamento no vôo horizontal.

O esqueleto, conjunto dos ossos e articulações, é o sistema em que assentam o tamanho, formas e  modo de locomoção  do indivíduo.

            O esqueleto divide-se em : craneal e post-craneal, sendo a primeiro a base óssea da cabeça e o segundo  a das restantes partes do corpo. O esqueleto post-craneal divide-se em : axial e apendicular. A parte axial, ou eixo, é constituída pela coluna vertebral, costelas e esterno ; a apendicular, ou apêndices, comporta as cinturas e os membros torácicos e pélvicos.   

            A coluna vertebral apresenta as partes : cervical, dorsal, lombar, sagrada e caudal, bases ósseas das regiões do pescoço, dorso, lombo, sacro e cauda;  na região dorsal as vértebras articulam-se com as costelas e estas com o esterno, formando a caixa torácica. As 2ª,3ª,4ªe 5ª, unem-se numa só peça óssea, o notário. A 7ª vértebra dorsal, as lombares e as sagradas, igualmente unidas numa só peça óssea, formam o sinsacro.

            Os apêndices torácicos, base óssea das cinturas e membros respectivos, as asas, comportam : na cintura, a fúrcula, os coracoides, e as escápulas ; no membro, o úmero, rádio e ulna, carpo-metacárpicos, primeira e segunda falanges, e duas falanges rudimentares, bases ósseas do braço, antebraço, pulso e  mão, e dedo; as falanges rudimentares são base da asa batarda e dedo residual, sem actividade no vôo horizontal. O pulso apresenta os ossos cárpicos radial e ulnar no plano proximal, e os do plano distal apresentam-se unidos aos metacarpicos formando uma só peça óssea, o carpo-metacarpo.

           A função da cintura é a de ligar o eixo à asa, permitindo que a energia química produzida pelo músculo peitoral seja   transmitida à atmosfera sob forma de energia cinética, e que o impulso na direcção craneal verificado ao nível das 7ª, 8ª e 9º remiges primárias, por reacção à projecção do ar, e exercido ao nível da 1ª falange, base óssea de inserção destas penas, seja, por sua vez, transmitido a todo o corpo. A função da asa é transformar a energia química fornecida pelo músculo peitoral em energia cinética, projectando, em sentido caudal uma determinada massa de ar, e por reacção, todo o corpo do animal em sentido craneal, com o máximo rendimento, ou seja, com o mínimo de perdas dessa energia sob as formas de térmica e de deformação.

            As articulações do eixo ao nível toraco-lombo-sagrado devem ser, tendencialmente, rígidas, permitindo no entanto os movimentos respiratórios, tal como as das ligações do eixo à cintura ; as da cintura ao membro e as deste devem exibir a maior flexibilidade nas direcções de funcionamento.

 

            A musculatura implicada nesta área funcional,  cuja acção se exerce sobre as estruturas esqueléticas referidas, comporta o músculo peitoral, o abaixador da asa, facilmente observável, que produz a energia utilizada no vôo; o músculo supracoracoide cuja tenção normal , associada ao relaxamento do peitoral, permite a elevação da asa com baixo custo energético; o grupo muscular braquial, extensor e flexor da asa, que se apresenta a maior extensão a meio da fase de abaixamento, ou fase útil, e em flexão parcial mais acentuada nas restantes posições, sendo a meio da elevação que apresenta a maior flexão; promove, ainda, alterações das posições relativas do rádio e da ulna durante o vôo e que permitem a obtenção das convenientes posições do antebraço ; é o grupo muscular antebraquial que movimenta a mão e o dedo e proporciona, pois, a capacidade de projecção do ar em sentido caudal,  pelas remíges primárias que neste têm a base de inserção.

 

            As penas implicadas na propulsão são as quatro últimas remíges, que actuam  uma a uma e em sucessão : a 10ª secciona e deflecte uma pequena massa de ar, de modo a que fique sob acção da 9ª ; esta propulciona-a fortemente em sentido caudal e de modo que fica sob acção da seguinte, a 8ª ; esta tem acção idêntica incrementando a velocidade do ar, que vai ficar, na maior quantidade possível, sob acção da 7ª que completa a projecção. A energia, no caso em apreço a cinética, para obter a velocidade do móvel, é proporcional à massa  de ar e ao quadrado da velocidade desta; a dispêndio de energia constante, o compromisso entre massa e velocidade é mais favorável à maior velocidade, uma vez a proporção ser ao quadrado desta;  daí resulta uma maior eficácia, ou seja qualidade morfológica, para a forma fina, ou estreita, das quatro últimas remiges primárias.  As restantes penas têm por função proporcionar o melhor equilíbrio dinâmico e o menor atrito possíveis.

 

            Todo este conjunto anatómico se movimenta e sofre deformações, excepto as peças ósseas que não são deformáveis em situações de funcionamento normal, e alterações das posições relativas, resultantes das forças aplicadas, pelo que a concordância e harmonia entre elas, que inclui, no pombo, sincronismo dos movimentos alares com os respiratórios, são determinantes na eficácia do vôo, ou seja a maior celeridade deste e  menor dispêndio de energia durante o mesmo.      

 

3 – Revisão elementar de conceitos fundamentais da avaliação

 

Para todos efeitos, nomeadamente de avaliação e classificação, tem-se em conta que :

 

            - A definição de qualidade é adequação ao uso;

- O uso pretendido do pombo-correio é a obtenção do 1º prémio em concurso, independentemente da distância, condições meteorológicas, e concorrência;

- Melhor qualidade significa, pois, uma morfologia mais adequada, ou que se julga mais capaz de proporcionar a capacidade de fazer  e reiterar 1º prémios em concurso. A melhor         qualidade será atribuída maior pontuação na tabela.

- A capacidade operacional do indivíduo está rigidamente dependente do seu caracter mais     limitante. Entende-se “limitação” como restrição funcional; pelo contrário entende-se “liberdade” como capacidade total para a prestação requerida. O grau de liberdade funcional para o vôo, o mesmo é dizer o nível de qualidade, das estruturas e formas do corpo, depende estritamente, pois, da importância dos factores limitantes que apresentarem.

- “ Massa” x “quadrado da velocidade” do pombo = “massa” x “quadrado da velocidade” da coluna de ar projectada, em sentido caudal, pela asa;

                                                                      

- A maior celeridade do movimento (o vôo) é favorecida por

            Menor massa do pombo ( “e” = ½  “massa” x  “quadrado da velocidade” ,  logo “m” é inversa a  “v” )

            Qualidade da plumagem (diminuição do atrito)

            Maior velocidade de descida dos remos (velocidade da coluna de ar)

            Maior capacidade energética do músculo peitoral

            Maior comprimento do remo

            Melhores formas e relações do esqueleto alar (braço, antebraço, mão e articulações respectivas)

Melhores formas e dimensões das remíges  - maior eficácia dos remos ( maior velocidade de projecção da massa de ar )

Maior rendimento da transmissão da energia fornecida pelo músculo peitoral à atmosfera (habilidade e eficácia na acção da asa )

            Maior robustez da cintura torácica ( rigidez dos coracoides ao nível do ombro )

            Melhor conformação da região da cintura torácica

Melhor forma dos remos ( 7ª, 8ª e 9ª remíges primárias ); predomínio nítido do comprimento sobre a largura nas três; extremidade da 7ª muito nitidamente   mais próxima da da 8ª que da da 6ª. As quatro últimas remiges funcionam como pás, cada uma por si, conforme descrito anteriormente. A energia fornecida pelas pás é proporcional à massa e ao quadrado da velocidade desta; uma menor massa é projectada a maior velocidade, assim, a velocidade de projecção é bastante mais relevante que a massa de o ar (  a energia é          proporcional à massa, mas relativamente à velocidade é-o ao quadrado ) , pelo           que as remiges 7ª, 8ª e 9ª finas ( ou seja estreitas ) e bem conformadas são largamente mais eficazes que remiges que sejam, em especial ao nível do terço distal, grossas ( ou seja largas ).

            Menor comprimento das remíges secundárias ( menos atrito inútil no abaixamento da asa )

Maior capacidade energética dos músculos braquiais e  antebraquiais ( eficácia do movimento  da mão ); robustez destes.

 

4 – Níveis da qualidade morfológica

 

 

 

a) Juízo de       b) Pontos Tabela Olímpica         c) Pontos          d)  Pontos

Aptidão         Sport  G,     V,       MF,     F       Tab. Hoche       Tab Standard

 

         EXCELENTE           1 %                          <   110  <   100   <   80   <   60       > 6000              90  a 100

         MUITO BOM           2,5%                         <   275  <   250   < 200   < 150       > 5000              80  a   89

         BOM                      10%                          < 1100  < 1000   < 800   < 600       > 4000               70  a   79

         SUFICIENTE           20%                          > 1100  > 1000   > 800   > 600       > 2500               50  a   69

         INSUFICIENTE  Dificuldade em classificar-se                             < 2500            0  a   49                                     

a )  -  Capacidade de fazer, habitualmente, prémios por 100, 40, 10 e 5 concorrentes, respectivamente.     

b )  -  Correspondentes pontos em duas épocas consecutivas em 11, 10, 8 e 6 concursos

c )  -  Correspondência aproximada aos pontos numa só época.               

d )  -  Correspondência proporcional à  competência do juíz.  

 

           

( equivalência do juízo de aptidão formulado com 2 tabelas de pontos de Sport e a de Standard proposta )

 

5 - O Exame do indivíduo

 

            Sequência

 

            A observação far-se-á pela seguinte ordem : do geral para o particular, da frente para trás, de cima para baixo e da esquerda para a direita, de modo a que não fique nenhuma parte por observar.

 

            Identificação                                                                                                  

 

            A primeira acção é a identificação do indivíduo. Estando disponível o número da anilha oficial, ou da gaiola de exposição, basta anotá-lo. Caso não haja estas informações deverão anotar-se a  espécie, sexo, idade  aparente ( velho, adulto, adulto jovem, borracho ), tamanho ( muito grande, grande, etc, ), características da plumagem ( cor, particularidades da cor, locais dessas particularidades, anomalias da plumagem, restantes particularismos  que apresente ), outros sinais particulares,  ( bico, carúnculas, olhos, patas, incluídos dedos e unhas ), orgãos mutilados ou anormais ( esterno desviado para a esquerda, ausência do dedo médio do pé direito, etc. ). Finalmente, o observador indicará  o seu nome, a data em que fez o exame e assinará a ficha respectiva.

 

            Observação genérica

 

A primeira fase da avaliação destina-se a colher informação do indivíduo no seu todo; comporta dois tempos e são utilizados a visão, primeiro, a visão e o tacto em seguida, nas observações à vista e em mãos.                                              

Apreciam-se, à vista, o tipo morfológico ( longilíneo, mediolíneo, brevilíneo ), tamanho              ( grande, médio, pequeno ), atitude ( maneira de estar, atenção ao ambiente, posições do indivíduo, energia, ou vitalidade, que sugere dispor ), temperamento ( calmo, espaventoso, ), finura ( o oposto a tosco ou grosseiro ), harmonia ( perfeição da sequência das estruturas anatómicas, concordância das dimensões e forma destas, entre si e com o tipo morfológico ).                                                      

Completada a fase visual, toma-se o pombo em mãos. Apreciam-se  a sedosidade da plumagem, o peso, a robustez  em geral, com atenção particular às estruturas implicadas na propulsão e equilíbrio dinâmico, as dimensões do corpo, em particular  o desejável predomínio do desenvolvimento da cintura torácica relativamente às regiões que se lhe seguem no sentido caudal, a perfeição da sequência das regiões anatómicas, a harmonia, concordância e correcção do conjunto do corpo, incluindo a concordância das dimenções e formas da asa com o peso e tipo morfológico, a simetria, lado esquerdo / lado direito, com atenção à simetria das asas e  muito especialmente à do terços distais das quatro últimas remíges primárias.

 

Observação analítica

 

Procede-se, com o pombo em mãos, à observação atenta da cada uma das estruturas  implicadas na propulsão e no equilíbrio dinâmico que foram descritas, colhendo informação sobre o desenvolvimento e forma de cada uma, da perfeição da sequência delas com as contíguas, e da respectiva concordância  harmoniosa com o conjunto.

 

Observação sintética

 

Uma vez colhidas as informações genéricas e analíticas o observador procederá, de acordo com os seus conhecimentos e experiência, á ponderação da influência que cada uma das informações colhidas na capacidade funcional do corpo do animal. Terá em conta que o factor mais limitante que observou é da maior importância ; que um animal pode dispor de  alguma capacidade de minimização dessa limitação, em particular se for verificada  num único caracter ; que há algumas limitações que têm influência noutras,  potenciando-as ; que  isso é, em geral, relativo às globais ; que outras têm âmbito limitado e não implicam, por si só, prejuízos de outras funcionalidades ; que, em geral, isso é relativo às parciais, e a um só caracter.

 

Notação

 

Completada que está a observação do animal, o observador atribuirá a notação final, segundo a tabela, correspondente ao juízo que elaborou sobre a qualidade  funcional do corpo do  indivíduo.

 

 

6 - Notações

 

Globais

 

1-Expressão-avaliação da aparente disponibilidade energética e grau de prontidão para a acção

            finura

            atitude

pujança biológica

 

2-Harmonia-avaliação da concordância do tipo morfológico com as proporções, tamanho e peso

tipos    logilíneo, mediolíneo, brevilíneo

relação comprimento /largura concordante em todas as partes

perfeição da sequência das diversas estruturas

concordância do tamanho e peso com o tipo morfológico

concordância das dimenções e formas da asa com o peso e tipo morfológico

 

3-Equilíbrio-avaliação da coordenação dos movimentos e das posturas do indivíduo em vôo.                                     Avaliação da qualidade do equilíbrio dinâmico.

Tem-se em conta que:

-  o equilíbrio estático, próprio dos objectos parados, é irrelevante em vôo

-  todos os voadores se movimentam no seu próprio equilíbrio dinâmico

-  tem maior qualidade o equilíbrio dinâmico próprio do movimento mais célere

- Forma geral do indivíduo (predomínio das estruturas implicadas no movimento - cintura torácica e regiões axiais com ela relacionadas - sob pena de indicar que a prioridade biológica não é o vôo, mas outra, em prejuízo desta)

-  Simetria ( metade esquerda / metade direita ) do corpo e  das asas ( extremidade distal destas )

-  Relação envergadura / peso ( favoráveis: maior envergadura e menor peso )

-  Relação área da asa / peso ( favoráveis: maior área e menor peso )

-  Relação área da asa primária / área da asa secundária ( favorável o predomínio da asa primária )

-  Estruturas sacro-caudais relevantes na acção de equilíbrio das rectrizes ( o leme )

-  Rigidez  tendencial da coluna dorso-lombo-sagrada e da cintura torácica

-  Firmeza  tendencial e perfeição da ligação da coluna sagrada à caudal

-  Flexibilidade da asa

 

Parciais

 

4 - Regiões Torácica e  Sacro-caudal

Formas, níveis de desenvolvimento, correcta sequência, robustez e  proporções,                               

- Esterno ( forma, comprimento e robustez da crista esternal, ou quilha )

- Músculos  Peitorais ( nível de desenvolvimento, tensão, elasticidade, cor )

- Coracoides ( robustez, firmeza das extremidades ao nível do ombro e distância entre estas )

- Ombros ( firmes, fortes e largos )

- Conformação da cintura torácica ( as extremidades dos coracoides, ao nível do ombro, devem formar com a extremidade craneal do esterno um triângulo,     tendencialmente equilátero; evidenciação mais acentuada da largura de ombos nos brevilíneos, relativamente aos longilíneos ).

 

5- A  Asa e a Plumagem

 

                                               Plumagem em geral

 

A plumagem, além de ser um factor de importantes funções biológicas, pois é a estrutura que contacta com o ambiente externo, influi decisivamente no nível de atrito, que provoca uma importante diminuição da celeridade do vôo e aumento da energia dispendida ( logo da fadiga ). Deve, pois ser devidamente ponderada.

 

Apreciam-se:

 

Riqueza – da densidade das penas e plúmulas deve resultar uma cobertura  capaz de assegurar a protecção mecânica e térmica em relação ao  ambiente e a redução, ao mínimo possível, do atrito durante o vôo.

Sedosidade – ao tacto não deve ser sentida qualquer aspereza.

                        Estruturas da pena – ráquis, barbas, bárbulas e barbicelos devem  formar uma malha sem ocos e da grande consistência e tal como os ráquis devem apresentar notórias firmeza e flexibilidade e o desenvolvimento próprio de cada pena.

 

            As plúmulas e filoplumas, sendo de observação impossível num exame exterior breve, não se avaliam.

 

Asa e remíges

 

- Todas as articulações devem exibir a maior flexibilidade nas direcções de funcionamento

- Qualquer défice desta deve ser considerado factor limitante  absoluto, e.  por consequência, determinar, por si só, uma notação de  “insuficiente”    

 

Braço -  musculatura forte, úmero curto; a menor comprimento corresponde uma maior velocidade angular e logo maior velocidade de descida da extremidade dos remos. Os músculos braquiais desempenham funções extensão-flexão da asa e de modificação da posição relativa dos ossos rádio e ulna durante o vôo.

 

Antebraço -  deve exibir um comprimento maior que o do braço, a maior robustez óssea e o maior desenvolvimento dos músculos próprios,  pois são estes que fornecem a energia ao movimento da mão. Qualquer défice do antebraço é um limitante de importância maior

 

Remíges secundárias -  curtas; quanto maior comprimento tiverem;  mais   aumentam  atrito inútil e prejudicial

 

 Mão

 

- Carpo-metacarpo - deve exibir a maior robustez e comprimento, denotando uma boa projecção da asa no sentido distal

 

- As 6 primeiras remíges primárias devem exibir a maior qualidade, adequada sequência e dimensões tais que contribuam para o nítido predomínio da asa primária   sobre a secundária ( maior percentagem de energia utilizada no deslocamento que na sustentação, logo, melhor rendimento da máquina voadora )

 

- Dedos

 

Consideram-se as duas falanges do dedo principal, e excluem-se da apreciação o dedo rudimentar e o polegar que não são activos no vôo horizontal ( salvo se apresentarem lesões detectáveis )

 

- A 1ª falange é, com grande diferença, mais relevante que a 2ª, vistas as diferenças de dimensões e robustez destas duas peças ósseas

- As remíges primárias 7ª, 8ª e 9ª que têm por base óssea de inserção a 1ª falange constituem os remos que projectam, em sentido caudal, a coluna de ar atmosférico

- É pois esta estrutura que põe em acção útil a energia fornecida pelo músculo peitoral

            - O quadrado da velocidade a que a coluna de ar é projectada em sentido caudal é proporcional ao da do vôo.

- Os movimentos da asa, extremamente bem coordenados (executados em média, 6 a 7 vezes por segundo) são pois:

-  Abaixamento / elevação, provocado pela contracção dos músculos peitorais e supracoracoides e transmitido pelas estruturas mais proximais. - Extensão mais acentuada a meio da fase de abaixamento ( fim da inspiração e  início da expiração, maior afastamento esterno-dorsal ), subflexão mais acentuada a meio da fase de elevação ( fim da expiração e início da inspiração, maior aproximação esterno-dorsal )

 

                        As 7ª, 8ª, 9ª e 10ª remiges primárias devem exibir uma simetria perfeita ( asa direita / asa esquerda )

            As 7ª, 8ª e 9ª remiges primárias devem exibir:

                       - o maior desenvolvimento e projecção distal;

                       - claríssimo predomínio do comprimento sobre a largura;

                       - o terço distal notoriamente estreito;

                       - flexibilidade adequada;

- a extremidade distal arredondada;

                       - uma ligeira flexão das extremidades distais no sentido palmar.

A extremidade distal da 7ª remíge deve apresentar-se, nitidamente, mais próxima da da 8ª que da da 6ª, pois o campo de acção do conjunto dos remos aumenta proporcionalmente à referida característica

A 7º remige primária deve exibir, nitidamente,  maior semelhança morfológica com as  8ª e    do que com a    ( adequação à função propulsiva ).

A largura das 7ª, 8ª e 9ª remiges primárias é um caracter da maior relevância para a capacidade funcional do indivíduo,  pelo que devem merecer penalisação considerável os animais que mostrem qualquer défice morfológico a este nível ( penas que  evidenciem excesso de largura, que é um importante factor limitanteda celeridade, e quanto mais largas pior, e em termos praticamente absolutos se tal se verificar no terço distal ).

A 2ª falange é a base óssea da inserção da 10ª remíge primária

A 10ª remíge primária tem por função principal a secção e deflexão da massa de ar e não a propulsão desta em sentido caudal, pelo que é sensilvelmente menos relevante que as precedentes  para a eficácia do vôo. Deve, em todo o caso, ser sensivelmente estreita de harmonia com as precedentes, demonstrando a experiência que há campeões que exibem a  10ª pena mais comprida, de igual comprimento e mais curta que a 9ª pelo que este facto, por si só, é irrelevante.

 

             O esqueleto, músculos, tendões e ligamentos sacro-caudais devem proporcionar toda a rigidez compatível com a indispensável mobilidade da cauda para outras funções biológicas, que não o vôo horizontal. Devem proporcionar uma forma em harmonioso estreitamento no sentido caudal. Excessos de mobilidade da cauda, que implicam menor estabilidade do leme durante o vôo horizontal, deixando acentuar a elevação – abaixamento do corpo relativamente ao plano horizontal,  em consequência do abaixamento elevação das asas, representam  por  isso  menor qualidade morfológica.

 

As rectrizes, cuja base óssea de inserção é o pigóstilo – última vértebra caudal – devem apresentar desenvolvimento e forma que proporcione o fácil deslize do ar em sentido caudal, sem que se produzam turbilhões que  provoquem depressões à rectaguarda, de que resultaria um efeito de travagem, retardador da celeridade do movimento. Devem integrar-se harmoniosamente  no conjunto, contribuindo para a melhor qualidade do equilíbrio dinâmico.  

 

As restantes partes do corpo do indivíduo, não activas no vôo - cabeça, pescoço, cintura pélvica e perna - serão observadas sempre, e só serão  tidas em conta, na medida em que, eventualmente, mostrem ser factores limitantes dos caracteres globais.      

 

 

                                                                                        7 - Critérios

 

            O objecto da avaliação é o corpo do pombo na sua totalidade e unidade.

            As notações só poderão ser atribuídas após observação total do indivíduo.

A nota do pombo expressa o diagnóstico da qualidade morfológica do indivíduo, segundo a tabela. Resulta da ponderação dos diversos méritos e  défices, ou limitantes, que puderam ser apreciados nas observações genérica,  analítica  e  sintética,  por esta ordem  efectuadas.  Não é, necessariamente, uma soma cega das partes.

 

            A nota  “excelente” – 1º nível de qualidade - ( 90 ou mais pontos ) - implica, com caracter obrigatório, que todas as apreciações o sejam

 

            A nota “muito bom” – 2º nível de qualidade - (entre 80 a 89  pontos) -  implica, com  caracter obrigatório, que todas as notações globais sejam  do nível de qualidade “muito bom” ou superior ; admite-se que uma, e só uma notação parcial seja do nível de qualidade                        próximo inferior, isto é, “bom”.

 

A nota “bom” – 3º nível de qualidade - ( entre 70 e 79  pontos ) -  implica, com caracter obrigatório, que todas as notações globais sejam do nível de qualidade “bom” ou superiores; admite-se que uma, e só uma, notação parcial seja de um nível de qualidade próximo inferior, isto é,” suficiente” 

 

A nota “suficiente” -  4º e último nível de qualidade aceitável em animais considerados de competição - ( entre 50 e 69 pontos ), caracteriza-se por ter notações maioritariamente“suficiente” ou superior; admitem-se duas notações de níveis de qualidade inferior, sempre que se julgue que essa  inferioridade é, relativamente, discreta, a ponto de não limitar completamente a capacidade do indivíduo  se classificar em concursos, tal como   o regulamento de Sport os define.

 

            A nota “insuficiente”- ( menos de 50 pontos ) - será atribuída  a todos os indivíduos que não possam ser incluídos nos níveis de qualidade atrás referidos.

 

             8 - Tabela

 

            Tem-se presente que, na tabela de Standard, o primeiro algarismo das notações, não significa dezenas.  (o  9 podia ser A, o 8 B, etc,  ou qualquer outra convenção ), mas níveis de qualidade ( 9 - excelente; 8 - muito bom; 7 - bom; 5 e 6 - suficiente; restantes – insuficiente ) O segundo algarismo  indica em que posição desse nível de qualidade se julga estar  o indivíduo; ao centro do nível corresponderá um 5; à maior qualidade desse nível corresponderá  9;  ao nível de qualidade  mínima  do nível atribuído, corresponde o 0.    

 

                        Expressão            Harmonia       Equilíbrio      Regº torácica     Asa e Plumagem         Nota do pombo

              

Excelente                     18 a 20      18 a 20                  18 a 20   18 a 20                     18 a 20                     90   a  100

Muito Bom       16 e 17      16 e 17                  16 e 17   16 e 17                     16 e 17                     80   a    89

Bom                 14 e 15      14 e 15                  14 e 15   14 e 15                     14 e 15                     70   a    79

Suficiente                     10 a 13      10 a 13                  10 a 13   10 a 13                     10 a 13                     50   a    69

Insuficiente        0  a  9        0  a  9                   0  a  9     0  a  9           0  a  9                        0   a    49

 

            No caso de julgamentos por júri  em que as notas do nível de qualidade não sejam unânimes :

a)       Prevalece a atribuída pela maioria dos juízes

b)      Não havendo maioria, a notação do júri será anulada competindo a um outro juíz, previamente designado, atribuí-la

c)       Validada a nota do nível de qualidade, os juízes que a atribuiram indicarão ,por consenso ou maioria, a posição dentro do nível ;  não sendo tal possível, este será determinado por um outro juíz, previamente nomeado para o efeito.

 

            Sempre que for necessário proceder a desempates de pombos com notações iguais são conferidas a um juíz , previamente nomeado para o efeito,  a competência e a autoridade para determinar a ordenação destes, acrescentando-se à notação um número de ordem  ( ex.: 90 - 1, 90 - 2,  etc )

 

 

Nota à margem sobre classificações 

 

No Sport, veja-se o caso do limite a 5000, actualmente em vigor, para o denominador do coeficiente : a  um 1º em  20000, coeficiente 0,05  atribui 0,2 que significa  um 1º em 5000;  no caso de um 100º em 20000  atribui 20, que significa  um 1º em  50,  em vez de  5, 1º em  200, o que, além de ser falso, introduz  um erro de tal modo grosseiro que põe em causa a verdade desportiva    e , consequentemente, a validade do resultado, o que não é aceitável ; a opção de pôr limites, apesar de implicar sempre algum erro, deveria ser a de atribuir limite ao coeficiente, e nunca ao numerador ou denominador do mesmo ;   assim, 0,2,  o limite mínimo actual,  significaria  1º em 5000 ou mais, e limitaria a distorção da pontuação de cada prestação a menos de  0,2.                 

 No Standard, atribui-se actualmente uma relevância a estruturas não propulsoras, como é o caso, por exemplo, de formas da cabeça normais e adequadas que se penalizam, da fúrcula posterior, cuja função é de sustentação, passiva, da musculatura abdominal, outras fantasias, erradas, nomeadamente sobre o equilíbrio dinâmico, que perverte e dissocia totalmente a notação da adequação do corpo ao vôo de competição ; toda a gente tem essa convicção firme e clara, sabe que daí resulta o alheamento , senão mesmo o desprezo, por manifesta inutilidade da informação que a nota dá, de mais de 90% dos columbófilos pela competição de Standard. Como a actual definição do Standard é correcta – caracteres corporais mais adequados ao vôo de velocidade e resistência -  verifica-se  que a  FCI  patrocina um  “golpe de estado inconstitucional”  contra  o estabelecido na definição, ao desrespeitar totalmente esta, no modo de julgar, tecnicamente absurdo, que põe em prática. Supor que é possível fazer somas ou médias de juízos como se estes fossem entidades físicas ou  matemáticas, por  um lado, e por outro fazer alterações subjectivas, nomeadamente limitações, dos termos de  um quociente entre dois números, , revela  uma  total falta de entendimento do significado, do valor real e dos limites de qualquer das classificações.           

A  FCI deveria ter o maior dos cuidados em assegurar a  verdade desportiva nas competições que promove o que implica um controlo fiável dos resultados apresentados e uma precisão técnica das classificações do mais elevado nível ;  doutro modo, o crédito destas perde-se , como já vai acontecendo, com prejuízo  da Columbofilia e de todos os desportistas honestos. 

 

  António S. Chitas Martins Novembro 2004